Capítulo 5

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Correu para o outro lado da embarcação sem os cuidados necessários, o grito de Denis lhe ecoando pelo pensamento. Por sorte, Mônica vinha atrás para fazer a devida proteção. Logo que avistou o alçapão aberto, seus olhos encontraram o que menos desejavam: um caminho de sangue por onde Leonel passava, sendo arrastado por dois militares. Denis estava ao canto, encolhido e chorando.

Com uma mistura de raiva e medo, atirou sem pensar duas vezes. O primeiro caiu sem ver que um tiro o acertou na nuca. O segundo ainda soltou Leonel e trouxe o fuzil para frente, sem que houvesse tempo para apertar o gatilho. A bala da pistola o acertou entre as sobrancelhas.

Aline não queria chorar pelo fato de ver o corpo do pai estirado, por isso manteve-se firme. Antes de tudo, precisava ter certeza do que acontecera com ele. Caiu de joelhos ao lado de Leonel e o virou de barriga para cima. Notou uma grande mancha de sangue na lateral do quadril dele e a respiração ofegante. Estava vivo por mais que mantivesse no rosto uma fisionomia de dor.

Quis tirar o pai dali, escondê-lo em algum lugar. Contudo, o tiroteio prosseguia, e ela teve certeza de que precisava continuar ali, ajudando os demais para que tudo acabasse o mais rápido possível.

— Você consegue andar, pai? — puxou-o para cima. Ele berrou de dor. Sequer conseguia se sentar.

— Eu te ajudo com ele — Mônica o pegou pelo outro braço, e ambas o arrastaram até que o encostassem na lateral do banco. — Fique aqui com ele, darei cobertura — e, dizendo isso, pegou o fuzil do soldado morto e saiu para ajudar os outros.

Mesmo com a proteção da amiga, ficou em alerta total. Gritou para que Denis se aproximasse dela. Assim que o menino correu até ela e a abraçou pela cintura, percebeu como ele tremia, assustado. A vontade era de consolá-lo, mas sequer havia tempo para isso. Apenas tirou os braços dele de si e o mandou se sentar ao lado do pai. Ao obedecê-la, Aline permaneceu parada diante deles com a arma pronta para o disparo. Iria protegê-los com a própria vida se fosse preciso. Não permitiria que o exército matasse mais membros de sua família.

***

Alexandre sentiu a pele do braço queimar quando uma bala o atingiu de raspão, porém sequer deu importância para o acontecido e saltou para o barco do exército, acertando um chute em um soldado ao aterrissar. Disparou contra aquele que atingiu e virou-se para os lados à procura de mais pessoas. Além dele e do mais novo defunto, não havia ninguém. Correu para a cabine de navegação, encontrando apenas aparelhos normais. Saiu de lá e viu umas mochilas amontoadas. Direcionou-se para lá e recolheu o armamento que encontrou. Sorriu vitorioso quando avistou explosivos.

— Eu precisava de você aqui comigo, Aline — disse para si mesmo ao pensar que seria arriscado demais fazer sozinho o que planejava.

Sem outra alternativa, apanhou uma mochila, na qual colocou a munição e o armamento, além dos explosivos, e a ajeitou nas costas. Na mão esquerda, ia uma bomba. Programou-a para eclodir em um minuto e, quando a numeração começou a diminuir, jogou-a no chão e saltou na água, nadando em direção ao barco rebelde.

***

O clarão pegou a todos de surpresa. Aline precisou se segurar para não desabar. A água se agitou e movimentou as embarcações. No fundo, ela queria fazer alguma coisa, correr até os amigos e os ajudar, mas não deixaria Leonel e Denis por nada desse mundo. Restou apenas torcer para que tudo desse certo.

Assustou-se quando Alexandre apareceu do nada e jogou para ela um explosivo.

— O barco atrás de você! — gritou e seguiu para outra direção.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora