Capítulo 20

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Naara dividia detalhes com os rejeitados como se falasse com aliados. Aquilo estava corroendo Aline por dentro. Como a líder podia ser tão imprudente? Por mais que não tivesse revelado o objetivo de toda a operação, contou para onde estavam indo e os problemas que enfrentaram até ali, como os cães e a chuva na floresta. Conversava principalmente com a mulher, porém dirigia-se a todos.

Tentava se convencer de que havia algo naquelas pessoas que desconhecia, alguma justificativa para Naara confiar nelas cegamente. Mesmo assim, foi inevitável sentir-se mal com tudo o que acontecia. E só piorou quando os rejeitados pediram que os seguissem.

— Vamos ver o que podemos fazer por vocês — comentou um dos homens, o mais baixo deles e de pele branca, indicando a direção que deveriam tomar.

Receosa, Aline continuou parada encarando as três pessoas vestidas de roupas simples e surradas, buscando em suas atitudes algo que revelasse perigo. Só que elas estavam serenas, como se nada de mais estivesse ocorrendo, como se o fato de terem encontrados rebeldes não as abalasse.

Catarina voltou a cutucá-la e lhe sussurrou "relaxa". Com isso, soltou o ar que percebeu prender e foi para dentro da casa ajudar Leonel e Denis. Percebeu olhares desconfiados dos amigos, que, assim como ela, estavam desconfortáveis com tudo aquilo.

— Vocês só precisam saber que os rejeitados estão, teoricamente, do nosso lado — disse Sandra para o grupo, principalmente para os ex-militares.

— Teoricamente? — a pergunta veio de Eric, que se aproximou de Sandra. — O que eles são exatamente?

— Conto no caminho — tocou-o no ombro. — Peguem suas coisas para que possamos partir. Não sei vocês, mas estou com muita fome — e sorriu.

Aline ajudou Leonel a levantar e perguntou se estava bem. Recebeu uma confirmação com a cabeça e uma careta quando ele deu o primeiro passo. Aline pediu que Ana averiguasse o machucado do pai, e ela disse que estava bem, tudo dentro do esperado.

Colocou a própria mochila nas costas e ajeitou a de Leonel nas costas dele, já que insistiu que estava bem o suficiente para carregá-la. Mancando, esforçando-se ao máximo para aparentar bem-estar, ele pegou Denis pela mão e começou a andar para fora da casa. Com um suspiro, ela acompanhava o caminhar do pai.

O dia amanhecera quente, sem nuvens. Ao passar pela porta, sendo a última a deixar a casa, pôde observar melhor os arredores de residências abandonadas dispostas uma ao lado da outra.

O grupo estava parado no que um dia fora uma calçada esperando pelos rejeitados, que os guiariam. O mais alto deles sorriu para Aline, que não retribuiu.

— Olhando bem pra você, vejo que é a Aline Lemos, não é? — ela não respondeu. — Não precisa desconfiar da gente, somos inofensivos. Meu nome é Jorge — deu-lhe as costas para fechar o portão.

— Como você sabe o meu nome?

— Os militares que nos vigiam mostraram uma foto sua. Avisaram que era para nós a prendermos caso viesse parar aqui — deu de ombros. — Até parece que vamos ajudar esse governo em alguma coisa. Quero mais que todos eles morram...

Mesmo com essas palavras, ele sorriu e puxou o portão para que fechasse; alegou que não poderiam deixar nada fora do normal, caso contrário os militares desconfiariam.

Pelo que parecia, aquelas pessoas não estavam inseridas no sistema, mas também não eram rebeldes. De onde vieram? Qual a relação delas com os militares? Sem conseguir pensar em uma resposta, resolveu fazer as perguntas que lhe rondavam a mente ao grupo que começava a se afastar da casa onde passaram a noite. Os três rejeitados trocaram olhares.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora