Capítulo 40

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Catarina e Eric conseguiram superar os militares de seu caminhão com mais dificuldade; ainda assim, ninguém estava ferido. Vestiram os trajes militares menos sujos de sangue e, depois de algumas horas, viram-se como os primeiros a chegar ao laboratório. A tensão crescia mais do que o comum em ambos, e as mãos de Catarina pressionavam o volante, tentando conter o próprio tremor.

Por causa das informações recolhidas sobre o laboratório, sabiam que a construção onde os testes aconteciam era circundada por um alto muro, e havia uma imensa faixa de terra do portão ao prédio. Por mais que tivessem visto inúmeras fotos do local, conforme se aproximavam, observavam as torres de vigia pela extensão do muro e toda a imensidão dele. Ela se perguntou se seriam realmente capazes de transpor aquele muro, se os rebeldes estavam preparados. Questionou-se também sobre o exército, que diminuíra as rondas nos últimos dias, fazendo com que decidissem invadir. A hipótese de ser uma armadilha lhe rondava a mente, e sabia que outros também pensavam assim. Mas concordava quando diziam que tinham de fazer algo, já que o governo os caçava.

Quando Catarina parou o caminhão diante da entrada, abaixou o vidro, que trouxe o vento da noite, carregado dos aromas da vegetação rasteira que dominava a região, e ergueu a vista para a guarita ali em cima, de onde um sujeito apontou o fuzil para eles. Pelo visto, só havia um guarda. Olhou para Eric, que também percebera. Ele mantinha na mão a arma com um silenciador acoplado, ao lado do corpo para escondê-la, e ainda encarava a torre no alto do muro.

O portão se abriu o suficiente para três militares devidamente armados passarem. Por causa do farol alto, eles estreitaram os olhos e fizeram sinal para que apagassem as luzes. Catarina fez o que pediram.

Um dos oficiais veio na direção do veículo e parou ao lado da motorista, observando-os de perto.

— Preciso que desçam para o caminhão ser revistado.

Com o coração enlouquecido, ela apertou mais o volante, tomando coragem para falar o que tinham planejado. Em sua melhor atuação, apoiou o cotovelo na porta, descontraída, e falou:

— Trazemos elementos químicos de emergência e algumas medicações, soldado. Devemos nos apressar e levá-los ao depósito por ordem do próprio general. Você não quer que isso estrague, não é? — manteve o tom firme.

O homem hesitou por um momento antes de fazer que sim com a cabeça, afastando-se. Catarina segurou-se para não sorrir ao se lembrar que um militar nunca deveria questionar a ordem de um superior. Eram todos pau-mandados mesmo. Por mais que já estivessem junto dos rebeldes, ainda conseguia ver um pouco daquele modo de agir nos ex-militares que passaram a conviver ao seu redor.

No momento em que o soldado se aproximou dos outros dois militares, falou algo a eles. Um deles, no entanto, enrugou as sobrancelhas, e nessa hora Catarina engoliu em seco e encarou Eric, que levantou um pouco o revólver, pronto para atacar caso necessário.

Os três militares viraram-se para o caminhão, e um deles indagou:

— Qual o nome de vocês?

— Segundo-tenente Tomás Vargas e a também segundo-tenente Bárbara Vargas — Eric respondeu sem titubear, colocando a cabeça para fora da janela.

Um silêncio desconfortável foi a resposta dos soldados.

— Acho que usar meu sobrenome não foi uma boa ideia — Catarina engatou a primeira.

— Se eu usasse o meu, já estaríamos mortos — Eric se segurou melhor, pois sabia o que ela faria.

O plano era entrar sem serem notados. Contudo, teriam de partir para o plano B.

Sequer esperou o primeiro som de arma sendo engatilhada, apenas pisou fundo no acelerador. Balas ricochetearam pelo caminhão, e o vidro dianteiro trincou, mas, antes que se partisse, o tiroteio foi cessado logo depois que atropelou os três soldados. Correndo contra o tempo, Eric colocou o corpo para fora, sentou-se na janela, apoiou os braços sobre o teto do caminhão e atirou no militar que estava na torre de vigilância. Um único tiro foi o suficiente para derrubá-lo.

Desceram correndo do veículo para averiguar os soldados no chão. Ao perceberem que ainda estavam conscientes, Eric se encarregou de eliminá-los. Após os disparos, que não tomaram o ambiente por causa do silenciador, eles se entreolharam e ficaram alguns segundos no silêncio.

Catarina olhou para o muro, sequer avistando a próxima guarita. Teriam pouco tempo para entrar sem serem notados. Com rapidez, arrastaram os corpos para longe do portão e os deixaram encostados no muro, num local encoberto pelas sombras.

Enquanto Eric se direcionava para o portão, Catarina voltou à posição de motorista. No entanto, sequer seguiu em frente, pois viu pelo retrovisor um caminhão se aproximar. Suspirou. Teriam de dar um jeito nele antes de entrarem. Voltou a descer e ali esperou, com a arma pronta ao lado do corpo, que se aproximassem. Quando os faróis piscaram, um vinco se formou na testa dela. Assim que o veículo parou, avistou com alívio Mônica e Heitor.

Virou-se para Eric e fez um sinal para que abrisse o portão. Ele obedeceu, e colocaram os dois caminhões para dentro das dependências do laboratório.

O local quieto demais causou arrepio em Catarina, porém procurou não pensar naquilo, apenas se encaminhou para perto de Mônica e Heitor quando eles saíram do veículo. Notou uma marca avermelhada no rosto da garota e que ele levava a mão à lateral do corpo com frequência. Fora isso, estavam bem.

Os caminhões foram estacionados ao lado do muro, usando a sombra dele para encobri-los momentaneamente. Não havia iluminação ali, só algumas luzes em volta do prédio, que estava a uma boa distância deles. Pelo caminho de terra, havia outros caminhões parados, mas não avistaram ninguém. Mais uma vez, o silêncio a incomodou.

Heitor se apressou e pegou o rádio para entrar em contato com Cristiane. Ao avisar que estavam além dos muros, ela informou que dentro de poucos minutos os rebeldes invadiriam o local. Ao questionar sobre Aline e Alexandre, ela respondeu que não tardariam a chegar.

— Ótimo — Eric comentou, conferindo a munição da arma. — Não nos preocupemos com Aline e Alexandre, eles são a dupla prodígio, não? De qualquer forma, não podemos esperá-los. As torres de vigia irão notar a movimentação de rebeldes, por isso precisamos silenciá-las o quanto antes.

Todos concordaram. Mesmo assim, Catarina ainda não estava confortável, sentia algo estranho. Com essa sensação latente, tocou Eric no braço e disse baixo:

— Está muito quieto por aqui, você não acha?

Antes que ele respondesse, holofotes se acenderam por todo o terreno. Um em específico foi direcionado a eles, cegando-os brevemente. Se isso já não bastasse, o alarme soou alto e estridente.

A invasão fora rapidamente percebida.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora