Capítulo 13

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Lavou o rosto mais de uma vez para se livrar das lágrimas teimosas e tentar melhorar a expressão inchada. Antes de sair do quarto, Aline sentou-se no sofá para respirar fundo, mas os olhos voltaram a marejar ao fazer isso. Droga! Esfregou-os com força. Por que simplesmente não podia lidar com a situação sem tanto sentimentalismo? Afinal, nunca amara Heitor.

Precisou de mais alguns minutos até ter certeza de que não choraria em público. Assim, depois de um longo suspiro, foi ao refeitório para o almoço. Conforme andava pelos corredores, o coração ganhava mais velocidade, e se perguntava como seria a relação com Heitor a partir dali. Recordou-se com dificuldade de como conviviam antes do namoro, só que parecia algo tão distante que mal se lembrava. Acostumou-se com a presença dele como namorado.

Chegou ao refeitório ainda meio tonta e com os olhos ardendo. Acreditou que o dia seria ruim, que nada fosse melhorá-lo. Porém viu Leonel de longe, sentado em uma mesa na companhia de Denis. Na mesma hora, sorriu e correu até o pai, abraçando-o apertado.

— Achei que você só fosse sair mais tarde — acomodou-se ao lado dele.

— Eu também, mas a médica me liberou — deu de ombros, o sorriso se desfazendo. — Já me contaram que você vai sair do acampamento — contraiu os lábios em claro desagrado. — Por que, Aline?

Mexeu-se no banco de forma desconfortável. A felicidade adquirida com a presença do pai começou a diminuir. Apoiou os cotovelos sobre a mesa e contou a ele tudo o que tinha acontecido depois que o visitou. Frisou o fato de precisar fazer algo, lutar pelo país.

— Não quero a minha família separada — ele comentou. — Então vou junto.

— Quê?! — sobressaltou-se. — Lógico que não. Você precisa ficar com o Denis.

— Vocês só irão daqui até o outro acampamento, certo? — ela fez que sim. — Então não vejo motivo para que Denis e eu não possamos ir — Aline tomou ar para responder, mas ele a interrompeu. — Ficaremos nesse outro acampamento — concluiu.

— Pai, e se acontecer alguma coisa durante o trajeto? — chegou mais perto dele. — Denis é só uma criança e você não tem preparo. Acho melhor ficarem aqui mesmo.

— Você também não passa de uma criança — bufou. — E eu sou o responsável por essa família. As decisões são minhas — levantou-se. — Vou dar um jeito de ir e pronto.

Indignada com a teimosia dele e boquiaberta, viu-o andar em direção a Naara e Etama, sentadas mesas depois. Ele se acomodou ao lado de Naara e puxou assunto. Por mais que não ouvisse a conversa, a líder lhe dava toda a atenção necessária.

— Antes de você chegar, o papai já tinha falado que a gente ia — contou Denis.

— Ele é mais teimoso do que eu imaginava.

— Você parece com ele — Denis riu, o que a fez estreitar os olhos.

— Ah é? — deu a volta na mesa só para lhe fazer algumas cócegas. Depois o abraçou e o beijou na testa. — E você tem a doçura da mamãe.

Ele sorriu orgulhoso, e percebeu que tocar no assunto Isabel não lhe trouxe lágrimas. Ficou feliz ao ver a reação do irmão. Aos poucos, a ferida estava se curando.

Saiu de onde estava para se servir do almoço e viu Heitor, Alexandre, Mônica e Catarina em uma mesa mais ao canto. Evitou olhar para lá, pois ainda temia as reações que pudesse vir a ter. Logo que se sentou de frente para Denis, Etama pediu a atenção de todos. Com o silêncio que se formou no local, ela avisou que Carlos e Rebeca ficariam responsáveis pela gestão do acampamento na ausência delas. Como os dois estavam ao lado de Etama, pôde observá-los. A líder ainda reforçou o alerta vermelho, explicando a respeito do toque de recolher e da pílula da morte.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora