Capítulo 6

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Os primeiros raios de sol a despertaram, até porque, por uma fresta, a luz vinha direto no rosto de Aline. Como dormiu sentada, esticou um pouco o corpo e tirou os braços de Denis de sua volta. Acomodou o irmão deitado e se levantou, espreguiçando-se devidamente. Leonel também dormia, como todos ali, por isso deu passos vagarosos para não os acordar. Observando o local, logo percebeu que apenas Alexandre não se encontrava ali. Ítalo também não, mas este estava guiando a embarcação.

No entanto, parou quando uma cena lhe chamou a atenção: Catarina estava com a cabeça no ombro de Heitor. Ambos dormiam, e ele estava levemente inclinado sobre ela. Viu-se no lugar dela, onde deveria estar. Sentiu algo pela primeira vez: ciúmes. Com o sentimento se aflorando cada vez mais dentro de si, andou até o namorado, já sem a preocupação de antes com o barulho. Chamou-o baixinho e o balançou. Ele a olhou sonolento e esfregou o rosto. Aline já tinha cruzado os braços e batia incessantemente o pé no chão.

Heitor ainda demorou alguns segundos para perceber Catarina ao lado dele e a pose inquisitória da namorada. Mas assim que arqueou as sobrancelhas, ela teve certeza de que entendera. Sem esperar por outra reação dele, saiu de lá pisando duro e andou sem destino. Odiou ainda mais aquele sentimento ao perceber que ele a deixou sem sentidos. Por causa disso, acabou trombando com Alexandre, e os dois quase foram parar no chão. Na mesma hora, xingou-o.

— Calma lá! — ele ergueu as mãos. — Não fiz nada para você estar irritada comigo já cedo.

— Cala a boca! — passou por ele, mas foi segurada pelo braço.

— Ei, o que aconteceu?

— Nada! — elevou o tom de voz. — Você pode simplesmente me deixar em paz? Não precisa perguntar o que aconteceu a cada minuto!

— Você quem manda — deu de ombros e a soltou. — Mas posso dizer uma coisa antes? — como ela ficou quieta, ele continuou. — Ainda bem que o seu cabelo voltou ao normal com a água — esticou a mão para tocá-la, mas se conteve antes de lhe alcançar o rosto. Enfiou-a no bolso e deu um passo para trás. — Você fica muito mais bonita assim — sorriu e se afastou.

Aline ficou sem reação por causa do elogio repentino. Após alguns segundos, tocou as madeixas cacheadas e se deu conta de que realmente tinham voltado ao normal. Alarmou-se na hora e correu para ver o reflexo no vidro da cabine, que a mostrou de cabelos volumosos, com os cachos lhe caindo pelos ombros e pelas costas. Não usava mais o boné, sequer se lembrava em que momento o perdera. Respirou aliviada e no fundo sentiu vontade de sorrir por causa do elogio.

— Acordou cedo — Ítalo se aproximou. Parecia cansado, visto que foi o único a não dormir. — Já estamos chegando, acho bom você acordar o pessoal.

Seguiu as orientações dele e voltou ao compartimento de carga. Avisou em voz alta que estavam chegando, o que os despertou. Chamou pelo pai e o ajudou a se sentar assim que acordou. Ele fez careta e reclamou de dor. Realmente o ferimento estava horrível. E, ainda por cima, Leonel tremia de frio.

— O que você está sentindo, pai? — ajoelhou-se ao lado dele.

— Muito frio — batia os dentes e passava as mãos pelos braços.

Sem entender de onde vinha o frio que o pai sentia, apenas enrugou a testa. Não estava tão frio assim.

— Isso é febre — Catarina parou ao lado de Aline. — Quantos anos você tem, Leonel?

— Fiz trinta e quatro há duas semanas — batia os dentes.

— Entendo — colocou a mão sobre a testa dele.

— Entende o quê? — Aline a encarou esperando por respostas. — O que é isso de febre?

— Seu pai entrou no último ano do efeito da vacina, o que pode torná-la mais fraca — explicou calmamente. — E alguns traumas que o corpo sofre pode fazer com que o efeito dela vá embora — vasculhou a mochila de Leonel e pegou um moletom. Estendeu para ele, que o colocou por cima do outro com a ajuda delas. — E aposto que aquela faca que você usou para tirar a bala dele estava cheia de bactérias. Olhe — indicou o ferimento. — Está vendo esse amarelado? É pus. O machucado está infeccionado, e a febre, que é um aumento da temperatura corporal, está lutando contra isso.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora