Capítulo 30

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Havia um burburinho incomum no Complexo Militar de São Paulo. Todos os oficiais, até os que estavam de folga, foram convocados. Pelo que percebia, Tatiana não fora a única a ser chamada em caráter de emergência, via a expressão apressada em todos os envolvidos conforme se dirigiam ao local designado.

Geralmente, os anúncios eram realizados no salão do prédio principal, com a general na escada. Mas, naquele dia, estavam sendo encaminhados para um enorme galpão sem janelas, iluminado exclusivamente por energia elétrica. Se há poucos instantes não estivesse a céu aberto, sequer poderia afirmar com certeza se era dia ou noite.

Mesmo sendo um local grande, nunca o vira tão cheio, e os militares não paravam de chegar, enfileirando-se diante do palco, do outro lado do galpão. Parou um pouco distante dele, porém perto o suficiente para enxergar com perfeição quando a general aparecesse. No momento em que o celular vibrou, colocou a mão sobre o aparelho, que estava no bolso. Quis ver o que era, mas hesitou e depois desistiu. Estava no meio do exército. Se tanto ela quanto os demais infiltrados que se encontravam ali tivessem visto a mensagem mandada pelos rebeldes, talvez pudessem ter fugido. Talvez.

O palco continuou vazio por vários minutos enquanto todos se ajeitavam ali, o que foi criando certa ansiedade nela. Inúmeras possibilidades lhe percorreram a mente, dentre elas o fato de terem descoberto tudo. Qual outro motivo levaria a general a convocá-los daquela forma? Procurava com o olhar os infiltrados, e eles lhe devolviam o gesto tão no escuro quanto ela. Até mesmo os cidadãos comuns não pareciam saber o que aconteceria.

Respirou fundo mais de uma vez para controlar os nervos. Por mais que tudo aquilo fosse algo incomum, convenceu-se de que coisas assim poderiam vir a acontecer com frequência, afinal viviam fora do comum há semanas. A chegada da droga da verdade só acentuou isso.

O burburinho foi se extinguindo rapidamente conforme a general Samara subia no palco. Parou ao centro dele a ajeitou o microfone preso à orelha e que ia até a boca. Quando o silêncio absoluto tomou conta do recinto, ela começou a falar:

— Fico feliz de ver que todos estão presentes. Sei bem que muitos de vocês estavam de folga hoje, mas as circunstâncias requerem a presença de todos.

Tatiana engoliu em seco. Seja lá o que fosse anunciado, sentia que não seria nem um pouco bom para os rebeldes.

— Primeiramente, gostaria de lembrá-los do orgulho que é fazer parte de uma nação tão estável quanto a nossa — continuou a general. — O estado de São Paulo sempre foi pioneiro em relação às conquistas do nosso governo vigente. Nunca nos rebaixamos a qualquer forma de projeto que pudesse nos ferir moralmente ou nos desviar do nosso foco: se desenvolver ao máximo. Foi graças ao apoio de cidadãos de bem que o atual modelo de governo, sob o auxílio militar, foi instaurado.

Aquilo deu náuseas à primeiro-tenente, pois era do seu conhecimento o quanto o estado onde nascera apoiou cada mudança que os levou àquela situação de vida. Entretanto, não sabia que militares de alta patente entendiam de história, tampouco se fazia sentido ilustrá-la a uma plateia a qual, em tese, não possuía percepção de passado. Acima de tudo, perguntava-se qual era o objetivo daquela reunião.

A general prosseguiu:

— É o nosso dever zelar pela segurança da população. Por isso, nossa luta contra os rebeldes, que buscam destruir a paz, não termina. Gastamos recursos, que deveriam ser usados em prol das pessoas, para combater essa ameaça. Investigamos, interrogamos, perdemos gente, tudo para manter a paz, a tranquilidade para que os pais possam criar seus filhos — fez uma pausa, passando os olhos pelo ambiente. — E foi por meio de uma investigação minuciosa que descobrimos um grupo deles infiltrado no Complexo. Assim sendo, a ação será rápida — virou-se para o lado, esperando que outras pessoas subissem no palco.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora