Capítulo 31

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O caminhão chacoalhava e, ao passar por um buraco, Aline acordou. Estava dormindo de qualquer jeito ao lado de Denis, que apoiava a cabeça no colo dela e sequer parecia se importar com o balançar do veículo. Acariciou os cachinhos dele antes de movê-lo para o lado, ajeitando-o sobre Leonel, que mantinha os olhos fechados, mas estava acordado. Levantou-se e viu que a maioria das pessoas ali estavam despertas. Andou até a parte de trás do caminhão e olhou para fora pelas frestas. O sol já começava a descer, indicando que já passara do meio-dia. Como ficara acordada à noite para ajudar na vigia, ainda não se sentia totalmente descansada, só que tinha em mente que não poderia dormir mais. Precisava estar atenta. O caminhão chacoalhou de novo por causa do asfalto em péssimas condições, e teve de se segurar. Suspirou. Pelo menos estavam se aproximando do destino: Foz do Iguaçu.

Após o ocorrido na vila dos rejeitados, conseguiram arrancar algumas informações dos militares. Com isso, descobriram que as vilas seriam fiscalizadas pelo exército com mais frequência justamente por causa do sumiço dos rebeldes. Queriam encontrá-los de qualquer forma.

Com o exército os caçando, chegaram à conclusão de que precisavam chegar ao acampamento na região central do país o quanto antes. Por isso, perderam mais algumas horas ali para retirar o rastreador do caminhão, deixando-o na vila. Após se despedirem dos rejeitados, ajeitaram os militares capturados dentro do veículo e partiram para Foz do Iguaçu. Ganhariam bastante tempo.

Mesmo assim, evitavam as rodovias federais, que estavam sendo monitoradas, e paravam com frequência para analisar os arredores e olhar um mapa que Etama trouxera. O rádio que seria usado para se comunicarem com os demais rebeldes já não funcionava mais, e Levi constatou, frustrado, que o tinham perdido na chuva antes de chegarem à vila apesar de todos os cuidados para que aquilo não acontecesse.

— Pensativa?

Virou-se já sabendo quem era. Alexandre sorriu de canto e lhe deu um selinho, encostando a testa na dela após o carinho. Agarrou-se à camiseta dele, aproveitando-se do contato físico o máximo que conseguiu, já que Leonel fizera questão de mostrar a desaprovação por eles terem fugido da vila para ficarem sozinhos. Por causa disso, deixou claro que ficaria de olho nos dois, o que inibia a aproximação de ambos.

— Só olhando a estrada — afastou-se dele para indicar que se sentasse ao lado dela, encostados na porta do compartimento de carga. — E você? — tocou-o na testa e logo se acomodaram, pois percebeu uma expressão mais séria do que o normal. — Preocupado?

— Estou com uma sensação ruim — suspirou e abaixou a cabeça, ficando assim por alguns segundos. Ao voltar a encará-la, pegou-lhe a mão e a colocou sobre o próprio peito. — É um aperto aqui dentro. Já sentiu isso antes?

Sem a certeza de se já sentira ou não, apenas negou, segurando a mão dele entre as dela.

— Tenta não pensar em coisas ruins — entrelaçou os dedos nos dele. — Só podemos torcer para que tudo dê certo a partir de agora.

— Sim, só que não estou conseguindo pensar em coisas boas — engoliu em seco e travou o maxilar. Soltou o ar que prendeu e apoiou a cabeça no ombro dela. — Mas a sua presença está conseguindo me acalmar um pouco.

Aline sorriu e o acariciou nos cabelos. Ficaram em silêncio depois disso, apenas observando o ambiente em volta, as pessoas conversarem baixinho e o chacoalhar do caminhão. Os militares capturados estavam amarrados e amordaçados, e via a falta de esperança na expressão deles. Por mais que os rebeldes tivessem pensado em uma solução, não decidiram o que fariam com eles quando chegassem ao destino.

Quando Alexandre endireitou a postura, soube que diria algo. Ele a tocou no queixo.

— Você acha que somos novos demais para amarmos outra pessoa?

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora