Capítulo 25

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Gritos de ordem chegaram até os rebeldes escondidos dentro do galpão. Os militares mandavam que todos os rejeitados se reunissem no centro da vila. Com o coração batendo acelerado, Naara deu vários passos para trás encarando a porta fechada. Etama, à frente da irmã, tinha a arma pronta para o disparo caso necessário. Ao lado dela, Mônica e Heitor faziam o mesmo.

Naara fechou os olhos e respirou fundo, tensa. Precisava pensar, agir de alguma forma. Se não fizessem nada, seriam encontrados mais cedo ou mais tarde. Alguém a pegando pelo braço a fez cortar a linha de raciocínio. Leonel a olhava com a preocupação estampada no rosto e perguntou de Aline. Ela apenas tensionou o maxilar, sem saber o que responder, e lhe tocou na mão.

— Torça para que ela esteja bem — foi só isso que conseguiu dizer antes de se afastar dele.

Percorreu o ambiente de chão de terra batida e averiguou o que havia ali que pudesse ajudá-los de alguma forma. Parou a vista sobre algumas caixas de madeira e apontou para elas, pedindo ajuda aos demais para empilhá-las embaixo de uma janela.

Todos se moveram, seguindo as orientações da líder, e empilharam o mais rápido que conseguiram. Depois de tudo pronto, Naara subiu nas caixas até alcançar a janela. Com cuidado, observou lá fora pelo vidro quebrado e viu o mesmo caminhão militar de antes parado perto do tronco de castigo e dos vestígios da fogueira da noite anterior. Por causa da distância, era difícil dizer com perfeição o que acontecia. Ao reclamar disso, Ítalo surgiu com uma luneta, que entregou a ela. Assim, pôde enxergar melhor. Os rejeitados se enfileiravam de frente para o grupo de quatro militares, duas mulheres e dois homens. Um dos oficiais portava um chicote enrolado à mão e andava ao redor das cinzas.

— Ei, Naara. O que está acontecendo? — parada o mais próximo possível da irmã, Etama perguntou em baixo tom.

Foi narrando conforme as coisas aconteciam. Como não escutava o que diziam, supôs, pela postura dos militares, que questionavam a respeito da fogueira, dos ossos que ali ficaram das peças de carne que assaram. As respostas que receberam não devem ter sido satisfatórias, pois um rejeitado foi pego pelo pescoço e arremessado sobre as cinzas. Naara fechou os olhos e engoliu em seco.

— Não gosto de me sentir inútil. Nós fizemos uma promessa! — Etama bufava. — Eles estão pagando por algo que nós causamos!

— Ninguém imaginava que os militares fossem aparecer hoje. Temos de ser cautelosos — olhou para a irmã.

— Vamos atacá-los! Não sabem que estamos aqui.

Com um suspiro, refletia acerca das palavras dela. Mesmo com o esforço para se concentrar naquilo, a mente se distraía por causa do sumiço de Aline e Alexandre, ainda mais por Eric e Catarina terem ido atrás deles. De uma hora para a outra, perdera os três candidatos a líder rebelde, aqueles que ocupariam seus lugares caso algo acontecesse com ela ou Etama. Aline e Alexandre eram valiosos demais para o exército, qualquer militar faria de tudo para capturá-los. Por que não se precaveu daquilo antes? Deveria ter tomado mais cuidado com a segurança de ambos.

Massageou as têmporas. Se preocupar com eles não a levaria a lugar algum. Precisava dar um jeito na situação na qual estavam. Era a líder, a melhor pessoa ali para resolver os problemas.

— Além desses quatro, há mais dois na floresta. Antes de agirmos, precisamos ter certeza de que eles não têm reforços — dizia olhando para a irmã, que assentia. — Vamos esperar um pouco. Enquanto isso, confira se temos munição suficiente. Ficarei atenta a cada movimento deles.

Etama concordou e se afastou. Naara continuou relatando o que acontecia do lado de fora. Quando o militar com o chicote começou a gritar xingamentos aos rejeitados, todos se referindo a sexualidade deles, ela travou o maxilar. Sem desgrudar os olhos dos oficiais, só foi capaz de torcer para que Etama não estivesse escutando.

País Corrompido [completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora