Foi acordada por Denis, que reclamava de fome. Sentou-se na cama um pouco atordoada, sem a noção exata de onde estava. Demorou mais alguns segundos para se lembrar. Após a higiene matinal, foi com o irmão ao refeitório para tomarem o café da manhã. Como estavam em uma mesa sozinhos, um menino de cerca de oito anos se aproximou, querendo saber de onde Denis tinha vindo.
Iniciaram uma conversa, e Aline prestou atenção, sorrindo com a facilidade do irmão de se enturmar. Quando o garoto perguntou se Denis participaria das aulas da manhã, ele olhou para a irmã, que deu de ombros. Não sabia nada sobre aquilo.
— Vá com ele — sugeriu, e Denis abriu um largo sorriso.
Ele terminou de comer o mais rápido que pôde e seguiu o novo amigo para fora do refeitório. Aline ficou ali com as frutas no prato e o meio pão lhe fazendo companhia, mas contente pelo irmão estar se relacionando com outras crianças.
De cabeça baixa, mexia no prato com o garfo quando uma sombra se formou sobre si. Ergueu os olhos para ver Alexandre parado ali. Ao perguntar se poderia se sentar com ela, fez que sim com um aceno.
Continuou comendo em silêncio, e ele fez o mesmo. Tentava não se abalar com presença dele, algo que cada vez mais se mostrava impossível. Novamente se permitiu pensar no que sentia por Alexandre. Quando o encarou, seus olhos se cruzaram, e ele desviou a vista.
— Nossa relação é estranha — deixou que o pensamento tomasse voz.
Ele sorriu de canto e inclinou a cabeça para o lado como se concordasse.
— Poderia ser pior — ele deu de ombros.
— Pior como?
— Eu poderia ainda estar no exército e ter de caçar você, o que, convenhamos, não seria legal para nenhum dos dois.
— Você nunca me pegaria — debruçou-se sobre a mesa, chegando mais perto dele.
— Eu não teria toda essa certeza — pegou um pedaço de fruta com o garfo e colocou na boca. — Sou muito bom no que faço.
— Convencido — fez cara de nojo.
— Você é mais.
O silêncio pairou sobre eles até começarem a rir. Com os cotovelos apoiados na mesa, Aline cobria a boca para abafar o som, já que algumas pessoas olharam para eles. Lágrimas lhe tomavam os olhos. Alexandre já estava vermelho e tinha o rosto afundado no próprio braço. Uma voz na mente dela repetia que nada fora tão engraçado para reagirem daquela forma. Mesmo assim, não conseguiam parar de rir.
Aos poucos, foram se acalmando; a risada dava lugar a sorrisos, e eles voltavam a se encarar. Analisou-o atentamente enquanto comia mais um pedaço de fruta. O que tanto a atraía nele? Alexandre era muito bonito, algo incontestável, mas não era aquilo. Havia outra coisa, algo a mais. Estreitou os olhos ainda o mantendo no campo de visão, como se olhá-lo assim fosse capaz de revelar a ela o que ele tinha de mais.
Não deu continuidade à análise do que sentia em relação a ele, pois Catarina entrou no refeitório na companha de Heitor e Mônica. Na mesma hora, mudou a própria postura, deixando-a mais séria. No fundo, repreendeu-se por ter tido aquela intimidade com Alexandre. Sentiu-se culpada. Afinal, namorava o Heitor.
Logo depois que eles se serviram, acomodaram-se na mesa também. Aline indicou o lugar ao lado para o namorado. Assim que Heitor se ajeitou no banco, sorriu para ele e o beijou em cumprimento, perguntando se dormira bem. A resposta monossilábica veio sem muita emoção. Percebeu quando ele ainda olhou para Alexandre antes de começar a comer. Por causa da reação dele, ficou quieta. Era capaz de captar algo errado, só não sabia o que exatamente.
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País Corrompido [completo]
Science FictionLIVRO 2 *antes de começar a leitura deste livro, certifique-se de que leu País Imerso, livro 1 da trilogia* Sinopse: Escondida, esperando os ânimos se acalmarem e os corpos se curarem, Aline verá o exército os caçando. Por mais que tenha medo de per...