A lua brilhava crescente no céu estrelado, mas nada que diminuísse a escuridão, que seria necessária para o fator surpresa quando fossem atacar o caminhão do exército na próxima noite, um momento decisivo para o plano. Além de Aline e Alexandre manterem nos coldres dois revólveres e uma faca no cinto, com munição nas mochilas, levavam o rádio que Cristiane lhes dera e um localizador, que ajudaria no trajeto pelo meio da vegetação.
Vamos tomar aquele lugar. A frase reverberava na mente dela enquanto caminhava com Alexandre por entre o mato ora alto, ora rasteiro, sempre observando o localizador. Assim que estivessem chegando ao local que Heitor marcara para eles, iriam se encaminhar para perto da estrada.
Depois de descobrirem que caminhões de várias regiões do país se encaminhavam para o laboratório, alguns rebeldes se reuniram para fazer as devidas contas. Sabendo que o veículo partia de um determinado lugar em determinada data e horário, calcularam o tempo que ele demoraria para percorrer o caminho até o laboratório. Com isso, as três duplas foram direcionadas para os locais onde encontrariam com esses caminhões. Como estariam a pé, teriam de andar por muitas horas em direção à estrada por onde os caminhões passariam. Ao chegarem ao local delimitado, montariam o cerco.
Com a ajuda de lanternas, caminharam em silêncio por horas, com o suor escorrendo pelo rosto e pelas costas, já que o vento não era suficiente para refrescar e as roupas que mantinham a discrição em nada ajudavam nisso. Por volta da meia-noite, o relógio que ia ao pulso de Alexandre apitou, fazendo-os parar para a próxima dose de drogas. Sentaram-se encostados em árvores de tronco estreito e ingeriram os compridos com a ajuda de água. Respiraram fundo e ali permaneceram para esfriar o corpo. Felizmente, graças ao medicamento, não sentiam sede, sono ou cansaço, mas sabiam que precisavam descansar o corpo vez ou outra e se alimentar.
Só nesse momento, conversaram um pouco, principalmente sobre como o outro se sentia. Ele a tocou no rosto de forma carinhosa e a beijou na bochecha e depois na boca. Contudo, ela não tinha cabeça para aquilo, estava preocupada demais, por isso se afastou. Como se compreendesse o que a namorada sentia, Alexandre comentou:
— Vai dar tudo certo, nós vamos conseguir.
— Eu queria ter essa certeza... — suspirou com pesar. — Desculpa pelo meu pessimismo, só estou estressada.
— Tudo bem — ameaçou tocá-la novamente, mas recuou a mão antes de chegar nela. — Não tenho certeza de nada, mas confio em nós, na causa rebelde. Eu confio em você, a única pessoa que me restou.
Alexandre engoliu em seco, estreitou os lábios e virou o rosto, sem ver como afetara Aline. Ele está sozinho... Tentando se livrar do peso da responsabilidade, tanto da missão quanto da que ele lhe colocava, acariciou os cabelos dele e o beijou. Sussurrou um "acredito em nós" e se levantou para que continuassem a andar.
Entendia como Alexandre deveria estar se sentindo, agarrando-se à presença dela como meio de continuar acreditando em algo; ter alguém próximo, alguém para voltar. Só que estar naquela posição começou a assustá-la. Queria ficar com ele, o que era uma certeza, mas temia não estar ali quando ele precisasse, não ser capaz de acolhê-lo ou de até ser acolhida depois de passarem por tanta coisa. O que seria deles depois de tantos traumas? Temia também a morte, que poderia levá-lo, assim como fez com Isabel e Giovana. Uma guerra começaria, e eles eram frágeis, pereciam com facilidade.
A próxima parada foi realizada por volta das seis horas da manhã, pois teriam de voltar a tomar os medicamentos. Com o sol já nascendo e clareando tudo ao redor, Aline sentou-se sobre as pernas e ingeriu os compridos. Não sabia se era impressão sua, mas sentia o corpo diferente, era como se estivesse reagindo fora do normal por causa das drogas. Os batimentos cardíacos estavam acelerados, e uma sensação estranha a percorria. No fundo, até que gostou dela, parecia uma forma de adrenalina. Ao se virar para Alexandre, percebeu que as pupilas dele estavam dilatadas e que respirava rapidamente. Com certeza sofriam os efeitos colaterais, diferentes de quando usaram as drogas pela primeira vez.
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País Corrompido [completo]
FantascienzaLIVRO 2 *antes de começar a leitura deste livro, certifique-se de que leu País Imerso, livro 1 da trilogia* Sinopse: Escondida, esperando os ânimos se acalmarem e os corpos se curarem, Aline verá o exército os caçando. Por mais que tenha medo de per...