capítulo 6

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Ana narrando

Alguns dias antes

- pode contar, não tenha medo. - Maurício disse calmo como sempre.

Estamos quase terminando as sessões de terapia, seja forte Ana..

Quando fui fazer a inscrição na universidade, passei por vários testes, mas eles ficaram confusos com o resultado da ala psiquiátrica, então falaram que eu só ia entrar na universidade quando eu falasse o meu problema, segundo eles, eu não estava bem e enquanto não descobrissem o porquê, eu não entraria.

Fizemos várias sessões, mas eu me recusei a contar o meu problema, afinal de conta, nunca me afetou, eles estão errados! Eu não tenho nenhum tipo de problema psicológico!

Me senti encurralada quando eles disseram que se eu não contasse, não teria mais lugar aqui, decidi contar porque eles alegaram que seriam totalmente confidenciais.

Um dia eu também serei psicóloga, serei a melhor, mas para isso preciso entrar na universidade!

- quando meus pais eram jovens se apaixonaram de imediato e viveram felizes para sempre, fim. - falei olhando para a parede.

- já falamos sobre isso.. - Maurício falou apontando algo no caderno.

Eu ainda não estou pronta.

- você pode parar quando quiser - ele riu simpático.

- os meus avós não aceitavam o relacionamento deles e aí eles me engravidaram acidentalmente - ri sem graça - e adivinha se isso sobrou para quem? - falei com um largo sorriso - isso mesmo, para mim! - meu sorriso baixou e ele maneiou a cabeça em negativa.

- por essa razão eles foram expulsos e abandonados pelas próprias famílias, o único problema é que eles mentalizaram que tudo isso é por minha culpa, eles não me suportam! Controlam tudo o que faço para poderem me falar que escolheram abandonar a família para me nascer , mas não foi isso que aconteceu. - falei evitando as lágrimas que estavam por vir.

- respira fundo - ele falou fazendo gestos - isso mesmo - ele falou assim que repeti todos os passos.

- eles só não me abortaram por falta de tempo. Eu já estava grande demais para ser abortada, como eu sei? Teve uma noite que eles contaram tudo isso nos amigos que tinham feito e eu ouvi tudo, não fiquei admirada com nenhuma coisa que eles revelaram, mas os amigos deles tinham me visto escondida, naquele tempo eu tinha uns 11 anos, vi um deles pedir licença direcionando-se no meu esconderijo e eu sabia que ia dar merda - falei passando a costa da mão no nariz.

- tome - ele me entregou um lenço mas eu recusei.

Flashback...

- o que está fazendo aqui ouvindo conversas de adultos? - o homem perguntou calmo, e eu já imaginei cenários onde os meus pais nos encontram.

- o senhor vai me denunciar? - perguntei já triste.

- Não, eu não vou, e se você ouviu tudo, olha. Era tudo uma brincadeira de seus pais. - ele riu tentando me convencer que tudo o que eu ouvi era uma brincadeira, quem me dera que fosse.

- eu sei que não é brincadeira mas também estou bem, não se preocupe senhor, eu já sabia . Só confirmei - estava calma.

- quer um conselho? Estude imenso para poder sair daqui. Existe uma universidade muito boa, você dormirá lá e só verá seus pais aos fins de semanas.

- sério? - eu havia amado a ideia.

- sim meu anjo - ele deu um sorriso lindo, muito lindo, ele sim é um anjo..

- como o senhor se chama? E porquê é amigo de meus pais?

- eu chamo-me Bernardo Arkerman, infelizmente não sou Amigo de seus pais. Eu sou um explorador geográfico e seus pais são donos de algumas áreas que eu quero explorar, eu e a minha esposa Marta viemos em uma visita amigável para pedir permissão pessoalmente, e ao longo da conversa eles foram contando coisas, o porquê de já não serem donos de nada que leve seus sobrenomes, eles contaram porquê os expulsaram da família e porquê não tiveram tempo de organizar as coisas, mas que apesar de tudo eles amam você meu anjo.

- eles não me amam - eu ri sem graça..

- amam sim, eles poderiam ter te posto em um orfanato mas preferiram cuidar de você, pensa nisso.

O senhor Bernardo voltou onde estava e eles continuaram com a conversa até que ficou tarde e eles foram, eu vi um pingo de esperança através do senhor Bernardo e pela primeira vez eu estava feliz.

O senhor Bernardo vinha aqui quase sempre, ele e a esposa dele conversavam sempre comigo e isso me fez crescer equilibrada e menos perturbada, quando eu tinha 16 anos o senhor Bernardo não aparecia mais e depois de 1 ano, eu já estava muito preocupada..

recebi a noticia de meus pais que o senhor Bernardo estava desaparecido desde os meus 16 anos e que depois  do ocorrido a família dele havia viajado para relaxar os nervos causados pela perda, eu fiquei destroçada e apenas naquele momento eu prestei atenção na palavra que ele usou ‘família'

- mas pai, não seria apenas a senhora Marta viajando?

- eles têm um filho, vá fazer coisas de menina e desaparece da minha frente - eles têm um filho? de que idade será? Ignorei a última parte porque oiço  todos os dias e já não é surpresa. É só ele sendo ele, ri.

- o quê está rindo Ana? - ele perguntou confuso.

- pai de que idade é o filho do senhor Bernardo com a senhora Marta?

- eu já disse para você milhares de vezes e vou repetir. Antes de perguntar alguma coisa pensa se é da tua conta Ana! E eu mandei você desaparecer não? - ele já está na fase 3, é melhor eu parar

- Fase três? - Maurício me interrompeu.

- eu criei 4 fases de acordo a raiva dele, depois da terceira fase nunca vem boa coisa, pode não me interromper de novo? - perguntei nervosa.

- ah, claro - ele pegou novamente a caneta.

Espero que revelar tudo isso vale a pena.

Ah, estou tão cansada de você pai, muito farta!  já que eles nem se importam vou aproveitar a deixa para ir visitar o Carlos, estamos juntos á 1 mês e estou muito feliz com ele.

- pai, posso ir visitar o Carlos? - perguntei arrumando o cabelo.

- qual Carlos?

- Ham, eu nunca contei, é o meu namorado! eu sei que vocês estão nem aí entã.._ ele me interrompeu nervoso ou envergonhado, não pude decifrar.

_você disse namorado Ana???

- Mas, meu Deus Ana, o que passou na sua cabeça ao revelar isso ao seu pai? - Maurício perguntou confuso.

Ele me interrompeu novamente!

No Mesmo Apartamento (Concluído/ Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora