Dias de tortura.

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Cheguei atrasada no colégio. O ônibus em que eu estava ficou preso num engarrafamento horrível no centro da cidade. Logo hoje que a aula de Rafaella seria no primeiro tempo. Ela estava todos os dias no colégio, sendo que, só dava aulas para minha turma nas terças e quintas. Nas terças-feiras, eu esperava até o último tempo para estar pertinho dela e nas quintas-feiras, suas aulas eram logo no primeiro tempo e não tinha como começar mal o dia vendo aquele anjo logo cedo, a menos que eu estivesse atrasada, isso deixou-me deveras aborrecida, um minuto longe dela, já fazia diferença.

Pedi licença e entrei. Sentei-me na última cadeira, bem no final da sala. Odiei aquela distância toda, mais ainda os meninos que ocuparam todos os lugares lá na frente, pareciam um bando de tarados tentando ver a calcinha da professora.

Rafaella virava-se para passar a matéria no quadro e os delinquentes abaixavam-se todos ao mesmo tempo para olhar debaixo da saia da professora. Nessas horas, eu sempre jogava uma bolinha de papel no quadro para obrigar Rafaella a virar-se para nós. Numa dessas, ela os pegou em flagrante e eu sorri aliviada. Nenhum deles ousou olhar novamente, tamanho foi o ar de reprovação que ela os olhou. Rafaella tinha disso, não brigava com ninguém na sala, quando alguém passava dos limites, ela levantava as sobrancelhas e encarava a pessoa, isso intimidava bastante, ninguém mais ousava cometer o mesmo erro.

Passei a aula inteira rabiscando o nome dela na última folha do meu fichário. Estava completamente perdida em meus pensamentos. Imaginava como seriam os beijos dela, em como seria bom sentir o calor do seu corpo nos meus braços. Eu suspirava, sorria, e depois ficava séria... Precisava falar com ela, dizer tudo o que está sufocando os meus dias, essa agonia que pairou nos meus olhos parecia não ter fim. Porque eu estava demorando tanto para conseguir falar com ela? Sempre fui cara de pau mesmo, digo o que penso sem me importar com o que vão achar! No entanto, perto dela, não conseguia ser mais do que uma aluna de dezessete anos cheia de medos e inseguranças.

O sinal tocou, todos saíram da sala, menos eu. Continuei sentada, filmando-a enquanto aquele anjo apagava o quadro. Seus movimentos eram tão leves... Eu queria ser aquela tela branca para sentir suas mãos deslizarem sobre mim, como estava fazendo com aquele quadro. Meu Deus! Senti inveja de um quadro! Quando terminou de apagá-lo, virou-se e sorriu ao me ver ainda ali.

— Quer falar comigo, Bia? – Seu sorriso era lindo e ela sabia o meu nome. Sua terceira aula e ela sabia o meu nome!

— Quero. – respondi com a voz insegura – “Quero dizer tudo o que estou sentindo por você.” – completei em meus pensamentos.

Rafaella delicadamente puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado. Senti meus pelos se arrepiarem só de estar perto dela. Estávamos tão perto uma da outra que eu conseguia sentir o seu hálito gostoso no meu rosto.

— Pode falar, querida. – falou com uma calmaria invejável. Sim, porque eu era toda apreensão.

— Falar? – perguntei atrapalhada.

— Você disse que queria falar comigo, não quer mais?

— Estou com medo do vestibular! – respondi num impulso. Foi a primeira coisa que passou na minha cabeça.

— Essa insegurança é normal... – segurou minhas mãos – Já sabe o que quer fazer?

Olhei para as mãos dela envoltas na minha, acariciei de leve os seus dedos, Rafaella sentiu o carinho, logo olhou também para nossas mãos.

Suddenly It's Love | História Rabia.Onde histórias criam vida. Descubra agora