Eu queria ficar sozinha naquele momento, sempre faço isso quando tenho algum problema ou quando estou triste. Hoje, queria ficar sozinha pelos dois motivos. Meu problema era amar... Minha tristeza era amar... Pensei que o amor fosse bom, mas desde que me deparei com ele, percebo que está sendo doloroso e mortal... Deu vontade de me jogar na frente do primeiro ônibus que vi passando na rua, só não o fiz porque fiquei pensando em como veria Rafaella novamente.
Engraçado, depois das suas palavras duras, seria natural sentir raiva dela, não seria? Mas não consegui. Ela continuou na minha cabeça, endeusada pelos meus pensamentos. Seria cômico se não fosse trágico? Não, não! Esquece essa frase, ela já está muito batida, além de que não há nada cômico em se sentir o último dos seres humanos, muito menos em continuar venerando uma mulher depois dela ter dito tantas palavras duras, palavras que rasgaram meu coração, não ao meio como se diz, mas em pedacinhos minúsculos que nem dá pra ver.
Subi no primeiro ônibus que passou na minha frente e lá estava eu indo pra praia. O sol não estava muito quente naquele dia, apenas fazia um lindo dia para caminhar na areia da praia, andar de mãos dadas com quem se ama, tomar água de coco e sentir o vento fresco bagunçar os cabelos da gente. Eu não fui lá para fazer nada disso.
Sentei-me na areia e fiquei olhando o mar, a onda vinha, molhava a areia e voltava para depois vir de novo, molhar a areia... Perdi as contas de quantas ondas contei, será que era a mesma onda que voltava sempre? Meu telefone tocou. Olhei o número, lá de casa.
— Oi, mãe. – falei inexpressiva.
— Não vai vir almoçar em casa?
— Não. – respondi seca.
“Finalmente mamãe se lembrou de que tem uma filha? Vai chover!” – pensei.
— Sua professora ligou. – falou – Pediu seu telefone.
— Que professora?
— Rafaella. Parece que você esqueceu alguma coisa na escola.
— Quando ela ligou? – fiquei nervosa.
— Tem uns dois minutos. – respondeu – Ela queria saber se você já tinha chegado em casa. Você está demorando mesmo. Fiquei preocupada, filha, por isso estou ligando.
“Desde quando se preocupa comigo? Nem gosta de saber o que sinto, o que penso...” – pensei.
— Não se preocupe, já estou indo embora. Tchau, tchau. – falei tentando encerrar rápido aquela conversa. Tive medo de Rafaella ligar e desistir por estar ocupado meu telefone.
Depois que minha mãe desligou, coloquei o celular na areia bem na minha frente. Fiquei olhando para ele e pedindo aos céus, a Deus, ao mar, aos Anjos... A quem quer que fosse para ele tocar.
Enfim tocou. Atendi no primeiro toque.
— Alô? – perguntei meio sem jeito. O número era privado.
— Bianca? – perguntou com a voz suave.
— Oi. – eu sabia que era ela.
— Bom... Liguei para sua mãe...
— Como conseguiu meu telefone?
— Na secretaria do colégio. – respondeu – Eu estou ligando porque vi você saindo da escola meio... Desnorteada. – falou hesitante – E, como pegou um ônibus aqui na frente que não vai na direção da sua casa, fiquei preocupada, você está bem?
“Remorso agora?” – pensei.
— Estou na praia, pensando em tudo o que você me disse.
— Hey, menina! Vai pra casa... Sua mãe acabou ficando preocupada com meu telefonema.
— O que eu esqueci aí?
— Nada! Sua mãe já te ligou, não é? – perguntou e ela mesma respondeu – Não quis deixá-la preocupada, por isso disse que você tinha esquecido alguma coisa.
— Não sei porque você se preocupa comigo.
— Me sentiria culpada se alguma coisa te acontecesse. – falou com a voz calma – Não te quero mal, Bianca.
— Obrigada pela sua preocupação, mas pode deixar que já sou bem grandinha, sei me cuidar. – meu tom de voz não era tão calmo – E se acha que eu estava desnorteada o bastante para fazer uma besteira, saiba que um pensamento tão infantil como esse, nem passou pela minha cabeça. – completei me lembrando da vontade que tive de me jogar na frente do ônibus.
— Fico feliz em saber que você tem maturidade o suficiente para não cometer nenhuma loucura. – falou sarcástica – Tenha um ótimo final de tarde! – completou.
— Ótimo? Tenha também um ótimo final de tarde, Rafaella! – usei do mesmo tom sarcástico.
Ela conseguiu me irritar com aquele telefonema. O que pensou que eu iria fazer? Me matar por causa dela? Não seria má ideia já que isso a faria sentir-se culpada pelo resto da vida... Respirei fundo, logo me acalmei. Ficar pensando desta forma, não resolveria nada e ainda me faria lembrar mais uma vez que eu era uma pirralha apaixonada pela professora mais linda do colégio, que tem medo dos seus desejos reprimidos e por isso me deu o maior “chute” da vida. Nossa, eu estava mesmo deprimida...Queria desaparecer? Não, não! Queria ser um tatu para me enfiar na areia da praia e poder me esconder.
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Suddenly It's Love | História Rabia.
RomanceJá passou pela sua mente algum dia se apaixonar por algum professor? Ou melhor, professora? Não, verdade? Pois é, Bianca também pensava assim até se ver perdidamente apaixonada por sua professora substituta de Matemática, Rafaella. Será que a difere...