Segui as escadas até o terceiro andar, dei um basta naquelas lágrimas infernais que não me permitiam enxergar. Professora Thelma estava aguardando o Diretor Tiago dar um recado para a turma. Interrompi-o deveras envergonhada. Ele era um homem esquisito, sério demais, para ser mais exata. Tenho essa mania de dizer que pessoas sérias demais são esquisitas. Nunca relaxam, isso me deixa nervosa. Bom, ele detesta ser interrompido. Isso já basta para justificar o meu “deveras envergonhada”, não basta? Que bom. Pedi licença e entrei. Sentei-me ao lado de Aristóteles, o mesmo tinha posto sua mochila em uma cadeira ao lado da sua a fim de que ninguém sentasse nela. Era um irmão mesmo, né? Nem tinha certeza se eu viria para escola hoje, mas mesmo assim, guardou o meu lugar.
— Que cara é essa, Bia? Estava chorando ou ficou com vergonha por ter atrapalhado o pronunciamento do digníssimo diretor? – perguntou em tom de brincadeira, no fundo, nem imaginava a agonia que eu estava vivenciando desde ontem – A festa vai bombar! – exclamou animado.
— Que festa? – fitei-o com cara de idiota.
— Acorda! Tá dormindo ainda? – segurou meus braços e me balançou sorridente – Acha que o diretor tá tagarelando sobre o que lá na frente?
— Caramba! – exclamei quase em um sussurro.
“Amor provoca amnésia também?” – pensei.
Já fazia dois meses que estavam a todo vapor com os preparativos daquela festa, seria para arrecadar fundos para a nossa formatura. O diretor estava confirmando o local e o horário. Seria em um Club que tem ao lado do colégio. Não se falava em outra coisa na sala de aula. Olhei para Ari, ele estava animado falando com os outros meninos sobre o que iriam fazer, quantas garotas iriam beijar... Não consegui falar-lhe sobre o ocorrido, ao menos ele estava feliz e eu não tinha o direito de deixá-lo preocupado com as minhas frustrações. E também, eu não queria em hipótese alguma correr o risco de ouvir dos lábios dele aquela frase batida: “Eu avisei, Bia!”. Nossa, ouvir isso é pior do que o preço que se paga por cometer um erro. Não que eu achasse errado o que aconteceu ontem à noite, muito pelo contrário, se existe mesmo essa tal felicidade, eu vi a cara dela ontem nos braços de Rafaella.
O problema é a tristeza que tomou conta de mim depois daqueles momentos incríveis de felicidade. Lembrei-me até de um texto que me foi dado quando eu ainda cursava o ginásio. Nele, havia uma frase que dizia assim: “Tristeza não tem fim, felicidade sim...”. Não me perguntem o autor desta frase, pois eu sinceramente não sei, mas se descobrisse e encontrasse com ele ou ela na rua, perguntaria o porquê de ter escrito isso um dia. Não sei se o texto todo era pessimista, mas concordam comigo que essa frase é deveras pessimista? Afinal de contas, se ele ou ela não tivesse escrito tal coisa, eu não estaria aqui dando-lhe razão, talvez nem percebesse que a tristeza é mesmo assim tão soberana. Mas que diabos é isso? Eu não quero carregar no curriculum da minha vida mais tristezas do que felicidades. Deu para perceber que estou ainda mais deprimida, não deu? O amor é muito complicado, preferia o tempo em que me apaixonava, vivia a paixão e quando acabava, eu estava ali, de pé, sem cicatrizes para lamentar.
— Bia? – passou a mão na frente dos meus olhos que estavam parados, hipnotizados por um vazio que estava a minha frente – Você não escutou nada do que eu disse?
— Desculpa, Ar. Estava viajando. – me ajeitei na cadeira, eu estava quase caindo da mesma, metade do meu corpo inclinado para o lado. Só então percebi que a aula da professora Thelma já havia começado. Meu corpo estava presente, mas a minha cabeça... Deixa pra lá, vocês entenderam – Fala cara! – pedi enquanto tirava o fichário da mochila, caneta, lápis...
— Droga, Bia! Estou falando que a gostosa da minha prima chega hoje aqui no Rio! – concluiu animado.
— Que prima? – nem fiz esforço para me lembrar de quem ele estava falando.
— A Mariana Gonzalez, de São Paulo. Falei dela pra você uns dias atrás. – sorriu – Ela vai comigo amanhã na festa. Estou nervoso para ver como ela está agora, não nos vemos acho... Que... Tem uns quatro anos... – falou pensativo – E você, nem pense em dar em cima dela! – completou extrovertido.
— Até parece que eu tenho cabeça para dar em cima de alguém! – balancei a cabeça negativamente.
“Se você soubesse como tá a minha vida, meu irmão...” – pensei.
— Acho bom! – continuou sorrindo – Mas não se preocupe, você não vai ficar segurando vela, a Bárbara vai também. Vamos ficar nós quatro juntos, não vai ser legal?
— Vai. – respondi desanimada.
“Muito legal ver Rafaella acompanhada do Rodolffo, se divertindo, apresentando o noivo para os professores, trocando beijinhos de vez em quando, andando pelo Club de mãos dadas. Sim, porque todos vão levar seus namorados, amigos... Não seria diferente com ela.” – pensei.
— Na verdade, Ari, nem sei se vou nessa festa. – falei.
— Tá brincando? – perguntou em voz alta – É a última festa antes da formatura!
Nesse instante, professora Thelma nos pediu silêncio.
— Tá bom, cara! – falei baixinho – Vou pensar melhor nessa possibilidade.
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Suddenly It's Love | História Rabia.
RomanceJá passou pela sua mente algum dia se apaixonar por algum professor? Ou melhor, professora? Não, verdade? Pois é, Bianca também pensava assim até se ver perdidamente apaixonada por sua professora substituta de Matemática, Rafaella. Será que a difere...