Quinta-feira...
Rafaella estava atrasada mais de dez minutos quando entrou na sala afobada. Carregava nas mãos uma pilha de folhas de ofício.
- Todos sentados. Mochilas embaixo da mesa. Sobre a mesa apenas lápis, borracha e caneta - colocou a pilha de papéis em sua mesa - Teste surpresa, valendo nota. Matéria de vestibular. - falou.
Todos começamos a murmurar na sala. O desconforto foi geral, até quem não xingava, xingou. Choveu reclamações e pedidos para que o teste fosse adiado.
- Não adianta ninguém ficar reclamando... - continuou ela dizendo. Implacável - Quero todos sentados e quietos. - começou a distribuir as folhas pela sala. Deixava uma em cada mesa que passava. Cadê o sorriso daquele rostinho lindo? Ela nem nos deu bom dia, acreditam?
Rafaella enfim colocou o teste sobre minha mesa, nem olhou para a minha cara. Mas quando eu ia desvirando a folha, ela bateu forte com uma das mãos na mesa e então me olhou com... Raiva? É! Ela parecia estar com raiva de mim. Eu fiquei sem ação. Foi uma reação tão... Tão... Estúpida!
- Só desvire quando eu mandar, está bem? - tirou a mão da minha mesa - Isso serve para todos os que receberam o teste e para os que irão receber ainda, fui clara? - perguntou.
- Que mau-humor, hein, Rafaella? - perguntei aborrecida com sua atitude - Ir à Lapa com o professor de Filosofia não te fez bem, não é? O que houve? Tá contaminada com o mau-humor dele?
- A próxima vez que eu quiser a sua opinião, eu peço, está bem?
Ela me deu um fora, vocês notaram? Logo se propagaram aquelas risadinhas pela sala de aula. Uns engraçadinhos dizendo:
- Aê, hein? Ui! Que fora!
- O próximo que disser uma gracinha parecida, vai levar um "zero" e ir direto para secretaria. - ela falou ríspida e continuou distribuindo as folhas. Ninguém ousou dar mais um pio se quer, muito menos desvirar o teste para dar uma olhadinha. Aristóteles cutucou o meu ombro.
- Acho que o Rodolffo dormiu de calças esta noite. - falou baixinho no meu ouvido.
- Isso não teve graça, Ari! - exclamei irritada. Aquele comentário não devia ter me incomodado, no entanto, foi bem infeliz a piadinha do Aristóteles para definir aquele "surto de ignorância" que Rafaella estava tendo.
- Podem desvirar o teste! - ela falou.
Sabem o que eu fiz? Desvirei o teste, assinei meu nome, me levantei e fui até a mesa de Rafaella.
- O que é isso? - me olhou intrigada.
- Terminei. - respondi e lhe entreguei a folha.
- Sente-se e faça o teste! - ordenou.
- Já terminei. - continuei inexpressiva.
- Bianca! Você está me irritando. Eu vou te dar um zero, acha que não tenho coragem de te dar um zero?
- Porque você me daria um zero? O teste está em branco! - falei irônica.
Bom, acho que ela percebeu que a turma toda olhava aquele bate-boca sem fundamento.
- Hoje você está insuportável, professora. - falei - Eu não vou ficar aqui aturando o seu mau-humor. - concluí.
Rafaella pegou a folha, rabiscou um zero enorme de caneta vermelha.
- Pode ir! - falou.
[...]
Depois de uma hora e meia, o último aluno deixou a sala de aula. Rafaella estava começando a corrigir os testes quando eu bati na porta.
- Posso entrar? - perguntei meio sem jeito.
Ela fez um gesto permitindo, no entanto, não dispersou seu olhar. Continuou com sua correção.
- O que deu em você hoje? - perguntei. Puxei uma cadeira e sentei-me ao seu lado. Nesse instante, Rafaella parou o que estava fazendo. Ficou me olhando por quase um minuto.
- Porque se preocupa comigo? - seu olhar era tão profundo.
- Porque... Eu te... - parei, respirei fundo e me calei. Quando ela me olhava daquele jeito, eu me esquecia até de quem eu era.
- Diz... - sua voz saíra doce. Um contraste perfeito com a sua grosseria anterior. Rafaella segurou em minhas mãos, logo soltou. Desconcertada começou a guardar as folhas que estavam sobre sua mesa numa pasta preta.
- Eu nunca vi você desse jeito, na verdade, o pessoal não comenta outra coisa lá fora. Tá todo mundo apavorado com esse teste, aposto que você vai distribuir um monte de notas baixas.
- Ah! - olhou para mim com ironia - Você então é a porta-voz dos seus amiguinhos? Se estão pensando que eu irei anular o teste, estão enganados.
- Não, Rafaella! Eu vim saber que bicho te mordeu hoje. - respondi e não resisti. Toquei seu rosto com a ponta dos dedos. Ela fechou os olhos e ficou sentindo meus dedos tocarem nos seus lábios frios - Queria tanto te entender. - completei.
- Não tente me entender, Bianca. - falou e me puxou pela camisa. Senti seu hálito gostoso no meu rosto, logo nossos lábios se tocaram e a língua quente de Rafaella invadiu a minha boca. Bastou tocar de leve na pele dela para a minha cabeça começar a girar.
- Por que você faz isso comigo? - perguntei completamente desarmada.
- Por que você tem que cobrar tanto?
- Porque eu te amo, Rafaella! E dói muito saber que eu sou um passatempo na sua vida. - me levantei - É tão simples para você: Dá vontade? Pronto, me beija como fez agora. Faz a minha cabeça revirar de tantas dúvidas e depois? Depois manda eu te esquecer, não é assim? Decorei seu texto... - parei na porta - Não é o que quero pra mim. Eu queria você, mas já que isso não é possível, não me venha com as suas provocações. - conclui e sai.
[...]
Eu queria desabafar, mas o único amigo que eu tinha era o Ari, e como eu podia falar de Rafaella para ele estando com Mariana?
Enfim, a manhã foi embora. Fiquei sentada no ponto de ônibus pensando na vida. Bastou um beijo de Rafaella para tudo a minha volta mudar. Meus planos para hoje mudaram também. Eu havia combinado de ir até a casa do Ari naquela tarde, iríamos levar Mariana numa pizzaria no centro da cidade que tem fama de fazer pizzas tão boas quanto às de Sampa.
Rafaella tinha um poder enorme de me confundir. Acordei com aquela sensação de que seria um dia diferente e que eu conseguiria reagir com naturalidade à presença daquela professora, mas não! Ela sempre me envolve no seu joguinho perverso. E a Mariana? Como vou olhar para ela? Mentir não é o meu forte.
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Vocês são os melhores leitores da vida, obg por comentarem e estarem gostando! 💜
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Suddenly It's Love | História Rabia.
RomanceJá passou pela sua mente algum dia se apaixonar por algum professor? Ou melhor, professora? Não, verdade? Pois é, Bianca também pensava assim até se ver perdidamente apaixonada por sua professora substituta de Matemática, Rafaella. Será que a difere...