Apostilas?

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Quarta-feira não fui à escola. Estava sentindo dores de cabeça horríveis e meu estado de espírito também não era dos melhores para ver Rafaella. Tinha conversado bastante com Aristóteles ontem à noite e entre lágrimas e desabafos, resolvi tentar esquecer de vez Rafaella. Não sabia ainda por onde começar, por isso talvez me aproveitei das dores de cabeça para faltar na aula e ficar sem vê-la pelo menos um dia. Meus pais? Nem souberam que faltei. Só se lembram da minha existência por dois motivos: criticar minha “condição sexual” e jogar na minha cara o dinheiro que gastam comigo.

Quinta-feira...

Primeira aula do dia era de Rafaella. Entrei na sala, ela já estava sentada na sua mesa arrumando uns livros. Alguns alunos já estavam sentados, outros na porta esperando o sinal tocar. Sentei-me na última cadeira, encostada na parede, ao lado da janela que tinha vista para o jardim lá embaixo. Rafaella me acompanhou com os olhos, fingi não ter visto. Afinal de contas, ela mesma quem queria distância de mim. O sinal tocou, todos sentaram e ela colocou umas apostilas sobre a mesa dos alunos que estavam na primeira fileira, pediu que cada um tirasse uma e passasse o restante para trás.

— Matéria de vestibular, galerinha! – ela falou sorridente como sempre. Na verdade, ela sorria para todo mundo na sala, menos para mim. Sempre que me olhava, estava séria, talvez por isso, passei a aula inteira sem lhe perguntar qualquer coisa sobre a matéria. De qualquer forma, eu não estava prestando atenção em nada mesmo. Só ficava ouvindo ela falar, falar... Suas palavras soavam desconexas para mim. Eu não entendia nada, apenas fechava os olhos e ouvia o som gostoso que vinha da sua voz. Pela primeira vez na vida tive que “colar” de Aristóteles.

A aula estava quase no fim quando comecei a olhar através da janela e imaginar como teria sido bom se ela não tivesse me dado aquele “chute”. Eu estava tão apaixonada, faria qualquer coisa para ficar com aquela mulher. O gosto do seu beijo ainda queimava nos meus lábios, o cheiro dos seus cabelos teimava em se fazer presente em minhas narinas, a maciez da sua pele... Sabe quando você não consegue nem ouvir alguém te chamar? Assim que eu estava.

— Porque não copiou a matéria? – perguntou balançando o meu ombro para me tirar daquele momento de ilusão profunda.

— O que? – perguntei dispersa.

— Você olhou lá pra fora a aula toda. – fitou as folhas bagunçadas do meu fichário que estavam sobre a mesa, abaixo delas a apostila que ela havia trago para nós – Nem tocou na apostila que eu trouxe.

— Não se preocupe, eu colei do Ari. – falei debochada.

O sinal tocou, todos saíram às pressas da sala. Nós continuamos ali.

— Quando um aluno meu não aprende a matéria que eu passo, me sinto uma péssima professora.

— Gosta mesmo de ensinar, não é? – me levantei – Então porque não começa me ensinando a te esquecer? – perguntei contendo a vontade que eu estava de chorar. Não queria chorar na frente dela, não queria parecer um bebê chorão.

— Vai começar? – perguntou cruzando os braços e reprovando o meu comentário.

— Droga! Eu me sentei aqui, bem longe porque você quer distância de mim! Mas você tinha que vir falar comigo? – me encostei na mesa – Não precisava ter vindo falar comigo, isso piora as coisas, porque quando eu fico muito perto de você, sinto vontade de te beijar, te abraçar, te tocar... 

Suddenly It's Love | História Rabia.Onde histórias criam vida. Descubra agora