A festa I

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Chantagem foi o argumento que Aristóteles usou para me obrigar a ir à festa do colégio. Disse que se eu não fosse, nunca mais seria o mesmo comigo e também que eu não poderia contar com ele pra mais nada na vida. Tentei argumentar, afinal de contas, nunca mais é muito tempo, mas ele é um cabeça dura e a gente nunca sabe quando um cabeça dura está falando sério, na dúvida, resolvi não pagar pra ver. Mesmo porque, não consigo entender mais ninguém mesmo. Rafaella conseguiu fazer uma salada de frutas na minha cabeça, alguém gosta de salada de frutas? Eu não. Bom, a vida já estava complicada, correr o risco de ficar sem o ombro amigo do meu único irmão, não ia dar.

Fiquei enrolando em casa. Troquei de roupa umas dez vezes, nada ficava bom o suficiente para eu ir naquela festa. Me olhava no espelho. O espelho refletia a minha cama. Tive vontade de tirar aquela roupa, colocar o meu pijaminha e ir dormir. Mentira! Eu não uso pijama. Durmo sem roupa mesmo. A imagem de Rafaella ia e voltava na minha cabeça, meu estômago embrulhava quando eu pensava em vê-la na companhia do paspalho, na verdade, ele é um idiota, mas eu sentia inveja daquele idiota. Daria tudo para estar no lugar dele. 

Acabei chegando atrasada. Marquei oito e meia com Aristóteles e cheguei quase nove. Não foi uma demora muito significativa, mas o suficiente para ele puxar minhas orelhas, nunca vi alguém gostar tanto de festa quanto aquele garoto. Bárbara e uma outra menina estavam na sua companhia, pude supor que a menina em questão fosse sua prima de Sampa. Cumprimentei Bárbara e Ari, logo ele me apresentou.

— Esta é a prima que te falei, Bia. – falou – Mariana Gonzalez.

Quase lhe ofereci um babador. Tenho que admitir, ela era uma garota bonita. Morena, mais alta que eu, tinhas os cabelos compridos e com alguns cachos, olhos esverdeados. Na verdade, não deu para distinguir se eram castanhos ou esverdeados, estava escuro e não venham com a história de daltonismo porque é uma doença exclusiva dos homens. Mariana sorriu, um sorriso meigo, digamos assim. Dei-lhe um beijo num lado do rosto, depois virei para dar-lhe mais um do outro lado, mas quase beijei a boca da menina. Ela não virou o rosto e me olhou com aquela cara de quem não entendeu nada. Quase morri de vergonha.

— Carioca dá dois. – falei com a voz quase desaparecendo.

— Desculpa. – ela falou sorrindo e virando o rosto para eu beijar – Em Sampa a gente só dá um.

— Bom... – Ari falou – O papo tá bom, mas a cerveja já deve estar gelada.

— Beleza, senhor sabe tudo... – falei debochada – Festa de colégio, vai arrumar cerveja como? Esqueceu que é menor de idade?

— Nossa! Que mau-humor, hein, Bia? A Mariana e a Bárbara são maiores, podem comprar pra gente.

— Vai fundo, estou fora! – exclamei – Se o diretor te pegar bebendo, você vai amargar uma suspensão. – dei um tapinha nas suas costas – Vou pegar minha Coca-Cola com gelo e limão.

— Bianca, covarde! – exclamou, logo sorriu – Vamos tomar uma cerveja meninas?

— Eu também estou fora, primo. – Mariana falou.

— Ai gente! – foi a vez de Bárbara falar – É só uma cerveja. Eu compro, Aristóteles.

Os dois saíram e eu fiquei fazendo companhia para Mariana. Coitada, olha a companhia que foi arrumar! Posso afirmar que eu era o mau-humor em pessoa, dava até para concorrer com o professor rabugento de Filosofia. Será que ele era daquele jeito porque está sofrendo por amor também? Vou começar a repensar minha opinião sobre ele.

Suddenly It's Love | História Rabia.Onde histórias criam vida. Descubra agora