O passeio.

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Desci as escadas apressada. Ari e Mariana estavam me esperando no pátio.

— Demorou, hein? – ele falou olhando o relógio. Olhou novamente para mim – O que aconteceu? Está pálida!

— Nada não. Acho que não estou me sentindo bem... – respondi com aquela cara de: “depois eu te conto”.

— Isso é hora de passar mal, Bia? – Mariana perguntou – Temos muito que fazer hoje, sabia?

— Temos? – retruquei desconfiada.

— Sim, temos. – respondeu enquanto enroscava seu braço no meu. Começamos a andar de braço dado pelo colégio, logo saímos no portão principal – Vamos passear muito hoje... O dia está lindo! – sorriu olhando pro céu azul – Podemos ir à praia, ou então, naquela cachoeira linda que o Aristóteles prometeu me levar, lembra Ar? – completou olhando para o primo.

— Hey, Mariana! O dia tá bonito, mas não tem sol para cachoeira, não! – exclamou – Água gelada? Estou fora!

— O que você acha, Bia? – ela perguntou.

— Eu? – perguntei um pouco desconcertada. Na verdade, eu estava mais preocupada com o que acontecera na sala de aula. Rafaellq ficara tão nervosa. Fiquei imaginando como ela estaria se sentindo agora.

— Dá uma sugestão? – continuou insistente – Para onde vamos?

— Bom, eu vou pra casa. – respondi.

— Não acredito! O que você tem melhor para fazer em casa?

“Um quarto com janelas fechadas, cortinas escuras quebrando a luz do ambiente, ar condicionado ligado. Uns CD’s maravilhosos, e pronto! Meu “momento melancolia”. – pensei.

— Eu tenho que ir ao shopping comprar um aparelho novo pro meu “chipinho”. – respondi.

— Pronto, vamos ao shopping! – ela exclamou animada.

Passamos na casa do Ari para ele tomar banho e colocar uma roupa decente já que ele morava mais perto do colégio. Depois fomos até minha casa. Abri a porta. Pedi que eles entrassem. Televisão desligada, nenhum barulho na cozinha. Onde papai e mamãe estavam? Havia um bilhete na geladeira. Dizia: “Tem comida no freezer, aqueça no micro-ondas. Voltaremos ao anoitecer. Beijos, filha!”. Meu Deus! Eles estavam passeando! Sorri e voltei pra sala.

— Cadê minha sogra? – Mariana perguntou.

— Passeando com seu sogro. – respondi entrando na brincadeira.

— Hum... Isso quer dizer que estamos sozinhos?

— Pelo o que eu sei, sou filha única... – balancei a cabeça e sorri – É, estamos sozinhos.

Mariana que estava sentada no sofá se levantou. Veio em minha direção. Me olhou com aqueles lindos olhos castanhos. Descansou as mãos no meu ombro.

— Estou com tanta vontade...

— Vontade de que? – perguntei olhando fixamente nos seus olhos. Tinham tanta ternura.

— Disso... – Mariana fechou os olhos e me beijou calorosamente. Retribui. Segurei-a mais forte em meus braços e ouvi quando ela suspirou. O mesmo gosto de menta na boca.

Beijar Mariana era como beijar um anjo. Ela era tão delicada, com aquele jeitinho de menina. Isso era fascinante e ao mesmo tempo, me fazia temer uma aproximação maior. 

— Não acredito que vocês vão ficar fazendo isso na minha frente! – Aristóteles exclamou fingindo que tapava os olhos.

— Cala a boca, Ar! – dissemos ao mesmo tempo, depois começamos a rir e não conseguimos voltar ao beijo.

Fui tomar banho e os deixei assistindo TV na sala. Fiquei imaginando Rafaella ali, tomando banho comigo. Isso é errado, não é? Mariana estava lá na sala, me esperando. Me senti, naquele instante, o ser mais malvado da face da terra.

Entrei no quarto. Mariana ficou me olhando da porta. Eu não a vi. Sabe quando você sente que tem alguém te olhando? Então, é automático! Você para, olha para os lados de rabo de olho, não vê ninguém. Eu ia me virar para ver se tinha alguém atrás de mim. Nessa hora, ela me abraçou por trás. Senti seu corpo quente nas minhas costas, sua respiração no meu pescoço. Ela já ia puxando a minha toalha. Eu não deixei. Me vire de frente pra ela.

— Tá muito cedo pra isso, sabia? – perguntei me sentindo ridícula. Rafaella não precisou nem se insinuar.

— Só um pouquinho... – sussurrou beijando meus lábios com desejo. Meu Deus! Ela estava tão quente! Retiro a parte do anjo que me referi.

Suas mãos teimavam em puxar a minha toalha. Eu não vou mentir, fui ficando com desejo também. Minhas mãos começaram a acariciar a pele dela, as costas, os ombros... Fomos indo devagar em direção a cama, sem conseguirmos parar de nos beijar. Ela deitou lentamente, meu corpo foi caindo sobre o dela. Eu abri os olhos. Parei com os beijos.

— O que foi? – ela perguntou confusa.

— Nada. – respondi enquanto me levantava e ajeitava a toalha.

Faltou desejo? Não! A questão não foi essa, mas eu não podia fazer aquilo. Não naquele momento. Precisávamos ter uma conversa antes, afinal de contas, eu tinha outra mulher no coração e eu não sabia até onde Mariana achava que iríamos com aquela história.

Eu não queria fazer com Mariana o mesmo que Rafaella fez comigo. Dormir com alguém é muito fácil, desejo é desejo. Hipocrisia achar que por amarmos alguém, não vamos sentir desejo por outra pessoa. O que eu quero deixar claro é o seguinte: transar com ela seria tão fácil quanto foi para Rafaella transar comigo, mas, e depois? Eu diria simplesmente para ela não alimentar ilusões a meu respeito? Não! Isso é ruim! Não seria mais fácil dizer isso antes de acontecer alguma coisa entre nós? Jogar limpo, entendem?

— Temos muito o que conversar ainda. – falei.

— Tá. Mas... – se levantou – Pensei que estivéssemos namorando. – falou frustrada.

Viram? É disso que estou falando. Deixar as coisas claras.

— Vamos conversar melhor sobre isso, está bem? – a olhei um pouco constrangida – Depois... Depois que eu trocar de roupa, é claro.

Mariana também ficou constrangida com o que aconteceu. Encostou a porta ao sair. Abri a gaveta, apanhei a primeira camiseta que vi pela frente. Camiseta vermelha, calça jeans escuro e... Tênis. Amarrei o cadarço e sai. Mariana estava sentada ao lado de Ari no sofá, com a cabeça encostada no ombro dele.

— Vamos, galera? – perguntei.

Os dois se levantaram. Nós saímos.

O clima melhorou depois que chegamos ao shopping. Lanchamos no Mc Donald’s. Depois entramos em todas as lojas que vendiam celulares. Comprei um bonitinho, Mariana quem escolheu. Ficamos igual três malucos andando pelo shopping e tirando fotos de tudo. Mariana não deu sorte. Toda vez que vamos ao Barra Shopping, encontramos artistas famosos. Hoje, nem sinal deles. Ela ficou desapontada, mas não demorou para perceber que os artistas éramos nós. Não tinha um que não nos olhassem naqueles corredores. Foi bem divertido, três palhaços juntos. Podem imaginar isso?

Suddenly It's Love | História Rabia.Onde histórias criam vida. Descubra agora