Cadê a conversa? I

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Fiquei o domingo inteiro sem conseguir falar com Rafaella. O telefone da casa dela estava ocupado o dia inteiro, mas parecia estar fora do gancho. O celular, chamou algumas vezes, no entanto, acho que ela via o meu número e desligava. Isso aconteceu inúmeras vezes, depois, ou caía na caixa postal, ou simplesmente avisava que o mesmo estava desligado. Eu já estava consumida pela agonia de querer ouvir a voz dela e não conseguir. Eram quase onze da noite quando o meu telefone tocou. Número privado. Atendi no primeiro toque.

— Oi. – falei já sabendo que era ela.

— Bia, eu não disse que o meu pai estava aqui? – perguntou fria.

— Sim...

— Então porque ficou me ligando o dia todo? – estava aborrecida.

— Saudade, sabe o que é isso? – perguntei com a voz quase desaparecendo.

— Você não conhece o meu pai, ele é muito desconfiado. Ficou me perguntando por que eu não atendia o celular, sabia?

— E porque não atendeu?

— Por quê? Porque você me deixa em maus lençóis quando liga pra mim. Eu fico sem saber o que te dizer.

Eu ri.

— Diz que gosta de mim, Rafaella. Estou precisando tanto ouvir alguma coisa desse tipo. – respirei fundo – Você só liga para brigar comigo ou quando me magoa e fica preocupada.

— Para de drama, Bianca!

— Você só me ligou para dar esporro mesmo? – perguntei com a voz bem melosa.

— Não. Liguei para dizer que você se arriscou muito vindo na minha casa ontem.

 — Eu arriscaria muito mais se você quisesse. – alguns segundos de silêncio – O Rodolffo está aí contigo?

— Ele já está dormindo.

— Ontem... Ele passou a noite com você? – nossa, que pergunta ridícula! Claro que passou!

— Isso não é da sua conta, Bianca! – falou fugindo da pergunta – Vou desligar. Ah, e-eu... Eu também liguei para ouvir a tua voz. – completou hesitante, quase não consegui ouvi-la pronunciar “ouvir a tua voz”.

Fiquei parada curtindo aquele momento, suas palavras soaram como música para os meus ouvidos.

— Ouvir a minha voz? – repeti como uma boba. Meus lábios não conseguiam desfazer o sorriso.

— Esquece, Bia! – respondeu arrependida – Nos vemos amanhã no colégio, está bem?

— Se quiser, podemos nos ver agora, quer?

— Engraçadinha. Vai dormir, menina!

— Sonha comigo?

— Tchau! – falou.

— Tá, tchau.

Ela desligou e eu fiquei ali, parada com o telefone ainda no ouvido. 

[...]

Na segunda-feira, Rafaella não teve tempo para mim. Ela mentira quando disse que conversaríamos no colégio. Não foi isso que aconteceu. Fugiu de mim como o diabo foge da cruz. Inventara mil desculpas para não ficar sozinha comigo. Engoli a seco aquela rejeição.

As aulas terminaram, fui pra casa, tomei um banho bem gelado, deitei na cama e fiquei pensando no que estava acontecendo.  

[...]

Às seis e meia eu estava no portão da casa de Rafaella novamente. Ansiosa, para variar. Gosto de resolver as coisas, não fico inventando desculpas. Não deixo nada pendente. Seria uma virtude se não me causasse tanta angustia. Não toquei a campainha. Liguei para o seu celular. Ela atendeu no segundo toque.

— Oi, Bia. – falou.

— Estou no seu portão, podemos conversar agora? – meu tom de voz não era dos melhores.

— Sim, podemos. – respondeu num sussurro.

Não demorou, ela abriu o portão. Entramos. Ela ficou parada me olhando, como se estivesse analisando minhas expressões. Eu estava séria, muito séria. Odeio ficar sem saber o que as pessoas sentem de verdade.

— Porque você nunca espera? – ela perguntou quebrando o silêncio.

— Porque eu sou ansiosa. Não gosto que fiquem me enrolando.

— Já tenho muitos problemas, Bianca! – exclamou.

— Eu sou um problema pra você? É isso? – me aproximei um pouco mais. Podia sentir a sua respiração. Eu simplesmente não conseguia resistir, precisava ficar perto dela – O seu corpo também me acha um problema? – passei de leve a mão na sua cintura, envolvi-a nos meus braços. Seus olhos fixos na minha boca denunciavam que ela queria me beijar – Beija, Rafaella! – falei – Beija logo! – a essa altura eu já estava cheia de tesão por ela.

— Vamos pro meu quarto. Não aguento mais! Você está me enlouquecendo, menina! – falou.

Suddenly It's Love | História Rabia.Onde histórias criam vida. Descubra agora