Um abraço.

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Eu queria estar em qualquer lugar, menos em casa. Aturar meu pai e minha mãe cobrando meu horário, recriminando minha condição sexual, sermão. Hoje não dava mesmo, não naquele momento. Ficar ali, parada naquela rua escura também não podia. Ir à praia, seria uma opção, mas me deixaria muito mais deprimida do que eu já estava. Meu Deus! Eu queria gritar! Queria arrancar de dentro de mim, toda aquela dor que me corroía. Esquecer que Rafaella um dia me fez sentir a pessoa mais feliz do mundo. Queria poder arrancar as lembranças dela da minha cabeça, e também, o cheiro dela que estava impregnado na minha pele.

— Vagabunda! – falei, sorte não ter ninguém para me ouvir naquele instante – Quando ela iria parar de me usar? Marcou a data do casamento e nem gosta do cara! – continuei consumida por uma raiva que eu desconhecia até o momento.

Andei umas duas quadras e fiz sinal para um táxi que por sorte estava passando naquele momento.

— Vamos pra onde? – o taxista perguntou.

“Para qualquer lugar longe do inferno que eu estou." – pensei.

— Botafogo. – respondi.

O homem acelerou e eu me afundei no banco de trás daquele carro. Meu corpo estava pesado. As lágrimas continuaram descendo pelo meu rosto, eu estava tão consumida pelos pensamentos frustrados que rondavam a minha cabeça. Nem percebi o quanto chorava.

— Está se sentindo bem, filha? – o taxista perguntou olhando pelo retrovisor. Exibiu uma face de preocupado.

“Filha? Esse devia ser o papel do meu pai, não devia? Ele que deveria estar me olhando naquele momento, daquele jeito." – pensei enquanto me dava conta do rosto molhado.

— Estou bem, obrigada. – respondi tentando enxugar algumas lágrimas, logo desisti, eu enxugava uma, caiam três.

— Brigou com o namorado? – insistiu.

“Com a namorada, quero dizer, com a amante.” – pensei.

— Não era namorado. – respondi.

— Não devia chorar por esses garotos que não te merecem, filha. – sua voz era doce e pausada – Você é tão novinha para chorar desse jeito. Daqui a pouco, encontra outro namorado e não lembrará sequer o nome deste que está te magoando.

“Moço, não é namorado, é namorada!” – pensei novamente. Entramos na rua que eu havia indicado.

— Pode me deixar de frente para esse prédio, por favor. – pedi.

Ele estacionou o carro. Eu paguei a corrida, nem quis o troco. Gostei de ter alguém preocupado comigo, ser chamada de filha mesmo que tenha sido por um estranho, isso me fizera bem. Ao menos um estranho tentou me compreender e olha que ele nem precisava se preocupar com o meu estado de angústia já que o seu dever era apenas me levar onde eu pedisse. Antes que eu descesse...

— Tudo nessa vida passa, filha. – falou gozando de uma calma quase celestial – Vocês, jovens, quando estão com algum problema, sempre acham que é o fim do mundo, mas isso não é verdade. E se esse garoto que está te fazendo sofrer desse jeito não te merecer de verdade, você vai esquecê-lo, pode apostar.

— Obrigada. – desci do carro ainda desnorteada com os últimos acontecimentos, embora as palavras daquele senhor tenham no mínimo me ajudado a parar de chorar. Ele partiu, mas sua face iluminada e gentil ficara no meu pensamento por alguns segundos.

Suddenly It's Love | História Rabia.Onde histórias criam vida. Descubra agora