Somos mesmo idiotas?

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Entrei na sala de Filosofia desnorteada. Embora estivesse esperançosa com as aulas extras que teria com Rafaella, sabia que tinha perdido uma grande oportunidade para me abrir com ela e dizer tudo o que estava me corroendo. De uma certa forma, talvez fora melhor desta maneira. Eu não tinha argumentos suficientes para fazê-la acreditar nos meus sentimentos e esses estavam tão confusos dentro de mim. Também, não era tão simples como das outras vezes que me declarei para alguém. Com ela, eu não podia simplesmente chegar e dizer: “Hey Rafaella, eu estou louca por você, quer namorar comigo? – Sorri do meu pensamento infantil. Rafaella riria de mim ou nunca mais me olharia nos olhos... A menos que ela estivesse apaixonada também e essa hipótese fora descartada imediatamente.

Ela me tratava como uma criança ou com a mesma simplicidade dos demais alunos, isso me irritava. Eu queria ser diferente para ela, especial, sabe?

Aristóteles havia guardado o meu lugar ao seu lado desta vez. Sentei-me depressa, aproveitando a ausência do professor na sala.

— Até que enfim! – exclamou simulando um falso aborrecimento – Pensei que iria matar aula.

— Estou mal, Ar! – falei desanimada.

— Estou te sentindo meio esquisita mesmo nesses últimos dias... Isso tem a ver com a nova professora de Matemática?

— Como sabe? Estou dando tanta bandeira assim?

— Poxa, Bia! Só não vê quem é cego. – sorriu debochado – Você tá arrastando o maior bonde pela professorinha! Aquelas bolinhas de papel que você jogou no quadro hoje foi a gota d’água... Sem contar que toda hora você vai na mesa dela perguntar alguma coisa. Desde quando você tem dificuldade em Matemática? Pelo que eu me lembre, você é quase uma professora de Matemática. 

— Tá fora do meu controle, Ar! – respirei fundo – Segurei nas mãos dela hoje. – completei.

— Ela é lésbica mesmo? – perguntou surpreso – Pensei que fossem boatos. – Completou.

— Não viaja, cara! Ela nem imagina que eu gosto dela, acha que estou sofrendo de ansiedade “pré-vestibular”. – sorri já mais animada – Me ofereceu até aulas particulares de Matemática.

— Você tá enrolando a professora, sua espertinha? – baixou o tom de voz – Foi só mão na mão mesmo?

— Você diz só? – fitei-o indignada – As mãos dela são tudo, cara!

— Nossa! Bianca Andrade se contentando só em segurar nas mãos de uma mulher? Meus avôs iam mais longe no tempo deles. – falou irônico.

— Você não entendeu, né? – ajeitei-me na cadeira, joguei os livros sobre a mesa e baixei ainda mais o tom de voz – Eu segurei as mãos dela e foi a sensação mais... Especial? – pensei por um instante, logo retomei as falas – É! Especial! – falei deslumbrada – Foi a coisa mais especial que já fiz na vida. Meu coração disparou, minhas pernas tremeram, minha boca ficou seca... Quase tive um treco! Se tivesse acontecido algo mais, acho que eu teria morrido.

Aristóteles me olhou surpreso. Nunca tinha me visto falar assim de nenhuma garota antes.

— Caraca, Bia! Você está apaixonada!

— Não, estou boba mesmo! Me sinto uma idiota perto dela, mal consigo dizer uma frase completa.

— Você é idiota mesmo. Pessoas apaixonadas tendem a ficarem idiotas. – falou debochado.

Suddenly It's Love | História Rabia.Onde histórias criam vida. Descubra agora