O telefonema.

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Me vesti às pressas e fui atender o telefone.

— Oi, mãe... – falei desanimada.

— Bianca! O que aconteceu? – estava irritada – Precisamos ter uma conversa muito séria! Você não pode fazer isso comigo e com o seu pai!

Afastei o telefone do ouvido, ela estava praticamente aos berros.

— Tá bom, mãe... – falei indiferente.

— Você só chega tarde em casa, dorme fora e não avisa. E o pior, desliga o celular! Seu pai chegou a ponto de ligar para alguns hospitais, sabia? – continuou brava – Você precisa ter limites, menina! Seu pai está furioso!

— Tá bom, mãe...

— Tá bom o que? Está me ouvindo por acaso?

— Tá bom, mãe... – o telefone ainda estava longe do meu ouvido. Respondi e percebi que ela ficara muda do outro lado da linha – Mãe?

— Você não ouviu nada do que eu disse, não é? – seu tom de voz era mais ameno.

— Ouvi, mãe! – respondi meio sem graça – Desculpa, vai? Meu celular estava sem bateria, mas eu deixei recado na secretária eletrônica quando cheguei aqui no Ari. – completei tentando diminuir o peso da minha irresponsabilidade.

— AS TRÊS DA MANHÃ? – gritou – Do que adianta nos avisar que está viva às três da manhã? Eu e seu pai nem dormimos, sua irresponsável!

“Pronto! Vai começar tudo de novo... Minha mãe estava tão dramática.” – pensei. Logo tirei novamente o telefone do ouvido. Claro, não é no de vocês que ela estava berrando. Sei que eu não devia fazer isso, afinal de contas era minha mãe, né? Mas, poxa! Eu estava com sono, cansada, doida para dar um beijo na boca da Mariana.

— Você tem que tomar jeito, menina! – continuou me “descascando” – Seu pai vai te pôr de castigo.

— O QUE? – na mesma hora encostei o aparelho no ouvido, ouço tudo o que me convém ouvir – Castigo? Eu não tenho mais idade para ficar de castigo! – exclamei inconsolável.

— Então, mocinha! – falou – Vai ter que melhorar muito o seu conceito nessa casa.

Aristóteles e Mariana morriam de rir ao meu lado. Fiz alguns gestos para que eles entendessem que eu não estava gostando nenhum pouco daquela “zoação”, mas o que consegui com isso foi piorar ainda mais as coisas. Será que eles entenderam que eu estava gostando? Minha cara de velório não fora convincente o bastante? Vai saber! Eles continuaram rindo e debochando da minha cara.

Ufa! Enfim minha mãe desligou.

— A raiva dela vai passar, amor. – Mariana falou me abraçando por trás – Eu também já fiquei de castigo muitas vezes, até meus treze, quatorze anos. –começou a rir – Ah, desculpa! Você tem dezessete, né?

— Engraçadinha! – a olhei quase brava – Algumas horas atrás no seu quarto você nem acreditou que eu só tinha dezessete, não é?

— Hum... Bem lembrado! Então se sua mãe te colocar mesmo de castigo, não se preocupe, eu vou te visitar, garanto. – prendeu o riso – Vou tomar banho crianças! – me deu um beijo no pescoço e saiu.

Me sentei no sofá. Olhei a mochila do Aristóteles numa outra poltrona.

— Você foi pra escola?

— Claro! Não fiquei me dando ao desfrute como você. – sentou-se ao meu lado.

— Invejoso! – exclamei.

— A professora perguntou por você.

— Rafaella perguntou por mim? – pronto! Bastou pronunciar o nome dela para o meu coração quase sair pela boca.

— Não viaja, Bia! – balançou a cabeça negativamente – Estou falando da professora Thelma. Ela sentiu sua falta na aula dela.

— Ah, claro! Só podia ser a professora Thelma mesmo... – soltei sinceramente frustrada.

— Mas a professora Rafaella estava ao lado dela quando me perguntou por você. – falou e ficou olhando a minha reação.

— E o que você disse? – continuei interessada.

— Eu disse... – sorriu – Eu disse que você estava muito ocupada com a minha prima.

— Você n-não... Não teria coragem!

— Fica calma, Bia! Eu disse que você perdeu a hora e por isso não foi ao colégio. Fiquei de te passar a matéria e tal, mas... – pensou por um segundo – Bem que deu vontade de dizer na cara da professora Rafaella que você estava na cama com a Mariana. Queria ver a reação dela ao saber que te perdeu.

— Perdeu? – o olhei meio sem graça – Claro! Perdeu mesmo. – encostei minhas costas no sofá – De qualquer forma, Ari, Rafaella não se importaria com isso.

— Esquece a professora, Bia! Me diz como foi com a Mariana?

— Foi bom... – sorri pelo canto da boca pensativa – Foi muito bom! – me levantei – Cara, estou morrendo de fome! Cadê a Dona Laura?

— Caraca! – exclamou começando a rir – Isso que eu estava tentando lembrar, Bia! – se levantou também deveras empolgado com o que tinha para dizer – A Dona Laura chegou hoje de manhã na hora que eu estava saindo pro colégio... – tentou conter o riso – Eu... Eu esqueci de avisar para ela que não precisava arrumar o quarto da Mariana e... – ele quase não conseguia falar, agora era gargalhada mesmo.

— Desembucha, cara! – pedi já imaginando o que tinha acontecido.

— Bia! É muito engraçado, escuta... – pediu – Eu encontrei com ela agorinha, antes da sua mãe ligar, saca? Ela estava pálida! Quando me viu, disse assim: “Meu Deus do céu! As duas meninas estão sem roupa lá no quarto. Eu já vou embora, Ari. A casa tá arrumada, o almoço tá pronto...” Bia! Tinha que ver a carinha dela. Tadinha! – completou.

Eu ri também.

— O que você disse para ela?

— Eu? Bom, eu disse para ela não esquentar porque vocês só estavam sem roupa por que fez muito calor essa noite. – respondeu e riu ainda mais.

Fiquei imaginando a cara da Dona Laura quando nos viu. Ela é uma senhora na faixa dos sessenta anos, mas a questão não é a idade dela e sim o fato da mulher ser deveras religiosa. Beata mesmo! Daquelas que se benzem por qualquer coisa, sabem? Deve ter pensado que o mundo estava acabando.

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Se vocês pedem, eu posto. 😏

Suddenly It's Love | História Rabia.Onde histórias criam vida. Descubra agora