12 Molhado

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Bia

Saí do restaurante com Sarah, me sentei em um banco em frente ao estacionamento vendo o caminhar de minha amiga até seu carro chique. Olhei para a minha calça jeans sofrida e minha camiseta já desbotada do meu antigo clube de leitura online que trazia a estampa "Meu boy literário é..."

Fechei os olhos, sinceramente, Matheus devia ter algum problema, o que diabos ele havia visto em mim? Perto das mulheres da faculdade, eu parecia mais um rato atropelado. Enquanto seus corpos esculturais e seus saltos iam e vinham por ali, eu... Desfilava meus muitos modelos de camisa nerd e moletons que elas não usariam nem para dormir. Além dos ALL stars roxos e acabados.

Olhei para o lado, e o vi se aproximando, de longe, o cabelo dele parecia ainda mais loiro, desarrumado de um jeito sexy, mas seu caminhar era tranquilo, não era exibicionista como a maioria dos caras. Ele também era adepto dos moletons e naquele dia, ele usava um preto, com a calça que devia ser conjunto. Com as mãos nos bolsos, ele se aproximou, parando na minha frente.

⸻ Vamos?

Assenti e fiquei em pé. ⸻ Para onde exatamente pretende me levar, senhor Matheus... ⸻ sorri porque não sabia seu sobrenome.

Ele olhou para cima pensando ⸻ Que tal um suco no shopping? Acho que é uma boa para conversarmos. E o sobrenome é Andrade. Quer um documento também? ⸻ brincou ele.

Na verdade eu queria um atestado de sanidade, mas acho que seria um pouco difícil de conseguir em pouco tempo.

⸻ Não, acho que já dá para o gasto. Aceito seu suco. ⸻ sorri.

E uma corneta começou a apitar na minha cabeça, eu precisava parar com as malditas frases de duplo sentido, aquilo era horrível. E eu me sentia péssima.

O shopping era perto dali, fomos andando, conversando sobre coisas aleatórias. Escolhi uma mesa e ele ficou encarregado de ir buscar os sucos, disse que ia adivinhar o sabor que eu queria, e disse, que se ele errasse, eu poderia jogar o suco nele.

Isso é que é confiança, senhoras e senhores! Mas obviamente eu não faria uma maldade dessas.

Alguns minutos depois, ele voltou. Colocou dois copos na minha frente e me olhou interessado. ⸻ Aqui, é esse! ⸻ disse me empurrando um dos copos.

Mordi o lábio, e o encarei, segurando o canudo e tomando um gole pequeno e receoso. Assim que o líquido tocou minha língua, arregalei os olhos.

⸻ Co-como você fez isso?

Ele sorriu e relaxou na cadeira a minha frente. ⸻ Pelo menos duas vezes por semana, sinto cheiro de maracujá em você, então presumo que seja seu preferido.

⸻ Tudo bem, agora estou começando a ficar assustada.

Ele apoiou os braços na mesa me encarando ⸻ Podemos saber muitas coisas sobre as pessoas quando decidimos observar, sabia? Não foi por querer, eu desço sempre junto com você... E sou observador.

⸻ Isso eu já percebi, mas... Parece que você gosta mesmo de me observar, né?

Sorrindo ele tomou um gole de seu suco ⸻ Você é diferente, é real. Sabe, dá pra ver quando uma pessoa não força nada, não tenta agradar, só... É ela mesma.

Suspirei sem saber o que dizer. Então o meu jeito desleixado havia feito ele me observar... Aquilo era bem irônico porque fiquei daquele jeito depois de tanto brigar por não poder vestir nada. Acho que o tempo passou e acabei me acostumando.

⸻ Eu é que estou achando que você não é real... Sabe, algo como na Carrie a Estranha?

Dessa vez ele não riu, só ficou me olhando, talvez tentando entender.

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