3 Todo mundo sabe

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Matheus

"A gente se vê por aí?" Puta merda! Que idiota.

Não era isso que eu pensei em dizer a ela pela primeira vez em um ano e meio. Que trouxa! Eu estava mesmo vivendo a era da tontice, como minha mãe dizia. E eu que me gabava de ter passado a vida toda sem me sentir um babaca como os caras que eu conhecia com os dramas de "Eu não sei o que dizer para ela" pois é... Meu momento mágico chegou, paralisei, e tive que me lembrar de fazer perguntas triviais das quais eu já sabia a resposta só para ter algum assunto sem que a conversa fosse terrivelmente bizarra. Eu já sabia seu nome, eu já sabia o que ela estudava, em que período estava, e até mesmo a sala dela.

Apressei o passo em direção ao prédio. Estava com raiva de mim, mas ao mesmo tempo orgulhoso de não ter surrado a cara daqueles moleques, pelo menos os fones a pouparam de ouvir aquele monte de merda da triste sina adolescente que acha que uma mulher com a calça manchada é um espetáculo de circo, quando deveriam pensar na merda que aquilo era.

Entrei na sala, joguei a mochila na carteira e me sentei, precisava pensar, ela estava com a minha blusa e me procuraria para devolver, tinha certeza, então de um jeito ou de outro, eu teria outra chance.

Vi a porta da sala se abrir e revirei os olhos ao ver Molly me estudando com os olhos.

⸻ Bom dia, Math, você tem horário vago? Estou com dificuldade nos exercícios de fisiopatologia dos distúrbios do aparelho respiratório. Sei que a Carol vai fazer perguntas durante a visita a clínica, e...

Respirei fundo ⸻ É... Hoje não tenho, talvez na segunda. ⸻ respondi sem prestar atenção.

Pela visão periférica, vi ela se aproximando, não queria papo, não queria aquele tipo de atenção naquela hora.

⸻ Está tudo bem, Math? Você parece...

⸻ Tá... Tá tudo bem, a gente pode marcar na segunda, então?⸻ abri a agenda dos alunos esperando ela confirmar para marcar o horário.

⸻ Eu... Será que a gente não poderia marcar amanhã em algum lugar? Eu posso ir até a sua casa e....

Tirei os olhos da agenda para encará-la, não estava acreditando naquilo. ⸻ Não, não dá.. ⸻ a interrompi. ⸻ Meus finais de semana são cheios, desculpe. ⸻ olhei para o celular outra vez. ⸻ segunda tenho meia hora antes do laboratório, pode ser?

Meio chateada, ela assentiu ⸻ Tá, pode ser então, obrigada, Math.

Tentei um sorriso falso ⸻ Imagina, separa as questões e eu tiro suas dúvidas, a Carol segue sempre a mesma linha, então vou te preparar.

⸻ Ok, até mais, a gente se vê por aí. ⸻ disse ela se virando para sair e aquela droga de frase, voltou com tudo.

Sacudi a cabeça tentando acordar e me desligar daquilo, Bia também estava nervosa, o que era normal, estava envergonhada com o que havia acontecido, talvez eu não tivesse estragado tudo.

Deixei minhas coisas na sala e fui até o armário, as primeiras aulas daquele dia seriam preparação para a clínica na parte da tarde, então peguei tudo o que Carol havia me pedido para preparar a sala antes que os outros chegassem.

Estava quase terminando, quando Fabrício entrou na sala, ele, ao contrário de mim não precisava fazer aquele tipo de coisa para ter desconto, pelo contrário, ele era um dos caras mais ricos da faculdade, meu melhor amigo filho de uma fisioterapeuta e um cardiologista, na faculdade era mediano, preguiçoso mas com potencial.

⸻ E aí cara... ⸻ resmungou arrastando os pés até sua carteira ao lado da minha mochila jogada. ⸻ Quer ajuda?

⸻ Não, valeu, já acabei. ⸻ deixei os materiais na mesa e fui para o meu lugar, ainda faltavam uns dez minutos até a aula começar, e me virei para ele.

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