36 Eu vou contar

1.4K 198 142
                                    

Matheus

Eu esperava uma noite agitada, esperava um episódio de sonambulismo ou algo assim, mas ela apenas dormiu, quieta e silenciosamente. Ao contrário de mim, que a única coisa que me mantinha parado era ser usado como travesseiro por ela.

A minha vontade era tomar uma atitude, qualquer uma, eu tinha coisas demais em jogo, coisas que não valiam setenta mil dólares. Eu precisava encontrar a fonte, precisava saber como ela havia feito aquilo.

Que as pessoas eram mesquinhas, vaidosas e ardilosas eu sempre soube. Eu não fazia mal a ninguém além de a mim mesmo naquela pequena parte obscura da minha vida. Durante a noite pensei em tudo o que podia ser destruído pela manhã. Se mais pessoas da faculdade tivessem pago, porque eu sabia, Bia e Sarah não eram as únicas empolgadas com o "galã mascarado" o Cam boy diferente... Se aquilo se espalhasse, chegasse aos ouvidos dos professores. Pior, nos ouvidos da Carol... Minha professora mais dedicada e também assídua nas livres.

Enquanto eu pensava na tragédia da minha vida profissional, fiquei imaginando minha mãe, ou a Manu... Eu sabia dos riscos, mas... Acreditei que todos os cuidados em não deixar minhas duas vidas colidirem fossem suficientes.

Acho que cochilei por meia hora durante a noite, quando comecei a sentir meu corpo relaxar, senti um movimento brusco na cama, que me fez abrir os olhos.

Bia estava sentada,  a observei levar as mãos aos cabelos ainda úmidos e coçar  o couro cabeludo em uma postura nervosa. Em seguida, ela se virou para mim, como se seu rosto perguntasse se o que tinha acontecido havia sido um sonho.

Passei os dedos por seu braço perto de mim me sentando também ⸻ Você está bem?

Ela suspirou cansada, e se virou para mim, cruzando as pernas, afastando o cabelo e coçando os olhos.

⸻ Acho que finalmente estou sóbria. ⸻ disse ela, pouco a vontade.

⸻ Eu sinto muito, devia ter me falado sobre a hipoglicemia, eu teria cuidado melhor de você.

Ela fez uma careta quase indignada. ⸻ Vai mesmo falar do que eu devia ter falado?

Suspirei, tá bom, as coisas estavam indo pelo caminho que eu esperava antes...

⸻ Bia...

⸻ Você me deixou lamuriar sobre estar apaixonada pelo Konrad! Você mentiu para mim... Eu... Eu... Sério, acho que não consigo ser mais patética que isso na vida. Obrigada! ⸻ o tom raivoso me fez temer o pior.

⸻ Não... Eu... Não era minha intenção, Bia, eu não queria que você soubesse sobre isso nunca. Tem noção de como eu me senti quando você me disse isso? Que estava apaixonada pelo Konrad? E eu amando você há um ano e meio... Isso... Naquela hora, eu  quis te contar, mas... Fiquei com medo da sua reação.

Ela se aproximou de meu rosto, aparentava estar mais triste do que com raiva, e aquilo me doía tanto.  ⸻ Eu sabia o que as garotas iam fazer... Eu podia ter protegido você, eu podia ter te alertado! Eu já estava achando a ideia delas terrível, cheguei a desejar poder dizer isso a ele... ⸻ fechou os olhos inspirando ⸻ A você... Porque imaginei, que quem quer que fosse, se usava uma máscara era porque tinha uma vida fora de lá.

Acho que nunca fiquei tão chocado na vida, nem em um milhão de anos, esperava algo do tipo. Esperava tapas, palavras duras e um término que me jogaria em um mar de merda do qual eu não conseguiria sair por muito, muito tempo.

⸻ Eu tenho... Eu...

⸻ Me conta tudo! Eu quero saber de tudo! ⸻ exigiu.

Assenti me ajeitando na cama, sentindo meu peito se acalmar por ela pelo menos querer me ouvir. Como a boa advogada que ela seria, acho que eu devia ter previsto que ela precisasse de todas as partes antes de me condenar.

Meu Cam Boy Onde histórias criam vida. Descubra agora