53 Desconfiança e despedida

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Bia

Nem bem o dia havia amanhecido e eu já estava no hospital. Carol também já estava lá, na verdade, ela nem havia ido embora. Fui até a cafeteria do outro lado da rua e comprei dois cafés, voltei e me sentei ao lado dela na sala de espera. As cadeiras azuis vazias faziam com que eu me sentisse menor ali.

⸻ Obrigada. ⸻ disse ela pegando o copo e tomando um gole grande.

⸻ De nada. ⸻ falei sem graça. ⸻ Teve alguma notícia? Eu nem consegui dormir, devia ter ficado aqui.

Ela balançou a cabeça e estendeu a mão para segurar a minha.

⸻ O chefe da UTI disse que ele não passou bem a noite. ⸻ falou lutando com as lágrimas. ⸻ Sabe, Bianca... Na nossa profissão, costumamos dizer que só podemos ir até certo ponto. O resto depende dos pacientes...

Fiquei confusa  ⸻ O que quer dizer?

⸻ Eu já vi casos onde tudo apontava para recuperação... E já vi casos onde algo simples se tornou complicado...

⸻ Você está dizendo que... Que talvez ele esteja desistindo? É isso?

⸻ Eu não sei... É só que... Eu sei que ele ainda não se recuperou da morte da mãe dele... E... Não me leve a mal, mas não existia nada mais importante para ele....

Tentei não levar para o pessoal. ⸻Eu sei. Eu, de verdade eu entendo, a mãe dele era tudo. Afinal, ser escolhido é mais forte que só nascer de alguém. O fato de ele ter sido abandonado deixou esse laço mais forte entre eles. ⸻ argumentei.

⸻ Ele não foi abandonado. ⸻ disse com pesar.  ⸻ Não como as pessoas pensam. ⸻ Ela se levantou ⸻ Eu vou ver se você pode entrar, acho que será bom para ele ter você por perto.

E se afastou de mim antes que eu pudesse agradecer. Aquilo foi a coisa mais estranha. Porque ela estava falando dele com tanta propriedade? Que tipo de professora ela é?

Me levantei também ⸻ Carol! Espera. ⸻ engoli em seco ⸻ Você conhece a mãe dele? A mãe biológica?

Ela me deu apenas um sorrisinho triste e caminhou para as portas que levavam para o interior do hospital.

Me sentei atordoada. Será que eu estava ficando maluca? Será que...

⸻ Oi! ⸻ Sarah se sentou ao meu lado segurando um bolinho.⸻ Trouxe para você, Patolina, não pode ficar sem comer. ⸻ ela lambeu os dedos depois de colocar o bolinho com gotas de chocolate na minha mão.

Olhei para o bolinho pensando longe.

⸻ O que você tem? Tá com aquela cara de dor de barriga, aquela quando você quer corrigir uma questão de prova na frente do professor.

Suspirei ⸻ A Carol acha que o Matheus não quer melhorar, disse que ele não passou a noite bem... E... Ela falou sobre a mãe dele.

⸻ A mãe dele?

Assenti ⸻ Eu vou te falar uma coisa, mas se achar que for muita maluquice, você pode me dar um tapa e esquecer?

Ela pareceu preocupada pela primeira vez. ⸻ O que?

⸻ Eu acho... ⸻ meu peito doeu e senti minha barriga gelada. ⸻ Acho que a Carol é mãe do Matheus, a mãe que deixou ele...

Ela fechou os olhos fazendo careta e baixou a cabeça.

⸻ É loucura, né? É claro que é... Isso seria ridículo. ⸻ soltei o ar. Eu só precisava colocar para fora para saber o quanto aquilo parecia absurdo.

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