45 Dores

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Bia

Não me importei com a ligação batida na cara. Eu já sabia como ele era, sabia que seu jeito sempre o levava a ser sozinho, fechado, mas isso não significava que eu não poderia fazer nada. Limpei o rosto e chamei minha mãe para que ela me levasse até a casa dele.

A rua estava quieta mas em frente a casa dele haviam três carros, um deles luxuoso que imaginei ser do Fabricio.

Bati no portão e Manu me recebeu, já estava me esperando, havia mandado mensagem para ela. A abracei forte, seu rosto estava inchado assim como o meu.

⸻ Ele está trancado no quarto, Bia... ⸻ disse ela com pesar.⸻ Ele tentou muito salvá-la... Ele...

Afaguei seu cabelo ⸻ Eu sei, Manu. Eu sinto muito mesmo.

Entrei com ela, indo até a sala. Fabrício se levantou do sofá e me deu um abraço de leve. Junto dele estava uma mulher alta de cabelos castanhos e olhos claros que eu não conhecia e um homem também alto mas os olhos eram verdes.

⸻ Bia, essa é a Carol, nossa professora, e esse é meu pai. ⸻ ele nos apresentou e apertei as mãos dos dois. Não pude deixar de achar estanho que uma professora estivesse ali. ⸻ Essa é a Bia, a namorada dele.

A mulher apertou minha mão um pouco mais forte. ⸻ É um prezar conhece você, Bia. Que pena que nessas condições.

Dei um sorriso fraco e soltei sua mão concordando antes de me virar para Fabrício. ⸻ Será que ele fala comigo? Ele bateu o telefone na minha cara. ⸻ falei baixinho para ele.

⸻ Acho que sim, você já conseguiu muito, ele nem me atendeu.

⸻ Eu vou tentar.

Dei mais um aceno para eles e vi Manu e, devia ser a mãe dela ao lado na cozinha. Mas não estava a fim de falar com ninguém... Só com ele.

Coloquei a mão na maçaneta por desencargo de consciência, a porta estava trancada.

Bati de leve. ⸻ Matheus, sou eu... Abre. ⸻ falei com autoridade, mas nada aconteceu.

⸻ Matheus... por favor... eu preciso ver que está bem.  ⸻ dei mais alguns instantes, colei o ouvido na porta, mas nada, não havia som algum. ⸻ Se não abrir a porta agora, você nunca mais vai me ver. É o que quer?

Esperei alguns minutos e ouvi a chave sendo virada, não esperei que ele abrisse a porta, a empurrei e entrei em seu quarto o abraçando.

Estava sem camisa e já havia tirado a maquiagem que cobria a tatuagem na clavícula. A palavra mãe tatuada ali em letras bonitas com asas de anjo muito delicadas ao redor.

Segurei seu rosto, ele não estava chorando, mas parecia ter chorado bastante. Seus olhos estavam cheios de dor, como se brilhassem refletindo tudo o que ele queria esconder.

⸻ Eu estou aqui. ⸻ beijei sua bochecha. ⸻ Se ainda quiser ficar sozinho, vou ficar sozinha com você.

Ele passou os braços por mim, me apertando sem muita força e ainda assim os senti trêmulos.

⸻ Me desculpe... ⸻ sussurrou ele.

Fechei os olhos balançando a cabeça negativamente ⸻ Não precisa se desculpar. Está tudo bem, tá?

O puxei até a cama e o coloquei sentado ali.

⸻ Você sabe que eu não vou deixar você, não sabe? ⸻ ele balançou a cabeça, e segurei suas mãos. ⸻ Eu vou ficar aqui, mas prometo que não vai ouvir de mim nenhuma daquelas frases inconvenientes sobre isso. Eu sei que está doendo e não vai deixar de doer. Mas eu vou ficar aqui e vou te ouvir se quiser falar, vou ficar quieta se assim você se sentir melhor, só não me deixe de fora.

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