Bia
Estava no banco da frente do carro, ao lado da senhora Narumi, com Vic no banco de trás, eram quase oito horas quando ela estacionou em frente a minha casa.
Me virei para agradecer, mas ela segurou uma de minhas mãos.
⸻ Sua mãe está em casa? ⸻ perguntou com a mesma voz que parecia me afagar por dentro.
Fiz que não com a cabeça ⸻ Não, ela trabalha a noite toda, chega em casa pela manhã, mas de verdade, não se preocupem, eu vou ficar bem, vou trancar tudo, e... Eu tenho o Cent, não vou ficar sozinha.
Vic bufou no banco de trás. Ignorei a malcriação porque estava na frente da mãe dele.
⸻ Tudo bem, qualquer coisa você pode nos ligar, tudo bem?
Assenti ⸻ Claro, muito obrigada pela carona, eu... Nem tenho como agradecer.
⸻ Imagina querida, tenha uma boa noite.
Lhe dei um beijo na bochecha de despedida e saí do carro junto com Vic que iria para o banco da frente.
⸻ Não quer que eu fique com você?
Sorri meigamente e afaguei seu cabelo ⸻ Eu agradeço, Vic, mas de verdade, eu vou ficar bem.
Meio a contra gosto, ele assentiu entrando no carro. Eles não saíram, esperaram que eu abrisse o portão e andasse pelo pequeno meio jardim da frente até a porta de casa, e só quando a abri, acendi as luzes e Cent correu para mim é que ela me deu um tchau de dentro do carro e partiu.
Tranquei a porta assim que entrei. Me sentei no sofá enquanto Cent pulava sobre mim, fazendo festa.
Ali, sozinha, quando enfiei minha cara no meio daquele pelo fofo reconfortante, foi que me dei conta de o porque eles estavam tão preocupados comigo, quando olhei meu pulso quase com a marca perfeita dos dedos dele, as minhas entranhas se retorceram, Felipe podia ser relapso na relação, podia ser estressadinho na maioria do tempo, ele chegou a se exaltar algumas vezes comigo, mas nunca havia me machucado, não fisicamente pelo menos... Aquele era o tipo de coisa que eu sempre disse a mim mesma que jamais aceitaria.
Cent estava desesperado ao me ver chorando, a impressão que eu tinha era a de que ele sabia tudo, que ele entendia sem que eu precisasse falar. Ele sabia que eu estava triste e estava tentando de tudo para me animar, chegou a jogar três de seus brinquedos favoritos no meu colo, a bolinha laranja, um ursinho mastigado e seu favorito, um corpo de Barbie sem a cabeça.
Sorri afagando sua cabeça, e cheguei a jogar a bolinha para que ele fosse a atrás, pelo menos ver ele se divertindo me acalmava um pouco.
Mas ouvi um barulho do lado de fora e me encolhi, percebendo o quanto eu estava assustada, os barulhos seguintes me fizeram relaxar um pouco, era outra vez, os gatos no telhado.
Ouvi meu celular dentro da bolsa e o peguei vendo três mensagens do Matheus.
Oi Bebê. Está tudo bem?
Bia, você ainda não chegou?
Me liga quando estiver em casa, tá bom? Te amo❤️
Respirei fundo e apertei o ícone da ligação. Ele atendeu no meio do primeiro toque, como se estivesse com o telefone nas mãos.
⸻ Oi Bia. Estava esperando você ligar, tive uma ideia de....
⸻ Matheus... ⸻ falei séria, e não consegui disfarçar a voz embargada. Ele se calou na hora, mas eu não conseguia dizer nada.
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Meu Cam Boy
Roman d'amourBia acabou de por um fim em um relacionamento de sete anos que se arrastava só por boa vontade. A choradeira pelo término não veio, mas a sensação de liberdade abriu seus olhos para todas as possibilidades. Para aliviar as noites de solidão pós es...