Bia
Cheguei em casa perto das nove, estava um caco e tinha, outra vez, pego ônibus lotado, tinha certeza que haviam teias de arranha no meu cabelo e que minha cara estava cheia de pó. Desci no ponto próximo a minha casa, e me arrastei até lá.
Cent me recebeu com festa e vi o bilhete da minha mãe, colado na tv.
Tem comida na geladeira, já alimentei o Cent, se ele deixar algum presente pela casa, por favor limpe! Te amo.
Tirei o papel cor de rosa da tela e liguei a tv. Estava passando novela, então zapeei para algum canal de clipes, não estava a fim de assistir nada. Deixei minhas coisas no quarto e fui até a geladeira, peguei o prato preparado e enfiei no micro-ondas. Aproveitei o tempo para pegar o meu exemplar de "Os grandes julgamentos da história" Era uma leitura sempre válida, e um dos professores havia passado um trabalho sobre um caso que tinha ali. Me joguei no sofá com o livro no colo e o prato apoiado sobre o braço do sofá.
Estava comendo sem prestar atenção, levando garfadas a boca lendo uma das minha partes favoritas, quando um bando de gatos começou a fazer algazarra no telhado, e Cent ficou desesperado, só tive tempo de arregalar os olhos quando ele saiu correndo e saltou sobre o braço do sofá virando o prato de comida sobre mim e sobre o livro.
Meus olhos se encheram de lágrimas antes mesmo de baixa-los para o estrago.⸻ Minha edição de capa duraaaaa! — gritei já sentindo as lágrimas.
Cent me olhou assustado, me levantei correndo, levando o livro para a cozinha e passei o guardanapo sobre as páginas. Infelizmente todo o caldo do feijão se infiltrou no meio do livro e eu conseguia prever a catástrofe.
Quando voltei para a sala, Cent já havia comido toda a comida que havia em meu prato. Inclusive os feijões, nada recomendável para cães.
Meu Deus! Só pode ser castigo. Não tinha como aquele dia ser pior.
Resolvi mudar todos os planos, limpei toda a sujeira na sala, tranquei a casa, apaguei as luzes e chamei Cent para o quarto, coloquei o livro aberto na minha mesa de estudos perto da janela para "secar" liguei o computador e dei aquela olhada rápida em tudo que eu costumava normalmente, inclusive em um fórum de discussão de alunos de Direito. É, eu era nerd mesmo, inquestionavelmente nerd.
Ouvi o toque baixo de meu celular, abri a mensagem da Sarah e era um pintão de borracha balançando para lá e para cá na tela, com brilhos e caras de personagens de anime fofas e ao mesmo tempo safadas como Vic adoraria ver.
Peguei o celular segurando o botão do áudio.
⸻ Você é a pior amiga do mundo! Eu te odeio Sarah peito de plástico! ⸻ Gargalhei no final.
Alguns segundos depois, ela me mandou um áudio também.
⸻ Eu sou sua melhor amiga, sua ingrata! E pra te provar, vou te mandar um link, pega aí.A mensagem seguinte era apenas o link, e confesso que fiquei com medo de abrir.
Mas já estava na chuva, uns pingos a mais, outros a menos, não mudaria nada.
Peguei o notebook e fui para a cama, Cent se ajeitou comigo, virando uma bolinha encostada nas minhas coxas, ainda estava com raiva dele, mas não conseguia resistir àquela cara de urso.
Peguei o link, respirei fundo e cliquei.
O site gringo era todo escuro com escritos vermelhos, haviam janelas com homens de tanquinhos a mostra silhuetas de pintos em shorts molhados e muito mais... Tapei meu rosto. Mas a que ponto eu cheguei? Eu uma menina da família tradicional brasileira, a certinha estudiosa, com fogo na calcinha? Era o fim do mundo, só podia ser.
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Meu Cam Boy
RomanceBia acabou de por um fim em um relacionamento de sete anos que se arrastava só por boa vontade. A choradeira pelo término não veio, mas a sensação de liberdade abriu seus olhos para todas as possibilidades. Para aliviar as noites de solidão pós es...