54 Livre com você

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Bia

As palavras da Carol nunca fizeram tanto sentido. Durante três dias, ele sofreu duas paradas cardíacas como se realmente tentasse não voltar. Durante três dias eu fiquei naquela sala de espera, com a Sarah, com minha mãe, com os Takeshi... Eles se revezavam, mas eu me recusava a sair de lá. Eu sentia que se eu tivesse pelo menos um pouquinho de importância para ele, que ele iria acordar, que ele saberia que eu estava lá.

E foi assim, que passei aqueles dias, carregando as alianças comigo, esperando a chance de estar com ele, de ver aqueles olhos azuis que me deixavam tão perdida quanto a voz dele, o cheiro dele. A dor massacrava meu coração porque eu o queria de volta e faria qualquer coisa, qualquer coisa para que ele ficasse bem.

Quando recebi a notícia de que ele havia finalmente acordado, era uma tarde chuvosa, foi em poucos minutos em que Sarah  havia saído para comer alguma coisa, e Fabi disse que precisava passar na faculdade antes de voltar. Carol parou em minha frente, e eu mal reconhecia seu rosto, nunca a vi sorrindo tanto. Ela segurou minha mão e não foi preciso palavras.

Me levantei e me lembro de cada passo até a porta e pelo corredor branco e largo até a UTI, primeiro o vi pelo vidro, estava deitado, mas seus olhos estavam abertos, o hematoma no rosto estava desaparecendo assim como meu.

Carol me abraçou forte antes de me deixar entrar. ⸻ Ele está chamando por você... Traz nosso garoto de volta, Bia... Se lembra do que eu disse? Eu só vou até certo ponto, o resto é com ele... E com você.

Eu sabia o porquê do aviso, o quadro dele ainda inspirava cuidados, e apesar da cirurgia ter sido bem sucedida, mesmo quando ele saísse do hospital ainda teria um longo acompanhamento para seguir.

Segurei sua mão mais forte. ⸻ Ele já voltou. ⸻ sorri para ela ⸻ agora temos que dar motivos para que ele queira ficar.

Ela assentiu entendendo o que eu estava tentando dizer.

Com o coração batendo na garganta, Pedro, o responsável pela UTI, me deu passagem pela porta, as outras três camas estavam ocupadas, mas separadas por cortinas. Eu nem sabia se tinha forças. Mas estava morta de saudade dele. Estava me sentindo completa outra vez, e... Tinha a sensação de borboletas no estômago como se o estivesse vendo depois de meses, e não dias. Tudo em mim amava Matheus e... Meu Deus, eu queria que ele esquecesse o que eu disse, aliás, não sabia o que se passava pela cabeça dele, e tive medo, muito medo de sua reação. Ele podia me odiar, ele podia não querer mais chegar perto de mim depois de tudo, e eu entenderia... Eu acabei com a vida dele... Eu... Mudei tudo.

Tremendo, parei ao lado de sua cama. Estava apavorada e chorando tanto que não consegui dizer nada.

Devagar, ele virou a cabeça na minha direção, aquele azul fez minhas pernas fraquejaram por um momento.

⸻ Oi amor. ⸻ sussurrei chorando.

Ele sorriu também com os olhos cheios de lágrimas. ⸻ Oi bebê.
⸻ respondeu com a voz rouca.

Desabei no choro baixando os olhos. Os dois braços dele tinham acessos e seu rosto estava pálido, ele parecia estar mais magro também.

⸻ Me desculpa. Por favor, me perdoa... Eu...

Ele mexeu os dedos levemente pedindo minha mão, e a apertei sem saber o que fazer.

⸻ Você não deve desculpas, bebê. Estou feliz que esteja bem. ⸻ sorriu, mas olhou minha testa. ⸻ Você se machucou?

Sorri limpando as lágrimas. ⸻ Não. Eu... Eu estou melhor do que eu merecia estar. Você me assustou, eu... Fiquei com tanto medo.

Ele piscou confuso ⸻ Faz tempo que estou apagado?

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