Bia acabou de por um fim em um relacionamento de sete anos que se arrastava só por boa vontade.
A choradeira pelo término não veio, mas a sensação de liberdade abriu seus olhos para todas as possibilidades.
Para aliviar as noites de solidão pós es...
Havia uma parte pequena, quase que minúscula de mim que estava aproveitando o momento de ser cuidada. Eu não tinha muito disso.
Sarah mesmo, se pudesse, me colocaria em um cercadinho com uma chupeta na boca para ficar embalando meu sono.
Os Takeshi estavam em peso no antiquário, e decididos a me proteger a todo custo. Como se eu estivesse ameaçada, sei lá, por um grupo terrorista do Iraque, e não por um sujeitinho que não sabia onde enfiar o pé na bunda que levou.
Matheus então... Minha nossa, eu sentia que ele estava fazendo um esforço sobrehumano para tentar cuidar de mim, e tudo o que eu menos queria era levar para a vida, aparentemente já tão corrida dele, os meus dramas.
E tinha que confessar, eu não esperava que ele fosse lidar tão bem com aquilo. No fundo, eu o queria do meu lado. Poxa, toda mulher, por mais forte que seja, ainda quer ser cuidada, ainda quer se sentir acolhida, eu pelo menos queria, dentro da futura advogada forte e decidida, ainda habitava a Bia romântica que queria um príncipe, não para ser salva, mas para ajudar a passar pelas coisas ruins e aproveitar as boas. E Matheus era... Sem sombra de dúvidas esse cara. É claro que eu não podia exigir muito dele, afinal, estávamos nos conhecendo melhor, era difícil juntar duas vidas tão rápido. Minha rotina, a dele, e essas loucuras todas. Mas até onde minha sanidade conseguia ver, estava tudo bem. Os dias estavam passando, e com isso aquela ânsia de medo, aquele choque inicial começou a diminuir.
Até mesmo minha mãe havia trocado os turnos nos três dias seguintes e estávamos conseguindo até jantar juntas, quase sem brigas.
Se uma coisa boa tivesse saído daquele incidente, eu podia contar essa como uma.
Também com a força de vontade tirada não sei de onde, estava já há três dias sem minhas doses noturnas do Konrad. Meu coração ainda se agitava só de pensar nele. Mas a lembrança de ter a cara daquele nojento tão perto de mim mais uma vez, me dizendo aquelas coisas, me acusando... Isso limava qualquer vontade de qualquer atividade safada.
Eu só queria o Cent, e falar com Matheus até eu estar com sono para dormir a noite toda, e assim, terminei a semana...
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Matheus
Só com a força divina consegui terminar aquela semana, e estava tão atolado, que dispensei até mesmo nosso costumeiro jantar de sexta, resolvi ter uma rodada dupla de trabalho naquelas noites para compensar o prejuízo.
Quando desci, elas já estavam terminando a sobremesa. Sorri para Manu, e dei um beijo na cabeça de minha mãe.
⸻ Desculpe faltar ao jantar, estão maratonando o que? ⸻ perguntei me sentando com elas e me servindo de um grande copo de Coca-Cola gelada, na esperança daquilo me dar energia, já que café nunca tinha sido minha praia.
Manu terminou de mastigar seu pudim. ⸻ Barraca do beijo. E estou dizendo a tia Tânia que não tem a mínima chance de a Elle trocar o Noah pelo camisa florida aí.
Sorri para minha mãe, que também estava se deliciando com o doce.
⸻ Mas os dois são ótimos. ⸻ retrucou minha mãe rindo.
Manu assumiu sua postura de defensora ⸻ Não! Fala sério, tia, o cara estava visivelmente dando em cima da Elle, sabendo que ela tem namorado! É um canalha.
⸻ Mas o outro estava longe, e dando indícios de que estava enfeitando a cabeça da coitada...
⸻ Só porque a Elle não confia no taco dela... Mas tá, aquela amizade do Noah com a outra lá, estava estranha mesmo... Só que é menos grudenta do que a dela com o Lee... ⸻ ela bufou ⸻ Nossa tão difícil isso... Ninguém acredita em amizade entre homens e mulheres.
Fiquei rindo sozinho acompanhando o debate fervoroso entre as duas, Manu tinha um gênio forte, justo e divertido, eu amava vê-la, como ela mesmo dizia, militar. Intimamente eu torcia para que toda a geração dela fosse daquele jeito, tinha uma pequena esperança a mais no mundo. A conversa estava tão acalorada que por um momento me senti culpado por ter perdido o filme, geralmente adorava ficar contra a Manu para ver ela irritadinha, até isso eu estava perdendo...
⸻ ...não é verdade, amor?
Pisquei meio atordoado, olhando para elas.
⸻ O que? Desculpem, eu viajei aqui.
⸻ Está tudo bem, mesmo, querido? ⸻ o tom brincalhão se foi, e agora o olhar de minha mãe era preocupado.
⸻ É Math... Tá estranho. ⸻ Manu concordou.
⸻ Não... Eu só ando cansado mesmo. ⸻ as tranquilizei.
⸻ Como foi a manitoria? ⸻ minha mãe insistiu.
⸻ Ah... Ótima, está sendo bom poder fazer isso de casa também, meus horários na faculdade estão mais apertados com os almoços com a Bia...
⸻ E como vai o namoro? Quando vai trazer minha nova prima aqui? ⸻ Manu juntou as mãos fazendo um coração.
Tentei sorrir, mas deixei meus ombros caírem, é, talvez fosse uma boa ideia convidá-la para um jantar ou qualquer coisa assim.
⸻ Bom, eu... Posso ver se ela pode vir amanhã. ⸻ olhei para minha mãe. ⸻ Fabi vem me buscar depois do almoço, se der tudo certo, trago ela para cá depois.
⸻ O que tem que dar certo? Aonde vai com o Fabi? ⸻ Manu ficou alvoroçada na cadeira.
Me levantei afagando a cabeça dela. ⸻ Tá perguntando demais, pirralha.
Ela fez beiço. ⸻ Vou pedir para a minha mãe pra ficar aqui então. Se a Bia vier quero aproveitar.
Minha mãe tapou a boca segurando o riso e encarei as duas ⸻ Aproveitar o que?
⸻ Pra contar todos os seus podres, ué... Eu te amo, mas quero praticar a solidariedade feminina.
Até eu tive que rir ⸻ Que história é essa? Desde quando eu tenho "podres?".
Ela se levantou para me abraçar ⸻ Ora, Math... Você é um chato que só pensa em estudar, ela tem que saber que ficar com você é estar condenada a uma vida sem festinhas.
Me inclinei lhe dando um beijo na bochecha. ⸻ Sinto informar você Manu, mas a Bia é ainda mais estudiosa que eu. E ela também não curte festinhas.
Sua boca se abriu de indignação. ⸻ Meu Deus, que nervoso de vocês... Não sabem mesmo aproveitar a vida.
Gargalhei com minha mãe, Manu era mesmo uma figura.
Depois de lavar os pratos, coloquei minha mãe em sua cama, tranquei a casa, dando um aviso a Manu de que ela teria só até meia noite na TV, ela tinha hora para dormir ali, subi para meu quarto, olhei meu celular, pensei em ligar para ela, mas desisti, precisava de foco naquele momento.
Tranquei a porta, abri a tela bloqueada do meu PC, e vasculhei como os últimos dias a imensa lista de nomes. Nada... Ainda bem...
*****
Tá, eu sei o que vão dizer... Que agora vocês sabem que o Matheus é o Konrad🤭
