30 - Trauma (Yunho)

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~Yunho On~

   Faz muito tempo que eu tô aqui esperando e nada desse homem aparecer. Olha, quanto mais tempo se passa, mais velho eu fico, e eu tô começando a sentir as rugas surgindo em meu lindo rosto.

   - Ei, você - digo me referindo ao homem parado ao lado da porta, o me trouxe e me deixou sentado aqui sem mais nem menos. Mesmo eu chamando, ele não tem reação alguma. - Eai, qual o seu nome? - Nada. - Você não tem nada pra comer aí com você? - Nada. - Pelo menos uma água? - A única resposta que eu tenho é um longo suspiro. Eu me afundo na cadeira e cruzo os braços. Eu tô cansando já. Depois de mais alguns longos minutos, o homem finalmente resolve aparecer. Não é como se eu estivesse feliz em ver ele, mas não aguentava mais esperar. Sinto como se minha linda bundinha estivesse quadrada nesse momento.

   - Parece irritado, Yunho. - Eu reviro os olhos e bato palma sarcasticamente.

   - Que ótima descoberta, meu caro. - Ele solta um pequeno riso nada verdadeiro e se senta na cadeira que tem na minha frente.

   - Sua história não é tão chocante, não é? - Eu o encaro e levanto uma sobrancelha.

   - Você quer mesmo usar a palavra "chocante"? Logo pra mim? - Ele ri e balança a cabeça.

   - O que você me contou no começo, foi muito vago, não acha? - Eu fico quieto. - Vai me contar o que realmente aconteceu lá? - Eu apenas o encaro. - Vamos, não se faça de difícil, ainda tem mais 4 salas pra visitar. - Eu respiro fundo e olho para o chão.

   - Meu pai era mesmo cientista, mas era obcecado por isso. Ele era brilhante, e por muito tempo ele foi meu modelo, eu queria ser como ele. Mas aí as coisas no trabalho dele começaram a dar errado, ele começou a ficar mais frustrado, e para abafar isso, ele bebia. - Minha visão começa a ficar embasada com as lágrimas que estão surgindo. Eu rapidamente passo a mão para seca-las antes de continuar. - Depois de algum tempo, isso virou um vício, e quando ele bebia, ele descontava sua frustração em mim. Quanto a banheira de choque, eu havia visto ele fazer antes, naquele momento... minha intenção era acabar com tudo aquilo. - Eu olho ele nos olhos e vejo que está sorrindo, chega a ser assustador. - Depois que consegui a habilidade saí de casa. Eu morei com um amigo por um tempo, ele gostava dos meus poderes, mas seus pais descobriram e me entregaram... para você. - Eu olho para o chão novamente.

   - Que história "eletrizante" - Eu o encaro com raiva. Estou contando uma história difícil e ele vem com um jogo de palavras horrível? Mereço mesmo. Ele para de rir e olha para o homem que estava perto da porta fazendo um sinal com a cabeça para o mesmo sair. Ele volta a olhar para mim e sorri. Depois disso foi só silêncio enquanto eu tentava reprimir meu passado.

   Alguns minutos depois o homem volta carregando uma cadeira seguido por outros dois que arrastavam uma pessoa que não consegui saber quem era por causa do saco em sua cabeça. Eles prenderam a pessoa na cadeira e os que a arrastaram até aqui saíram. O que ficou, foi para trás dela e tirou uma arma do cinto. Estou com um mal pressentimento. O saco foi retirado e...

   - P-pai? - Ele me encarou não podendo dizer nada por causa da mordaça. O homem que está atrás dele aponta a arma para meu pai fazendo com que eu fique nervoso de repente.

   - Que lindo encontro entre os dois - O KQ fala se aproximando, aparentemente calmo demais para a situação. - Yunho, você já deve saber que não veio aqui para simplesmente se encontrar com seu pai. - Eu o olho nos olhos e sinto um arrepio com a intensidade do seu olhar. - Você deve fazer uma escolha aqui, ou você mata seu pai, ou mata o cara que vai matar seu pai, simples assim. - Eu olho novamente para os dois em minha frente.

   - E se eu não fizer nenhum dos dois? - Ele solta um suspiro como se já tivesse passado por isso antes. Será que os outros dois tiveram que fazer a mesma escolha?

   - Então os dois vão morrer. - Eu congelo. Eu não quero matar ninguém. - Você tem um minuto para fazer algo, começando.... agora. - Apesar do tempo correndo, eu não consigo me mexer. Mas então minhas memórias começam a vir a tona. Lembro dos momentos felizes que nós tivemos. Minha mãe nunca esteve com a gente, ela vivia viajando. Começo a sentir a eletricidade crescendo dentro de mim e alguns poucos pequenos raios azuis se debatem ao meu redor. Eu começo a caminha em direção ao homem que segura a arma.

   Conforme caminho, mais lembranças surgem. Mas, as ruins também começaram a aparecer. A primeira vez em que ele bebeu. A primeira vez que quebrou todo seu quarto com raiva. A primeira vez que me bateu.... Agora raios amarelos se juntaram aos azuis e sinto a potência aumentando cada vez mais, como se toda minha dor, tristeza, raiva, se tornassem a mais pura energia. Sinto KQ se afastando.

   Agora lembro das surras mais pesadas, quando ele me bateu ao ponto de eu desmaiar e ele simplesmente me deixou lá, largado, sem nem ligar pra como eu me sentia naquele momento. Lembro então da banheira... da água fria... da sensação de estar sendo totalemente queimado.... e explodo.

    Toda aquela energia que estava se acumulando enquanto eu lembrava se tornou uma grande bomba e explodiu. Lembro que KQ se afastou, ele sabia que isso ia acontecer. Eu caio de joelhos em meio a fumaça e então o cheiro de carne queimada me atinge me fazendo levantar a cabeça e olhar para frente. Estão queimados, pretos como carvão. O homem está caído enquanto o corpo de meu pai perna de sentado, mas sem vida.

   - E-eu matei eles... eu matei os dois... - Sinto alguém se aproximando e então algo sendo aplicado em meu pescoço.

   - Sim, criança, você matou. - Eu olho para seu rosto enquanto começo a me sentir extremamente fraco.

   - Você... Sabia... - e então, eu apago.

KQ Academy • Temporada 1Onde histórias criam vida. Descubra agora