Capítulo 1: Ilha do Norte

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    Parte 1: Ruínas

    Local - Ilha do Norte; 611 depois da Criação.

    Os trovões serviam de compasso para o ritmo veloz que aquele jovem imprimia naquele momento. As pesadas gotas despejadas pelas nuvens escuras escorriam por seu cabelo negro e sua capa cinzenta não mais continha a água, que agora ensopava suas vestes brancas. O rapaz seguia apressado, olhando para os lados tentando inutilmente identificar algo que não fosse as árvores compactadas e o chão repleto de folhas dos mais diversos tipos.

    "Acho que me perdi da trilha..." – Lamentou mentalmente para si enquanto diminuía drasticamente o ritmo.

    Agora, com passos curtos e calmos, ele olhou com mais atenção. Sabia que estava escuro e que sua tocha na mão esquerda fornecia pouca visibilidade, mas estava sendo o bastante para identificar o caminho até então... Depois de avaliar sua posição, hesitante, continuou correndo em frente. Decidiu que encontrar o caminho de volta para a trilha não era tão importante quanto achar um abrigo, pois logo sua tocha se apagaria e a última coisa que queria era vagar ainda mais às cegas. Ele correu por alguns minutos até que se abrigou em baixo de uma árvore que oferecia uma proteção suficientemente boa contra a chuva. Bem... Era melhor do que nada.

    Novamente checou os arredores, tudo parecendo igual, sem sinais de civilização, mas aquela região era conhecida, então manteve a calma. Uma hora ou outra encontraria uma vila, precisava apenas recobrar seu senso de direção. Quando pensou em se sentar para esperar a chuva passar, uma rajada de vento chacoalhou a floresta, assoprando as pesadas gotas em sua direção.

    - Ótimo... – Resmungou.

    Pôs-se a correr novamente, um raio solitário lembrando-lhe que não seria boa ideia ficar aos pés de uma árvore naquela situação. Quando menos esperava, o caminho se alargou subitamente e o jovem seguiu em frente, um pequeno lampejo de estar entrando nas proximidades de uma vila tomando forma. Notou que havia grandes objetos espalhadas pelo local e ele rapidamente dirigiu-se para uma delas.

    "O que temos aqui?" – Interrogou-se.

    Ele passou a mão pela forma sentindo um misto de texturas, mas era claro do que se tratava: Pedras e vinhas. Mas não era uma rocha sólida... Era algo diferente. Aproximou a tocha e seu pensamento se concretizou. Era uma parede de pedra coberta de trepadeiras, provavelmente de alguma antiga construção desmoronada.

    "Nunca vi isso daqui... E nem ouvi falar delas..." - Estava tão intrigado que se esqueceu da chuva ou do fato de que não havia encontrado uma vila.

    Continuou caminhando, averiguando o local. Parecia um velho vilarejo abandonado pelos locais e esquecido pelos Deuses. Ao continuar caminhando, deparou com uma estrutura colossal tão acabada que sua antiga forma era irreconhecível, mas com certeza era um abrigo, ou o jovem achou que fosse, já que tinha uma entrada e vestígios de um tipo de portão de madeira e ferro, agora podre e enferrujado. Estava tentado a entrar, mas deteve-se. Limitou-se a cobertura da entrada do local, só para se proteger da chuva, apanhou uma pedra no chão e arremessou-a, dentro do local.

    TAC, TAC, TAC. O som ecoava pelas paredes.

    O jovem estreitou os olhos e esperou, pousando sua mão livre no cabo do machado de combate que levava preso à cintura. Não era confortável estar ensopado, segurando uma tocha e se preparando para um possível combate -ou fuga desesperada-, mas era melhor que morrer vítima de um ataque de urso. Trinta segundos, um minuto. Nada. Arremessou outra pedra ainda mais longe. Trinta segundos, um minuto, dois minutos. Nada.

    - OLÁ?! – Gritou, sua voz ricocheteando até os confins do local.

    Trinta segundos, um minuto, dois minutos e meio... Nada. Se os bandidos estivessem fazendo aquele local de abrigo, já teriam saído para questioná-lo e se tivesse algum bicho lá dentro, dormia profundamente ou estava morto. Hesitou por uns instantes... E finalmente entrou naquele abrigo antigo. Estava abandonado há tanto tempo que ele podia ver o mofo crescendo nas fendas das pedras e era mais escura que do lado de fora, mas era seco, apesar de algumas goteiras. O útil era que a erosão causada por elas agora acumulava água em pequenos poços. O jovem se apressou em tirar a capa e deixou-a de lado.

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