Guerreiros do Norte

Capítulo 3: Prodígio

    Parte 1: A família Kaspar

    Local – Alvagarte - capital de Roldórnia; 616 d.C.

    - Atenção para o anúncio! Sua majestade, o Rei Vebern, acaba de refutar mais uma ameaça de Alao, leiam os boletins mais próximos!

    Roldórnia, o reino da sabedoria. Alvagarte, sua capital, ficava de frente para a fronteira com seus rivais, assim como a capital deles, Tauvan. A posição das grandes capitais em relação à outra não deixava os habitantes de ambos os reinos tranquilos. Alguns até dizem que a fundação delas foi proposital, como um desafio do tipo "Vamos! Invada-me, se puder!". Os moradores mais curiosos saíam às ruas para dirigirem-se aos murais mais próximos para entender mais a fundo qual foi a ameaça dessa vez, muitos se questionando se não seria melhor atacar Alao, pondo fim a essas ameaças diárias de uma vez por todas!

    A capital da sabedoria, como era chamada Alvagarte, reunia as maiores mentes do reino. A ironia é que os intelectuais estavam mais preocupados em usar sua sabedoria para criar armas de guerra do que para arranjar um jeito de por fim ao próprio conflito inerente aos dois povos rivais. Talvez o povo do trovão fosse tão orgulhoso quanto o povo do fogo. Uma das poucas exceções da história era o rei de Roldórnia, Vebern. O monarca tentou inúmeras vezes fazer as pazes com o rei de Alao, Morgan, mas este se mostrava tão teimoso quanto ameaçador.

    "Às vezes preciso me conter para não dar um murro na cara daquele boçal!" – Resmungava Vebern a seus secretários.

    O rei não aprovava a rivalidade entre os dois reinos, mas parecia que a peste já estava implantada na mente dos habitantes há mais tempo que ele podia imaginar. O que deixava a situação mais complicada era o fato de que Alao tinha uma neurose de que eles invadiriam seu reino a qualquer momento, então montava patrulhas ao longo de toda a fronteira e ainda acusava o rei Vebern de mandar capturar seus soldados. Isso certamente era impossível, já que Vebern restringiu todas as suas patrulhas ao limite de suas cidades e não nas fronteiras. Em resposta, Vebern culpou Morgan de aumentar os fatos e de colocar tantos soldados naquela floresta, afinal, o que não faltava lá eram ursos e lobos.

    A rotina do rei também era muito apertada. Ele precisava aprovar medidas de segurança, responder às cartas acusadoras diárias de Morgan, legalizar inventos de inúmeros inventores, cuidar da integridade do reino, corrigir taxas ou certificar-se de que elas estavam sendo pagas, dentre outros assuntos que não deixavam sua vida relaxante, como muitos pensavam. Para isso, ele contava com seus leais conselheiros do alto escalão do reinado: O visconde Bardley de Thundcoast, o barão Guildemore de Phaloris, os chefes da família Kaspar e outros homens de confiança, além do famoso inventor e filantropo duque Eniac Von Wolt de Forsyth, cujo propósito principal era financiar escolas avançadas de magos e tecnologia por todo o reino e era justamente em uma dessas escolas que estudavam os membros da família Kaspar há quatro gerações. A filial da Academia em Alvagarte era tida como a mais promissora na formação de novos intelectuais e inventores.

    A família Kaspar serve ao reinado de Roldórnia desde seu nascimento, se tornando uma das famílias mais nobres do reino. Ela era composta pelo conde Loranz Kaspar, ex-comandante do 4º Batalhão Real e agora, em idade avançada, servia como conselheiro de guerra; sua esposa, Justine e seus dois filhos: Norah e Phillip. Loranz tinha um irmão mais novo, Piers Kaspar, que era visconde de um feudo distante, cuja Escola de Guerra era referência em formar soldados do mais alto calibre.

    Norah tinha 17 anos e estudava na Academia de Magia e Tecnologia Von Wolt de Alvagarte desde os 5 anos, tinha cabelos loiros cortados na altura dos ombros, que prendia em um rabo de cavalo sempre que começava a trabalhar em um de seus inúmeros projetos. Ela era considerada a melhor aluna por todos os professores. Já Phillip foi condecorado com a medalha aluno exemplar do ano. Ele tinha 9 anos e seus professores na Academia sempre comentavam que ele seria um excelente escritor.