Capítulo 1 - Parte 4

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    Parte 4: O Templo


    A luz solar que passava pela fresta das tábuas das janelas incidia diretamente sobre os olhos fechados do jovem templário deitado em sua cama. Aquele elemento foi algo que sempre o ajudou a acordar na hora certa, porém, naquele dia específico, o que mais chamou sua atenção foi o canto próximo de dois sabiás que provavelmente fizeram ninho no beiral daquela janela.

    Com um bocejo cansado, Lucas sentou-se no colchão sem afastar a coberta de linho esfiapado. O canto o havia despertado antes do Sol, mas a noite não havia sido exatamente relaxante para ele... Removeu as mãos debaixo da coberta e as encarou, fechando-as e apertando-as como se fossem revelar mais sobre sua preocupação.

    Os ranger das tábuas do chão denunciaram o despertar de seus companheiros, que trocavam cumprimentos de "bom-dia" e vasculhavam o armário compartilhado em busca de suas vestimentas do dia. Lucas permanecia na cama, olhos fixos em seus punhos ainda em busca de satisfações.

    - Bom dia, companheiro! – Um jovem negro se aproximou e Lucas o encarou forçando o sorriso habitual.

    - Bom dia, Paulo. Como foi a noite?

    - Se eu não estivesse tenso por hoje, teria sido melhor.

    - Eu estou confiante! – Um rapaz de cabelos negros e chamativos olhos verdes se aproximou. – A única coisa que me atrapalhou um pouco foram os pássaros.

    - Pensei que tivesse sono pesado, Joshua. Tem certeza que não está nervoso? – Paulo pôs a mão no ombro do amigo.

    - Bom... Talvez um pouco. – Admitiu depois de olhar ao redor.

    Lucas encarou o amigo de infância. Joshua era um dos mais graduados, então sempre se preocupava em transmitir segurança para os mais novos. Sacudiu a cabeça, apertou os olhos para espantar o sono e finalmente apoiou os pés no chão, encaminhando-se para o armário, acompanhado dos amigos. Ele inverteu as vestes nos cabides, desfazendo-se da camisa para vestir o traje longo e branco junto das calças da mesma cor. Para prender a veste longa, amarrou a faixa vermelha na cintura, que também denunciava sua graduação elevada. Olhou para o lado e viu Paulo terminando de prender a faixa azul escura e Joshua, a vermelha. Eles três eram veteranos, na reta final da graduação máxima: a faixa preta característica de seu mestre e dos auxiliares.

    - Melhor descermos para a refeição da manhã antes que Diego coma tudo. – Joshua comentou, arrancando risadas dos templários ao redor.

    - Nunca vi alguém comer tanto quanto ele. – Comentou Carlos, um templário da faixa azul clara.

    - Ele chega até antes das crianças, chego a pensar de fato se não é uma delas. – Paulo comentou enquanto o grupo saia do grande quarto em direção às escadas de madeira.

    - Só eu que acho engraçado quando chegamos à mesa e tem aquele marmanjo atacando as comidas ao lado daquelas criancinhas? – João sorriu, arrancando mais risadas de concordância do grupo.

    Lucas se distanciava da conversa com seus passos mais largos que o habitual, descendo os degraus rapidamente rumo ao patamar onde a mesa de refeição era posta. Ele queria falar com seu mestre a sós novamente, a sabedoria dele com certeza o ajudaria a tomar a melhor decisão. Ou era o que se convencia. Forçou-se a respirar e acalmar seus pensamentos. Sabia que a oportunidade chegaria, não adiantava ficar nervoso.

    Ele sentia o ranger dos degraus abaixo de seus pés, como se o templo também sentisse e entendesse sua ansiedade. Quem sabe não era isso mesmo? Ele cresceu naquele local, adotado pelo mestre Damião ainda bebê e sentia-se confortável dentro daquela grande estrutura de pedra e madeira, cercado de pessoas de todas as idades. Até agora, pelo menos...

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