Capítulo Final - Parte 7

11 1 0
                                    

    Parte 7: Sobrevivam

    Havia sido uma longa caminhada até o planalto da Ilha. Quando chegaram, um mês atrás, Nilton se deparou com um clima bem mais frio do que esperava. Jhan e Sarradi explicaram que estavam bem no meio do planalto da Ilha, cuja vegetação foi substituída por um campo mais aberto e algumas concentrações de árvores mais resistentes ao frio da região. Isso porque eles haviam ultrapassaram a Linha de Sálori, a demarcação que limitava Frossen Sjel. A região da Deusa do Gelo mudava drasticamente a situação climática. O Estreito Continental, fronteira Isas-Sálori, era uma caminho marcado por essa brusca mudança climática e o caminho que percorreram na Ilha deveria estar ainda mais para além dessa demarcação.

    O plano era caminhar até uma das florestas de araucárias e montar um abrigo, onde poderiam ficar até que desistissem de persegui-los. O problema era que, quanto mais adentravam no planalto, mas frio ficava, menos árvores frutíferas resistiam e menos animais restavam. Seria complicado...

    Depois dos seis dias de caminhada ziguezagueando pelo terreno, conseguiram encontrar uma floresta decente com um riacho para fornecê-los água. Jhan falou que era possível comer as pinhas e que seria necessário montar muitas armadilhas para conseguir alimento. Então, para aproveitar e explorar o terreno enquanto as armadilhas eram postas, Nilton foi bastante longe, quase sempre em busca de alguma coisa que pudesse oferecer alguma esperança de fuga. Não seria preciso dizer que não encontrou nada, mas tinha a sensação que só não estava procurando direito, o que o deixava bem irritado. Ele descobriu que a parte noroeste era delimitada por falésias que percorriam todo o entrono do planalto até a parte sul da Ilha. Ele esperava que correr ainda mais para longe não fosse uma opção ou uma necessidade futura.

    A convivência com aqueles quatro não era a das piores. Jhan era um velho bem tranquilo, que não se importava muito com o azar. Sobreviver naquele lugar implicava lidar com todas as situações desvantajosas possíveis. Conviver com isso era fundamental para não acabar ficando louco... Já Kato era bem mais estressado que o normal. Preferia fazer tudo sozinho e não falava muito, mas não perdia tempo em repreender quem acabasse fazendo besteira e isso se resumia a Nilton, ou, o "novato idiota". Sarradi deixou a carranca de lado quando começou a tomar gosto por ensinar Nilton a se virar. A didática dele era impressionante. Boa parte dos truques de sobrevivência que Kato não compartilhava, Sarradi conseguiu entender só por observação. Também foi ele que ensinou a Denis sobre esse tipo de coisa. Sempre que Nilton e Sarradi resolviam caminhar juntos por motivos de segurança, já que o inverno se aproximava e os lobos e ursos começavam a caçar com mais ferocidade, ele contava algum truque, como observar pássaros para algum sinal de anomalia ou perigo, como escolher o lugar certo para as armadilhas e como usar o terreno para escapar de ursos. Como Nilton não podia recorrer a poderes que não tinha, Sarradi cobria essa parte. Por fim, Denis era um rapaz bem tranquilo, assim como Jhan, mas também era esperançoso ou "irrealista", como Sarradi descrevia. Ele evitava falar da família para não sentir mais saudades... Nilton achava isso bem triste, pois também considerava os Mercenários como uma família. Foi quando ele percebeu que já estava fora por um mês inteiro. Como será que as coisas estavam? Será que Nabal tinha conseguido e seus amigos estavam bem? Será que Balgor estava sob controle? Daniel e Lucas estariam bem? Estariam de luto com sua possível (e provável) morte? Ele gostaria de gritar "Eu estou vivo! Estou numa ilha a leste de Sálori compartilhando um barraco com quatro exilados que são gente boa enquanto somos perseguidos por carniceiros psicopatas! Se puderem vir me buscar, estou no aguardo!". Não que realmente fosse importar se o fizesse... Na verdade ele já tinha feito enquanto encarava frustrado o mar, acima das falésias à noroeste. Por injustiça ou egoísmo, pensou irritado, os Deuses não serviam como mensageiros.

    Naquele dia, Nilton ajudava Denis com a comida enquanto esperavam para ver se os outros retornavam com alguma coisa. Eles preparavam uma sopa com poucos vegetais, legumes e algumas ervas que serviam como tempero.

Guerreiros do NorteOnde histórias criam vida. Descubra agora