Parte 4: Náufrago
Nilton abriu os olhos. O sol ainda se escondia atrás de uma fina cortina de nuvens. Estava frio. Depois do fim da tempestade, Nilton continuou sendo levado para o sul. Ele olhava ao redor e só conseguia ver água, por todos os lados só tinha água. Ele se sentou e olhou mais para perto. Ainda estava tudo ali, pelo menos.
Quando caiu no mar e seus companheiros jogaram os barris e caixas de suprimentos para tentar salvá-lo, Nilton conseguiu se apoiar e depois subir no escaler, também jogado ao mar. Ele mandou que seguissem em frente, mas acabou com um grande problema nas mãos: como faria para voltar à terra firme? Ou melhor, conseguiria voltar antes de morrer?
Mesmo sendo atingido pela revoltosa tempestade, Nilton usou a corda de amarra do escaler para laçar e puxar os mantimentos caídos para dentro do pequeno barco. Não conseguiu pegar todos, mas só podia torcer para ser suficiente.
Ele estava à deriva há seis dias. Seis dias sendo empurrado pelo vento forte do alto-mar em direção ao Frossen Sjel, o mar das almas congeladas. Com isso, ele decidiu que seria melhor hastear a pequena vela e esperar que a velocidade extra o levasse mais rápido para a terra ou para a morte...
Olhou novamente para o horizonte. Nada.
Olhou para o céu. Dava para ver o sol passando da marca do meio dia, sua luminosidade filtrada pelas nuvens cinza-claro. Estava na hora do almoço.
Não tinha muita coisa para comer e o que tinha, estava salgado pela água do mar, mas não era como se tivesse opção. Comida crua era o prato principal durante esse tempo. Nilton descobriu que batatas não são tão saborosas quando comidas cruas e que as verduras tinham um gosto ainda pior depois do molho salino de onde as tirou. Ele odiava salada. A carne foi consumida o mais rápido possível para não estragar e não tinha como conseguir peixes na altura que estava.
Nilton suspirou e pegou uma batata. Era muito difícil planejar o quanto comer quando não se sabe quanto tempo ainda resta até chegar a algum lugar. Ele perdeu uma de suas facas de combate enquanto se debatia no mar e a outra estava ficando cega, mas era melhor que descascar no dente ou comer com casca e tudo.
Enquanto comia, foi notando que não tinha mais água e os suprimentos estavam acabando. Ele procurava evitar ficar pensando demais nisso, mas agora a situação estava crítica. Beber água contaminada não era uma opção e não tinha nenhum jeito de filtrar depois que já tinham caído no mar. Ele se desfez de muita água nesses dias e já estava com muita cede.
- Não adianta. – Disse para si mesmo. – Nesse ritmo, vou desidratar e morrer mesmo que ainda tenha batata pra comer.
Ele olhou novamente ao redor.
- Pelo menos é uma vista muito bonita. Mesmo que só tenha água...
Ele começou a imaginar como os outros estavam. A situação deles não devia estar tão ruim quanto a dele.
- Se estiver, estão em guerra ou mortos...
Nilton tinha adquirido o hábito de falar sozinho. Não que ele não o fizesse antes, mas agora estava mais frequente. Ele acreditava que servia um pouco para aliviar a tensão e se sentir ainda vivo.
- Bom, se Nabal estivesse no meu lugar, provavelmente já teria morrido de tédio. Bom saber que salvei uma vida de uma morte tão terrível.
Nilton terminou de comer a batata e algumas folhas de alface.
- Quem diabos trouxe alface?! Poderiam ter substituído por mais babatas!
Ele grunhiu e deitou-se novamente no chão de madeira. O balanço suave do escaler era como uma rede confortável. Ele usou os pés descalços para empurrar suas botas mais para trás e se espreguiçou. Recostando a cabeça na palma das mãos, resolveu tirar outro cochilo. Naquela situação, precisava gastar menos energia quanto fosse possível.
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Guerreiros do Norte
FantasyUm jovem templário em uma ilha precisa juntar forças com uma dupla de mercenários para salvar os aldeões de um bandido sanguinário repleto de lacaios. Um jovem alista-se no exército de seu reino para adquirir a força que precisa para vingar a morte...