Parte 2: A dupla de mercenários
.Local – Região sul da Ilha do Norte; 615 d.C.
- Ei, acorde! – Chamou um rapaz.
-... Já acordei... – Murmurou o outro enquanto se remexia na cama com colchão de palha.
- Vamos, temos um longo dia pela frente, Nilton. – Caminhava em direção à porta da casa.
- Tá bom, Daniel. Já estou levantando.
O rapaz se espreguiçou e estalou as juntas, pondo-se sentado na cama logo em seguida. Depois de um bocejo generoso, alcançou suas botas ao pé da cama, amarrando-as com um pouco de folga para não incomodar. Pondo-se de pé, deu algumas batidinhas com a ponta de ferro do calçado no chão, dando os toques finais no ajuste. Estalando o pescoço e girando os ombros, finalmente trocou sua camisa branca de dormir por uma verde que pendurada em uma cadeira próxima. Praguejou mentalmente depois de mais um bocejo longo que também umedeceu seus olhos, forçando-o a limpar com as costas da mão, então finalmente até a cozinha e tomou um copo de café com uma fatia de pão. Bem simples, não gostava de encher muito a barriga pela manhã. Depois de enfiar o último pedaço na boca, buscou as bainhas de suas duas longas facas de combate e as prendeu na cintura, também acrescentando uma ombreira de couro no ombro direito e uma capa marrom surrada por cima de tudo. Agora apropriadamente trajado, espantou as migalhas de pão que insistiam em se pendurar na calça, foi até a porta da cabana e saiu, cobrindo os olhos que ainda não tinham se acostumado com a claridade do Sol incidindo diretamente sobre eles. O canto dos pássaros, antes abafado pelas paredes de madeira, inundaram seus ouvidos e logo avistou seu amigo esperando-o de pé ao lado de uma árvore.
Daniel vestia uma camisa azul escura, calças velhas e que um dia já foram brancas, uma ombreira de couro em cada ombro, botas leves do mesmo material, luvas com buracos para os dedos e a bainha de sua espada preso a um cinto, junto de um escudo redondo reforçado com tiras de ferro de prontidão nas costas.
Os dois também usavam uma faixa vermelha na testa. Além de ajudar a afastar o suor dos olhos, funcionava como uma marca, já que todos usavam essa referência para apresentar os rapazes às outras pessoas, assim, os dois eram reconhecidos imediatamente quando chegavam a algum lugar.
Eles moravam na região sul da Ilha, naquela construção simples onde havia uma lareira para os dias frios, uma mesa de madeira, um fogão à lenha, um quarto com duas camas de madeira e uma pequena dispensa para estocar seus alimentos, temperos e um baú no qual guardavam seus lucros com as missões e trabalhos que realizavam. Perto dali, mais ou menos a 400 metros, existia uma vila. O nome dessa vila era Vila do Porto, porque era o único vilarejo que continha um porto e um navio. Barcos pesqueiros pequenos e canoas eram presentes em todas as vilas da Ilha, Como na Vila Pesqueira e na Vila da Costa Leste, mas só na Vila do Porto havia um navio mercante. Na verdade, todos os vilarejos se chamavam "Vila–alguma-coisa", os moradores não tinham lá muita criatividade, mas isso tornava as coisas mais simples por ali. A vila era relativamente grande, comparada às outras, era como se fosse uma das grandes cidades do Continente e lá viviam cerca de 200 pessoas.
Anos atrás, quando se estabeleceram provisoriamente em um barraco que viria se tornar sua cabana, os dois decidiram viajar por toda a Ilha com a finalidade de descobrir quem eram, mas não obtiveram sucesso. Ninguém parecia conhecê-los... Durante pequenas estadias em vilarejos, ganhavam algum dinheiro ou recursos realizando trabalhos diversos, foi quando tiveram a ideia de se tornarem mercenários, cobrando por seus talentos em serviços variados –mas honestos- a quem quisesse contratá-los, não importava onde. Tais trabalhos envolviam construção, reparo, entregas ou repelir bandidos que salteavam vilarejos menores. Depois desses anos, decidiram cessar as buscas por respostas, afinal, se ninguém os conhecia, provavelmente não tinham família, nem eram pessoas importantes. Os dois, com os cabelos e olhos escuros, eram frequentemente confundidos com irmãos, mas tais suspeitas não eram confirmadas pelos dois, já que, embora tivessem quase certeza de que se conheciam, não sabiam dizer se possuíam parentesco.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Guerreiros do Norte
FantasyUm jovem templário em uma ilha precisa juntar forças com uma dupla de mercenários para salvar os aldeões de um bandido sanguinário repleto de lacaios. Um jovem alista-se no exército de seu reino para adquirir a força que precisa para vingar a morte...