EPÍLOGO

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[Barbara Passos]

dois anos depois

Babi: todos já devem está lá dentro — falo impaciente vendo meu noivo ajeitar pela terceira vez seu cabelo pelo retrovisor do carro — vamos logo.
Hoje é mais uma das noites em que nos reunimos para jantar com todo o pessoal. Fazemos isso por pelo menos uma vez a cada mês, e não permitimos que ninguém falte. Isso funciona como nossa válvula de escape para todos os problemas que surgem em nosso cotidiano agora tão, bom, eu diria monótono.
Quando atravessamos o restaurante já avistando a grande mesa que reservamos, logo todos acenam ao longe. É realmente bom ver o quanto me aproximei de cada um. Hoje faço parte da vida deles assim como eles fazem total parte da minha.
Me aproximando, passo por trás de Carol e agarro Lucca no colo. Ele é a criança mais risonha desse mundo.
Pelo menos não puxou Bak nesse quesito.
Sim, Carol e Bak estão juntos a pelo menos um ano e alguns meses. Foi bem difícil de acreditar a princípio quando Victor me contou. Ambos pareciam se detestar, mas o que posso falar? Eu odiava esse homem que agora me olha extremamente bobo sorrindo me vendo segurar uma criança por cima da minha barriga de quase sete meses exatos. Não estava dentro dos nossos planos ainda, planejávamos fazer um mochilão pelos países da América do Sul e do Norte antes de pensar em uma família com mais membros, porque eu e ele, já éramos uma família. Mas bem, do jeito que Victor é fissurado em meu corpo, em uma noite transamos sem proteção depois de termos ficado totalmente bebados comemorando minha mais nova patente dentro da polícia. E realmente não nos preocupamos em relação a um bebê naquela noite já que eu tomava pílula perfeitamente. Mas foi só 3 semanas depois que algo me atingiu. Eu havia tomado antibióticos naquele mesmo mês devido a uma infecção que tive.
De um leve descuido está vindo meu maior amor em tantos anos de vida. Meu Antônio nem mesmo veio ao mundo ainda, mas mesmo assim me sinto completa.
Victor e eu concordamos com esse nome para homenagear a mulher mais incrível e protetora que tive, que mesmo depois de anos sem sua presença aqui, ainda me sinto amada: minha mãe, Antonella.
Nossa vida depois que ele me pediu em casamento quase não mudou, exceto pelo amor que parecia aumentar cada dia mais. Victor se tornou tudo pra mim e um espaço curto de tempo, e eu não me arrependo de ter deixado ele entrar com tanta facilidade na minha vida por nem um segundo sequer.
Eu não imaginava o quão louco seria me apaixonar por ele, e mais louco ainda, me sentir tão amada e valorizada com ele do lado.
Victor se tornou ainda mais atencioso em relação a mim quando soube que eu carregava nosso bebê. Arrisco a dizer que ver sua felicidade quando soube foi a experiência mais linda que já tive em minha vida. Seus olhos brilhavam em meio às lágrimas que deixou escorrer.
Depois disso ele se tornou tão preocupado que nem mesmo me deixava ficar sozinha nos primeiros meses.
Foi nesse tempo que recebemos a notícia de que depois de alguns meses passando por cirurgias e várias vezes precisando ser entubado, João faleceu devido a uma pneumonia grave.
A notícia foi dada pelo próprio hospital por ligação, apenas para notificar aos parentes próximos sobre a morte. Quando desliguei o telefone, não foi como se o remorso me atingisse, eu apenas senti o final de um ciclo tão doloroso finalmente se fechando.
Agora, meses depois, eu nem mesmo penso sobre tudo isso que me aconteceu. Foco apenas nas partes boas que vivi, tanto com minha mãe ha alguns bons anos atrás, quanto aqui e agora, com minha segunda família.
Porque tudo o que vivi pra chegar onde estou hoje não passou de apenas algumas lembranças ruins.

Thaiga: posso pedir um brinde? Tenho uma coisa pra contar — o sorriso estampado em seu rosto fazia jus à notícia que ela contaria no instante seguinte. Ela já havia me contado alguns dias antes desse jantar. Levantei minha taça de água junto a todos os outras taças de cerveja e vinho e apenas sorri totalmente orgulhosa da minha cunhada/irmã — bom, primeiro, irmão, espero que não se oponha a isso: vou me mudar para a Rússia durante 2 anos. Fui designada para um estágio em uma grande e reconhecida empresa de nanotecnologia de lá. Me mudo em algumas semanas.
Sua alegria e entusiasmo era contagiante. Logo todos da mesa estavam se levantando e indo em sua direção parabenizar por uma conquista tão merecedora.
Enquanto isso, parei meus olhos em Victor que a olhava como um pai extremamente orgulhoso. Eu sei o quanto Victor se desdobrou para cuidar de Thaiga, dar a ela todo o suporte que ela perdeu quando seus pais partiram. O sorriso bobo em seus lábios o tornava ainda mais perfeito.
No instante seguinte nossos olhares se cruzaram, me eletrizando dos pés a cabeça. Não era possível quebrar essa conexão que tínhamos. Nada parecia forte o bastante para isso.
Victor pegou minha mão por baixo da mesa e a levou até minha barriga. Seu olhar voltou ao meu e eu conseguia ler exatamente o que ele estava dizendo enquanto sua mão quente tocava a maior prova de que a vida nem sempre acontece do jeito que pensamos ou planejamos. Às vezes, quando você menos espera, tudo vira do avesso, e então você percebe que ali era seu melhor lado. Se me dissessem há quase três anos atrás para aquela mulher, vazia e melancólica, que ela se sentiria completa e segura com todas essas pessoas que estão nessa mesa rindo e conversando entre si agora, e que aqui eu me sentiria em casa, com toda a certeza do mundo eu gargalharia alto em deboche. E eu estaria completamente errada.
Porque amo tudo isso aqui.
Amo toda a felicidade que a vida me devolveu a partir do momento em que me tornei parte deles.
Babi: sim, nossa família é... perfeita — sussurrei.

(Pode falar, esse casal foi duro na queda, né? Enfim, espero que tenha gostado e não se esqueça de me contar o que achou, hein?)

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora