Capítulo 30

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[Barbara Passos]

Eu sempre tive um ligação forte com minha mãe desde nova. Após sua morte, essa ligação por incrível que pareça não se quebrou. Eu a sinto tão perto as vezes, tão junto de mim mesmo após anos desde sua morte. Eu tentei nos primeiros meses sessar a dor, deixar as lágrimas secarem para que ela pudesse partir de fato, seja pra qualquer plano espiritual que exista depois da morte. Mas isso não aconteceu como eu esperava, porque até hoje, parece que ela ainda está aqui.
Quando o sol bateu em minha pele esquentando logo após o vento frio da manhã bater, eu fechei meus olhos para meditar como fazia antes disso tudo acontecer.
Meus pelos se arrepiaram instantaneamente quando o rosto dela invadiu minha mente. Serena e bonita, como sempre costumou ser. Agarrei minha pulseira passando levemente a ponta do meu dedo sob as pedras amarronzadas e lilás.
- por que ainda está aqui, mãe? - sussurrei apertando meus olhos.
Victor: costuma falar sozinha sempre? - a voz grave e rouca de Victor me tirou do transe.
Babi: o que? - me virei para encara-lo, estava sem camisa e apenas com uma calça moletom. Em suas mãos estavam duas canecas, presumi que fosse café, já que saía uma pequena fumaça de ambas - a quanto tempo está parado aí?
Victor: pouco menos de 15 minutos - disse se aproximando - te vi lá de cima - seus olhos foram para a janela de seu quarto no andar de cima. Ele me entregou o café.
Babi: não sabia que seu quarto tinha visão pra essa área de fora - questionei bebendo um gole do café quente.
Victor: o que esta fazendo aqui tão cedo?
Babi: vim pra cá para meditar ou pelo tentar, mas o rosto dela não sai da minha mente. É como se... - ele me interrompeu.
Victor: se ela estivesse aqui, do seu lado - concordei - eu também tenho alguns desses momentos. Raramente, na verdade. Mas tenho. Costumo pensar que é uma das formas que eles encontraram de mostrar que ainda estão aqui, acompanhando tudo que faço.
Babi: eu tenho esses momentos desde os meus 12 - confessei, os olhos de Victor me fitaram - às vezes parece que ela quer me mostrar algo, é estranho.
Victor: talvez ela realmente esteja.
Sim, mas o que era? Qual maldita coisa ela queria que eu soubesse? Nada nunca fez sentido desde sua morte, mas agora, agora eu me sentia totalmente perdida.
Victor sem que eu me desse conta antes, envolveu meu corpo pequeno em seus braços fortes. E então estranhamente meu pensamento de poucos segundos antes mudou, parecia egoísta, porque eu tinha exatamente aqui, em seus braços, proteção. E isso era raro, porque eu não sentia tal sentimento desde que minha mãe havia partido.
[...]
As horas aqui não se pareciam nada com as horas em que eu ficava no posto de comando. Passavam-se arrastando mesmo que eu tentasse a todo custo me manter ocupada com os papeis do trabalho. Concluindo mais um relatório, me levantei para alongar meu corpo. Puxando meus braços para trás, senti um pequeno alívio nos nos ombros, mas a tensão no pescoço sempre continuava ali. Não importava o que eu fizesse.
Desci até o andar de baixo para tomar algum relaxante muscular. Não havia ninguém por aqui, isso me preocupou.
Abri o armário para procurar entre varias caixas o comprimido que eu precisava. Depois de alguns segundos ali, desejei que Carol estivesse em casa para me ajudar nisso - não tem nada aqui - resmunguei baixo. Puxei um dos banquinhos e o coloquei rente a bancada para que eu conseguisse subir até a prateleira de cima. Mais caixas de remédios. Procurando um nome familiar, finalmente encontrei meu santo Torcilax, porém, distraída, não percebi quando pisei em falso. O susto de uma possível queda sessou quando senti minhas costas se chocarem com um peitoral forte. As mãos firmes de Victor agarraram meu quadril para que eu recuperasse meu equilíbrio em cima daquele banco novamente. Porque era tão errado sentir falta dessas mesmas mãos percorrendo meu corpo inteiro?
Victor: de nada - debochou cheio de si. Revirei meus olhos ao descer dali jogando meu comprimido para dentro da boca.
Victor: me lembre de te deixar cair na próxima - disse me entregando uma garrafa de água - pra que o remédio?
Babi: meu pescoço - respondi, percebendo Victor logo em seguida se aproximar do meu corpo. Ele colocou meus cabelos para o lado e então senti seu toque me arrepiar novamente - o que está fazendo?
Victor: aliviando sua tensão, não posso? - minha mente dizia para recuar, mas meu corpo? Meu corpo parecia se desfazer com o calor de suas mãos em minha pele. O toque firme e forte de sempre me fazia arrepiar a cada movimento novo.
Babi: acho... acho que já está, hum, bom - falei entre suspiros fazendo Victor sorrir - é sério.
Victor: está com fome?
Babi: talvez.
Victor seguiu até a geladeira, ficou alguns poucos segundos olhando para dentro até fechá-la novamente.
Victor: temos duas opções: cozinhar ou esperar Crusher e Bak trazer algo para nós. O problema é que sei que vão demorar - sua careta me fez rir.
Babi: então vamos aproveitar que temos um bom chefe de cozinha aqui e cozinhar! - falei animada. Mas Victor permaneceu quieto - qual o problema?
Victor: teríamos que ir até o mercado - e então seu semblante sério foi compreendido. Nós dois sabíamos que isso era arriscado demais.
Babi: se formos rápido...
Victor: sabia que você toparia - sorriu.
[...]
Babi: não, eu não confio em você nessa moto - contestei encarando Victor sorrir debochado.
Victor: é isso ou não ir. Decida logo, Bárbara - levantei minha sobrancelha percebendo meu sorriso aparecer. Peguei o capacete de suas mãos, mas não me coloquei em sua garupa.
Babi: me dê as chaves - estendi a palma da mão.
Victor: nos seus sonhos, baby.
Babi: me dê, as chaves - mais uma vez falei firme olhando diretamente em seus olhos. Victor relutantemente a colocou em minha mão, cedendo o lugar para que eu sentasse - agarre minha cintura caso sinta medo - ironizei.
[...]
Victor: porque nunca me disse que pilotava assim? - disse exaltado depois que estacionei em frente ao mercado - porra, mulher, o que mais você guarda aí?
Eu ri seguindo junto dele para dentro do mercado.
Entre os corredores, pegamos tudo o que precisaríamos para cozinhar em casa. Assim que colocamos tudo nas sacolas ao passar no caixa, voltamos para a parte de fora do mercado.
Um vento frio jogou meus cabelos para trás me dando um pequeno calafrio quando aquela sensação estranha me pegou der repente. Eu parei, porque eu conhecia exatamente essa sensação.
Babi: sobe na moto - dei a ordem lhe entregando as chaves - vamos, suba logo.
Victor: qual o problema, Bárbara? - ele perguntou, atendendo minha ordem e ligando a moto fazendo seu motor ranger alto. Seus olhos ainda estavam nos meus.
Babi: uma noite antes de você me levar, eu senti que estava sendo observada. Essa sensação, eu guardei bem - fechei meu capacete me ajeitando na moto - eles estão aqui.

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora