Capítulo 14

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[Victor Augusto]

Fui acostumado desde cedo a lidar com qualquer porra que chegasse até a mim. Meu trabalho exigia isso. Pulso firme diante de qualquer situação. Eu era um executor, minha função era unicamente acabar com os miseráveis que ignoravam os avisos. Primeiro é Carol quem dá o recado, informa o prazo, deixa-os conscientes do que pode acontecer. Depois Mob e Crusher reforçam o aviso, caso isso se estenda, é aí que eu entro. Meu sangue frio permite cobrar aquilo que é meu sem nenhuma culpa por cima. Nunca matei nenhum deles, mas deixei vários por um fio de qualquer porra que eles acreditem vir depois da morte.
Mas hoje, naquele quarto, tentando arrancar qualquer merda de informação dela eu não consegui ir a diante depois de ver seus olhos vermelhos. Parecia real sua resposta. Ela era filha dele, sua única família. Como ela simplesmente não sabia de onde ele estava? Eu não a intimidava, mas ela sabia do que poderia acontecer caso ela não abrisse a boca.
Seja o quer for, eu a deixei lá. Precisava esfriar minha cabeça.
Passei pela sala pegando meu capacete, o olhar de Thaiga veio sob mim quando ela percebeu, pela intensidade de meus passos, que algo havia dado errado lá em cima. Fechei a porta em um estrondo e segui para a garagem. Minha moto estava ali, me esperando. Era a única coisa que podia me fazer acalmar: andar sem rumo por aí, o vento batendo em meu corpo enquanto eu acelero como se não pudesse haver vida após isso.
[...]

Depois de horas na estrada, voltei para casa encontrando todo o meu pessoal reunido na mesa. Haviam bebidas espalhadas por ela, algumas comidas pela metade e Bárbara. Meus olhos focaram diretamente nela sentada em uma das laterais da mesa, junto de todo o meu pessoal. Seus olhos se fixaram nos meus logo em seguida, eu notei seu corpo ficar tenso. Continuei ali, parado a observando até escutar a voz de Mob.
Mob: ei, cara. Por onde andou? - disse se levantando e vindo até a mim com uma garrafa de cerveja. Ele me entregou e assim bebi um pouco do que tinha ali.
Antes que eu me sentasse, Thaiga se levando me puxando para a cozinha.
Thaiga: ela é boa. Você terá problemas com ela - alertou, mas eu não a entendia - Bárbara desceu assim que você saiu, ela não pareceu nem um pouco intimidada por estar aqui. Simplesmente veio até nós, não fez perguntas mas parece ter nos estudado apenas com um olhar.
Sorri, lembrando que quando nos encontrarmos aconteceu exatamente a mesma coisa.
Victor: fique tranquila, vou ficar de olho nela até decidir o que fazer - eu disse, bebendo mais um pouco da cerveja, com meus olhos a vigiando de longe - ela não sabe nada sobre o pai.
Thaiga: no mínimo estranho. Vou puxar alguns arquivos sobre ela, talvez algum relatório psicossocial anexado em sua pasta policial nos dê alguma coisa - eu assenti, voltando para perto de todos os outros ali.

Na mesa, todos estavam sentados a mesa bebendo, Mob tinha em suas mãos nosso velho baralho.

Carol: anda, Mob. Distribui as cartas logo! - ele ainda estava tirando elas da caixa - todos vão jogar, certo?
Meus olhos voltaram-se para Thaiga voltando da cozinha com mais cervejas em mãos. Ela era sempre a do contra, nunca aceitava nada e adorava dar ordens. Talvez por ser minha irmã ela se sentia nesse direito. Isso não agradava muito alguns da casa, por exemplo, Mob. Desde que se esbarraram, é como se ele fosse fósforo e ela pólvora. Vez ou outra discutem, porque as ideias dele são o oposto das dela. Thaiga é, com certeza, a mulher mais difícil que já convivi, eu dava razão a ele.

Thaiga: eu vou jogar - disse se sentando a minha frente, limpando a mesa.
Mob: fechem as janelas, talvez sejamos surpreendidos a qualquer momento por uma tempestade das brabas - debochou ganhando o olhar semicerrado dela.
Carol: para de implicar com ela e me dê logo esse baralho.
Enquanto Carol distribuía as cartas, mirei meus olhos na morena no canto da mesa. Barbara estava quieta, seus olhos fixos nas mãos de Carol. Por um breve momento não consegui mover meus olhos de seu rosto. Era como um transe.
Carol já havia feito a distribuição de todas as cartas, Crusher estava anotando a pontuação e assim se seguiu por longos 40 minutos até o fim da partida. Barbara bateu todas elas. Era quase uma máquina de pontos. Como naquela noite, e que noite.

Carol: acho que ela bateu seu recorde, Victor - disse rindo enquanto juntava as cartas em um monte. Não esbocei nenhuma expressão quanto a isso, mas por outro lado Bárbara estava sorridente explicando a Crusher algumas de suas jogadas.
A porta se abriu prendendo a atenção de todos nela. Era Gabriel, Bak estava fora da cidade a alguns dias resolvendo problemas pendentes.
Mob: olha só quem está de volta - ele se levantou para cumprimenta-lo.
Bak deu uma boa olhada pela sala, indo direto para a cozinha pegar a primeira bebida que viu na frente.
Bak: quem é a novata? - perguntou, seguindo para perto de Bárbara.
Victor: Bárbara. E eu não diria novata - respondi sua pergunta em um tom seco, me levantando da mesa.
Gabriel tinha praticamente a mesma personalidade que a minha. Era na dele, saía e voltava sem dizer nada a ninguém. Não se envolvia com uma mulher por mais de um dia. Era livre, fazia o que bem entendesse e não se preocupava com o que pudesse vir depois. Era o mais cabeça do grupo, tomava conta do serviço pesado junto a mim. Estourava fácil e tinha uma síndrome de superioridade.
Vi Bak se aproximando mais ainda de Bárbara, apoiando seu braço na cadeira dela dizendo algo em seu ouvido que a fez sorrir. Ela pareceu gostar. Não consegui disfarçar meu descontentamento com a cena a minha frente.

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora