Capítulo 37

1.3K 124 31
                                    

[Barbara Passos]

Não sei quanto tempo se passou desde que meu corpo simplesmente desligou enquanto eu ajudava a limpar toda a primeira linha de proteção da casa.
Agora eu estava sozinha em uma sala completamente escura.
Uma vaga memória de Carol me dizendo que eles resolveriam tudo veio a minha mente. E aos poucos recuperei meus sentidos novamente.
Mesmo com a sala escura, eu podia reconhecer qual cômodo eu estava. A sala de costura que minha avó usava ainda estava perfeitamente preservada e intocada mesmo depois de anos.
Me levantei andando pelo lugar. Todas as suas máquinas estavam aqui, empoeiradas, mas ainda pareciam funcionar.
Tantas lembranças nesse lugar, risadas entre as duas grandes mulheres da minha vida enquanto eu brincava no canto da parede, ao lado do armário, invadiram minha memória.
Paz. Era o único sentimento possível que compartilhávamos naquela lembrança.
Muito diferente do sentimento que parecia me destruir agora.
Eu não ficaria parada aqui.
Andei até a grande porta de madeira, girando a maçaneta percebi que estava trancada. Claro, eles não me deixariam aqui com as portas destrancadas.
Botando em prática todo o treinamento que recebi durante minha formação militar, tomei distância da porta, com impulso consegui projetar todo o meu peso sabre ela, abrindo-a totalmente.
Agora do lado de fora, respirei fundo deixando que meus pulmões se enchessem de ar enquanto eu recuperava minhas forças com minhas mãos apoiadas em meus joelhos.
Onde eles estavam?
Focada tentando lembrar de todos os possíveis cômodos que essa casa possuía, somente um veio a minha mente. Agora com meu fôlego recuperado, segui em direção à segunda grande sala que essa casa tinha no segundo andar, mas quando meus pés pousaram sobre o primeiro degrau, senti meu corpo ser puxado para trás.
Um braço estava em volta do meu pescoço enquanto eu podia sentir um cano silenciado ser pressionado sobre minha cabeça.
Fechei meus olhos sabendo exatamente quem era a pessoa atrás de mim me forçando a recuar junto dele para a sala principal.
João: quanto tempo se passou desde que fugiu de mim? — sua voz ainda me causava repulsa, por mais que eu soubesse como me tirar dessa situação, ainda teria uma arma apontada em minha cabeça, e nesse caso, eu também precisaria de uma — você será bastante útil agora, minha doce Bárbara.
De mãos atadas, apenas deixei que ele me levasse pelo grande corredor vazio que dava de frente pra sala que ele estava me levando.
João: espero que seus amigos sejam pacientes — cada vez que sua voz velha ressoava por meus ouvidos, mais nojo eu sentia desse homem — porque vou precisar levar tudo que me pertence daqui antes de fugir.
O mesmo covarde de sempre.
Babi: está com medo? — tentei falar, mesmo que seu braço em meu pescoço estivesse cada vez mais apertado me impedindo de falar plenamente — se eu estivesse em seu lugar, teria medo.
A essa hora, eu só me perguntava onde estavam todos. Precisava deles aqui, caso contrário, ele conseguiria se safar mais uma vez.
João: shhh! Você sempre foi tão atrevida mesmo com tudo o que te fiz, não aprendeu uma lição? — eu precisava me lembrar a todo segundo de que estava desarmada, porque apenas a raiva agora nesse momento não me ajudaria tanto — não está satisfeita em ter visto todos que amou morrer por sua causa? Eu me lembro de Antonella sempre que...
Babi: você não tem direito nenhum de dizer o nome dela — fechei meus olhos tentando conter as lágrimas — você ainda vai me pagar por ter tirado TUDO DE MIM!
Pude ouvir minhas palavras como eco nas paredes daquela casa escura.
Em repreensão, João apertou ainda mais seu braço ao redor do meu pescoço me fazendo perder o ar por um curto espaço de tempo. Tossindo tentando recuperar o ar, pude escutar passos vindo do corredor a nossa frente.
João: você e sua maldita boca — falou puxando a maleta que estava sob a mesa.
Tarde demais.
Bak: mesmo sozinho você ainda não deixa de nos surpreender — como um alívio, Bak e todo o resto estavam ali, com suas armas engatilhadas sob seus dedos — vou tentar ser bonzinho dessa vez e te dar essa chance. Solte ela. AGORA!
A risada asmática de João penetrou meus ouvidos me fazendo fechar os olhos. Eu só precisava de um descuido dele para me soltar.
João: ou o que? — ele continuou me arrastando ate a porta da frente, fazendo-me questionar qual era seu plano — nenhum de vocês arriscaria perder mais um desde o trágico acidente de hoje mais cedo, estou certo?
Mais e mais passos até a porta, já estávamos diante dela, o que faltava era somente abri-la. E ele fez, tão rápido que mal pude agir. Todos estavam atentos a seus movimentos, nenhum de nós parecia querer deixa-lo sair ileso dessa. Eram quatro contra um, mas ele tinha um poder maior, já que minha cabeça estava na mira de uma arma bem mais rápida já engatilhada.
E como ele mesmo havia dito. Ninguém ali teria a coragem de arriscar.
João: o grupo de vocês realmente me surpreendeu. Não achei que chegariam tão longe encarando toda a gangue do Henrique — em sua voz era notável o desprezo e o sarcasmo — agora vejo o quanto eram perdedores, assim como vocês. É realmente uma pena terem perdido um de seus líderes, e... — eu escutei quando João passou seu dedo sob o gatilho, vi os olhos de cada um a minha frente se apertarem e suas testas se enrugarem em expressões de medo e apreensão.
Eu sabia o que ele estava fazendo.
Ele cumpriria o que havia dito no dia em que enterrei minha mãe.
"você nunca mais vai ter paz nesta casa. Não há espaço no mundo para nós dois, ou será eu, ou será... você"
A velha lembrança daquele dia ganhou voz em minha mente.
Sua cabeça doentia e psicopata havia tomado a decisão, mesmo que anos mais tarde.
Olhei para cada rosto que havia se tornado família a minha frente. Mesmo com uma lágrima solitária descendo pela minha pele, sorri para conforta-los, mesmo que fosse me vão. Fechei meus olhos sabendo do que viria logo em seguida.

Segundos depois, escutei o aperto no gatilho e um som estridente ecoar pelo lugar.
Mas ao contrário do que pensei, o tiro não havia me acertado, mas sim o homem que me prendia.
Finalmente abri meus olhos, tentando entender o que havia acontecido. Quando pensei que um deles havia sido mais rápido que João, suas expressões desacreditadas me deixaram ainda mais confusa.
E então, ainda de costas para a porta, escutei aquele tom rouco inconfundível de voz me encher.
"isso acaba aqui".

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora