Capítulo 40

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[Victor Augusto]

Quando tudo pareceu se acalmar, levei Barbara até meu quarto no andar de cima.
Talvez até comece a chamar isso aqui de nosso a partir de agora.
Victor: você fica aqui enquanto eu preparo tudo — falei encarando seus grandes olhos castanhos — você está bem?
Eu sabia bem que, mesmo com tudo terminado, Bárbara ainda precisaria de alguns dias para que sua mente entendesse tudo o que rolou. O que essa mulher enfrentou desde seus 12 anos em diante não foi algo suportável, pelo contrário, destruiria qualquer um de dentro pra fora, mas ela suportou. E é isso que me faz querer amar cada pedaço quebrado dela, ajuda-la a se recompor e mostrar que, mesmo tendo perdido pessoas que significavam tudo pra ela, a partir de agora ela teria a mim. E isso não era uma simples promessa no calor do momento.
Eu morreria por essa mulher.

Me aproximei de seu corpo, segurando sua cabeça delicadamente em minhas mãos, depositei um beijo demorado em sua testa e logo direcionando meu olhar a encontrar o dela.
Babi: eu vou ficar — sorriu de canto, em seguida se jogando em meio aos lençóis da cama.

Deixei que a água da banheira caísse e a enchesse rapidamente enquanto eu pegava as toalhas e seus produtos de cabelo. Queria que ela relaxasse o quanto pudesse. Tanto seu corpo quanto sua mente. Eu não sabia o quão cansada ela poderia estar, então isso era o mínimo a fazer por ela no momento.

Voltando para o quarto, imaginei que ela pudesse ter desmontado na cama. Mas não estava. Ela havia sentado novamente, seus olhos vidrados na janela do quarto. O dia estava quase no final, havia somente uma parte do céu ainda iluminada pelos raios de sol já se pondo. Era quase uma pintura as nuances que as nuvens ganharam com a cor alaranjada do pôr-do-sol.
Olhando novamente pra ela, me aproximei.
Victor: você vem? — perguntei segurando em sua mão extremamente gelada. Ela assentiu, se movendo pra fora da cama.
Quando entramos no banheiro, eu a ajudei a se despir completamente. Haviam hematomas ainda avermelhados em seus braços, por toda sua barriga e em suas pernas. Apenas seu rosto estava praticamente intocado. Ela era bastante durona. Devo me preocupar com isso algum dia?
Victor: fique aqui o tempo que precisar, deixarei uma camisa limpa junto com sua calcinha sobre a cama quando sair — eu disse já quase na porta olhando seu corpo completamente nu parado em frente à grande banheira.
Seus olhos não se moveram assim como seu corpo.
Babi: aonde você vai? — ela perguntou, agora mergulhando um de seus pés na água que havia preparado. Quando não respondi, ela continuou — eu quero você aqui, comigo.
Sem perder tempo, não recusei seu pedido. Pra falar a verdade, eu estava torcendo para que ela pedisse isso.
Me livrando de todas as roupas, me aproximei da banheiro onde ela já estava sentada com seu corpo completamente mergulhado na água quente, entrando com todo o cuidado, me sentei atrás dela fazendo-a deitar sobre meu peito.
Babi: como você conseguiu escapar da queda? — perguntou enquanto mexia suas mãos pela água, sua voz era tão baixa que quase não pude escutar. Eu iria responder, mas ela continuou — quando vi sua moto em pedaços no meio daquele despenhadeiro e não te vi, foi como se um buraco estivesse sendo aberto em meu peito enquanto eu caia sob minhas pernas completamente atordoada — minha garganta se fechou imaginando o quanto ela sofreu nesse instante. Eu a abracei completamente — na hora eu só consegui pensar em destruir João. Mas depois... quem estaria ainda mais destruída seria eu. Somente eu.
Victor: sei que é difícil esquecer toda a experiência traumática que viveu hoje, mas Bárbara, eu estou bem aqui — deslizei meu dedo por todo o seu braço suavemente até tocar seus ombros nus — não pense no que poderia ter acontecido, porque eu estou exatamente aqui e quero poder estar por um longo tempo até que se canse de mim.
Babi: não creio que isso seja possível algum dia — ela disse, sua voz agora mais entonada. Eu sabia que ela estava sorrindo.
Victor: não? — sorri junto, queria muito saber sua explicação.
Bárbara virou seu rosto pra mim, me dando a visão perfeita de seu rosto corado e sua boca avermelhada.
Eu nunca havia visto seus olhos brilhando dessa forma, era uma luz que parecia fazer reluzir toda sua íris.
Babi: não. Porque estou apaixonada o suficiente pra ter a certeza de que, independente do que aconteça, quero que esteja ao meu lado — até hoje eu não sabia que era possível sorrir tanto do jeito que eu sorria agora — sempre acreditei que depois que minha mãe se foi e eventualmente meus avós, eu estaria destinada a ser sozinha. Talvez parte de mim nunca quis se entregar de fato a outro alguém por medo de ser destruída ainda mais. Daí então eu esbarrei em você, e em poucos dias eu percebi o quão ferrada eu estava.
Victor: isso soou como uma ofensa — acrescentei fazendo-a rir quebrando o clima melancólico.
Babi: o que quero dizer é que, você me fez sentir pela primeira vez desde os meus 12 anos, segurança. Eu nunca me senti completamente segura desde aquele tempo. E com você sempre foi natural. Acredito que amor seja isso. Pertencer a alguém que nos faça sentir como se nada e nem ninguém pudesse nos destruir — até hoje me considerei um homem frio, sem quaisquer emoções que me tornassem fraco. Já faziam anos desde a última vez que havia deixado que uma lagrima sequer rolasse pelo meu rosto, na noite após enterrar meus pais. Mas agora, diante dessa mulher incrível e de toda a sua confissão não pude manter essa postura por muito tempo. Ela imediatamente estendeu suas mãos suaves em minha pele limpando as lágrimas salgadas que iriam descer logo — é a primeira vez em todo esse tempo que não me sinto sozinha, que alguém está lá por mim, oh meu Deus, você sabe o que isso significa? Eu te amo, Victor. Eu quero um nós, você, isso.

Há uma coisa que não entendo sobre a vida. Você conhece tantas pessoas, e aí surge uma pessoa e sua vida muda.
Ela era essa pessoa.
Nossa conexão era além de qualquer tempo que passamos juntos.

Victor: eu te amo como um louco, Bárbara Passos. Desde quando nossas bocas se tocaram, desde que minhas mãos deslizaram por todo seu corpo, desde que estive dentro de você. Resisti tanto contra isso, mas agora, porra, eu quero me casar com você!

Simplesmente saiu. Nem mesmo eu sabia o quanto queria isso até dizer a ela.
Seus olhos se arregalaram, sua boca ameaçou se abrir para dizer algo, mas então houve uma batida na porta dissolvendo toda a bolha que havíamos construído naquele momento.

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora