Capítulo 6

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[Victor Augusto]

Quando ela foi embora, continuei ali por alguns minutos pensando no que poderia ter rolado sem aquela interrupção. Eu vi o jeito que seu corpo ficou quando me aproximei, seus lábios avermelhados bem diante dos meus, prontos para serem devorados. Eu poderia usar ela para outras coisas enquanto eu não conseguisse minhas informações. Eu não sei quando tempo duraria tudo isso, uma semana talvez? Tempo demais sem um corpo quente junto ao meu. Não sou do tipo carente, sou do tipo necessitado. Me acostumei a essa vida, de dia resolvo todos os problemas que me aparecem, a noite cumpro minhas promessas, e depois, quando acabo, tudo que eu espero é uma mulher na minha cama para tirar todo o estresse que o dia todo me trouxe lidando com babacas endividados.
Me levantei, indo para o banheiro tentar de algum jeito me aliviar. Pensei em qualquer porra de corpo que tive nos últimos dias, mas foi só o de Barbara que esteve ali, em todos os longos minutos em que a água tocou minha pele.
Sanches estava no andar de baixo, ocupado vendo seu jornal tosco e com seu café gelado em mãos. Bem diferente da mulher que antes estava aqui, ele era apático. Parecia ser aqueles seguranças de banco, e não um policial treinado para proteger, tanto é que, sem que ele se desse conta, eu deixei a casa pegando minha moto na parte de trás e indo até minha casa. Minha verdadeira casa.

[...]

Assim que entrei, Crusher estava deitado no sofá desmontado. Andei mais um pouco podendo escutar barulhos de teclado.
Victor: Thaiga? - chamei, quando entrei no primeiro quarto vendo minha irmã ainda acordada em frente ao seu computador.
Seus olhos não deixaram a tela, mesmo comigo me aproximando.
Thaiga: irmão, a garota... - ela começou. Me sentei ao seu lado tendo acesso ao que ela estava vendo - temos um pequeno problema.
Victor: sem rodeios, Thaiga. Sabe que odeio.
Ela finalmente me olhou nos olhos, deixando a tela do computador aberta em uma imagem com pouca qualidade. Facilmente retirada de uma câmera de segurança barata. Olhei mais de perto, reconhecendo que a mulher agachada junto ao seu cachorro era Barbara, ela olhava fixamente para um pequeno conjunto de árvores do lado de sua casa.
Thaiga: não somos só nós querendo algo dela - ela disse.

O que ela carregava de tão importante? Porque haviam mais pessoas atrás dela? Talvez pelo fato de que ela era filha de um dos filhos da puta mais ricos do país, mas tinha algo mais ali. Eu sabia que não era só isso.
Victor: porra! - bati meus punhos cerrados sob a mesa - vamos ter que adiantar tudo. Não vou me dar ao luxo de perder minha isca por qualquer outro grupo fodido que esteja atrás dela.
Era necessário, mas colocaria uma boa quantidade de olhos em cima de mim quando a principal pessoa responsável pela segurança de uma testemunha sumisse inexplicavelmente.
Foda-se. Mais um problema.
Victor: prepare tudo, amanhã eu trago ela até aqui - pedi, me levantando ainda irritado.
Thaiga: irmão, não acho que seja uma boa ideia - ela disse, me olhando nos olhos.
Segurei seu rosto em minhas mãos.
Victor: escute! Eu não vou deixar esse babaca escapar mais uma vez - a raiva havia me cegado nos últimos dias, eu precisava a todo custo acabar com João - faça o que te pedi. Pode ser?
Ela assentiu e assim, eu a deixei parada ali me observando sair novamente da casa.
Bárbara iria conhecer meu verdadeiro eu logo, logo. A parte boazinha era puro fingimento, agora tudo seria exatamente do meu jeito.
[...]
Me aproximando do lugar onde eu estava ficando, percebi o carro de Barbara estacionado perto ao meio fio. Merda, ela havia voltado. Meu corpo enrijeceu com a possibilidade de que ela já teria percebido meu sumiço, mas logo em seguida, ainda parado ali tentando pensar em algo útil, eu a vi descer de seu carro. Sem perceber, deixei que um suspiro de alivio fosse liberado do meu corpo tenso.

Estacionei a moto na parte de trás da casa o mais rápido que consegui, e então entrei lentamente subindo pro andar de cima. Na metade da escada pude escutar a porta se abrir e a voz inconfundível daquela mulher ressoar o cômodo. Um sorriso de canto surgiu nos meus lábios, porque ela havia voltado?
Tirei minha jaqueta e a calça jeans que eu estava jogando tudo em um pequeno bolo para dentro do guarda-roupa em seguida pegando minha calça de moletom preta. Passei as mãos em meu cabelo bagunçando-os levemente. Eram quase 2 da manhã, eu precisaria parecer que estava dormindo ou algo do tipo.
Ainda escutando sua voz no andar de baixo, não me contive e desci, ganhando o olhar de Barbara instantaneamente.
Fui até a cozinha pegando um copo no armário logo depois a garrafa de água. Me encostei no balcão observando os dois policiais conversando. Especificamente, Bárbara.
Eu estava vidrado nela, algo em seu jeito prendia minha atenção todas as vezes. E eu gostava disso, queria aproveitar isso antes que tudo acontecesse. Porque 1) estava bem perto e 2) ela vai me querer morto depois disso.
Saí dos meus pensamentos quando percebi ela se aproximar.
Babi: tudo bem? - perguntou, pegando a garrafa de água da minha mão e se servindo igualmente.
Victor: insônia.
Babi: perfeitamente normal, não se preocupe - eu abaixei a cabeça sorrindo de canto, depois voltei a encara-la - o que?
Victor: seu turno começa as 6:00 - é claro que eu ainda estava louco de curiosidade. Não havia necessidade alguma dela ter voltado.
Babi: eu sei - seus olhos demoraram-se nos meus, mas logo caíram em minha boca. Eu vi quando ela engoliu em seco, disfarçando - apenas, decidi voltar. Algum problema nisso?
Eu peguei a pequena provocação em seu tom de voz. Por um minuto, quase cedi ao vislumbre de insanidade que minha mente teve de a jogar contra aquele balcão e finalmente ter sua boca na minha. Arriscado demais, imprudente demais.
Victor: nenhum - eu devolvi na mesma moeda, minha voz rouca e baixa quando eu passei por seu corpo.
Caminhei para a sala ligando a tv, qualquer programação fútil serviria agora.

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora