Capítulo 23

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[Barbara Passos]

Dormi pensando no que aconteceu com Gabriel, acordei na mesma.
Tentei bloquear meus pensamentos por pelo menos alguns minutos enquanto brincava com Cronos na parte de fora esperando meu café ficar pronto. Ainda eram seis da manhã, o pessoal dessa casa era do tipo madrugador, os que precisavam resolver problemas saíam cedo, mas hoje especificamente a casa parecia estar vazia. O tempo claro e quente de ontem deu lugar a um amanhecer nublado. Eu odiava dias cinzas.
Depois de um banho quente, consegui aliviar parte de toda a tensão que meu corpo estava.
Me troquei, saindo do banheiro e encarando minha cama totalmente afundada em papeis e meu notebook.
Eu pedi a Victor que trouxesse tudo isso. Li e reli tudo que anotei nos últimos meses, tentando achar alguma brecha que ajudasse a ter alguma informação dele. Tudo estava aqui. Relatórios periciais inconclusivos, faltando praticamente muitos dados, álibis, suspeitas. Tudo. Depois de um tempo encarando meu passado, finalmente entendi que era hora. Então, percebi que Victor deveria saber sobre o motivo que, provavelmente, me colocou nessa furada.
Desci as escadas, não havia ninguém nos cômodos de baixo. Decidi ir até o escritório dele, por sorte eu o acharia lá. Quando bati duas vezes, não fui atendida. Impaciente, abri a porta de vez encontrando não somente a pessoa que eu queria conversar, como também uma mulher ali. Mais especificamente, montada em seu colo.
Isso não me destruiu. Eu não depositei confiança em Victor, mesmo depois de ter me entregado a ele. Mas eu estaria mentindo se dissesse que vê-lo com outra, não me fez sentir-me vazia. Novamente.
Seus olhos me repreenderam quando a morena se virou para me encarar. Por alguns segundos congelei, mas logo recuperei minha sanidade.
Babi: perdão - eu disse, segurando mais firme os papeis em minhas mãos, em seguida fechando a porta novamente.

Subindo as escadas para o meu quarto, eu sorri. Não por achar engraçado toda aquela situação, mas sim por ter, em algum momento, achado que isso poderia dar certo.
Me engane uma vez, erro seu; me engane duas vezes, erro meu.

Já haviam se passado algumas horas desde o incidente no andar de baixo. Desde então, não desci ou mal saí do meu quarto. Aproveitei para focar ainda mais no meu problema.
Cada vez que eu lia as pastas de arquivos, meu olho procurava por qualquer vacilo. Qualquer rasura que me desse algo suspeito.
O caso da minha mãe, a rapidez com que foi concluído e da forma como foi nunca me convenceram. Eu sabia que não foi uma maldita doença que a levou. Foi planejado, tudo minuciosamente feito para não deixar rastros.
Mais horas se passaram, não vi quando o dia escureceu. Passei o dia trancada nesse cômodo. Só percebi que estava muito tempo aqui quando meu estômago roncou.
Juntei todos os papéis e os deixei sob a escrivaninha junto com meu notebook. Arrumei a cama, e em seguida deixei o quarto passando pelo corredor escuro daquela casa.
Todos os quartos fechados, assim como da última vez que passei por aqui.
Desci as escadas ainda no escuro, não me dei o trabalho de acender luz nenhuma. Passando pela sala, não havia ninguém, nem mesmo Crusher dormindo no sofá como de costume.
Na cozinha, enchi um copo com energético e peguei o resto de pizza que estava sob o balcão. Talvez isso estivesse aqui desde cedo. Dei de ombros, o que não mata, engorda, não é o que dizem?
Assim que saí da cozinha, uma mão agarrou meu pulso. Apenas pelo toque, eu sabia que se tratava de Victor.
Parei, mas não voltei meu olhar a ele.
Victor: posso falar com você? - sua voz rouca e extremamente baixa me fez fechar os olhos. Não pelo efeito de sempre, porque dessa vez, foi unicamente para conter qualquer explosão que eu pudesse ter.
Babi: como quiser.

Victor: meu escritório - ele se afastou de mim, andando para lá, mas quando percebeu que eu ainda não havia me virado para segui-lo, parou - por favor, Bárbara.
Respirei fundo, dando meia volta e finalmente caminhando atrás dele.
Victor abriu a porta e a segurou até que eu passasse. Assim que entrei, ele trancou a porta atrás de mim. Não me virei, mas percebi que ele estava logo atrás de mim quando senti sua respiração quente roçar minha pele.
Babi: o que quer falar, Victor? - perguntei, extremamente rude.
Victor: sobre hoje mais cedo, eu... - interrompi. Não era da minha conta saber.
Babi: não ache que eu me importe. Poupe a explicação - novamente, fui rude, tentando mascarar, de forma falha, minha irritação em sua presença.
Victor: por que veio aqui? - agora Victor caminhava atrás de mim, passos lentos e pesados.
Babi: somente te deixar a par das coisas que me botaram aqui.
Victor: o caso da sua mãe? - assenti, mexendo a cabeça - tudo bem, me mostre tudo amanhã. Vou me certificar de que Thaiga te forneça qualquer ajuda para encontrar o que falta.
Babi: não há necessidade - é claro que eu recusaria ajuda.
Victor: já está decidido.
Sem contestar, apenas respirei um pouco mais fundo para ter a certeza de que uma discussão não seria necessária no momento.
Babi: é tudo? Preciso subir.
Victor antes atrás de mim, agora estava na minha frente. Encostado sob a mesa, seus pés cruzados enquanto me analisava. Olhar frio e ao mesmo tempo confuso.
Talvez estivesse esperando algum tipo de surto. Eu não era dessas. Nunca fui. Aprendi cedo de que pessoas não merecem expectativas demais, porque no final, elas sempre decepcionam.

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora