Capítulo 29

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[Barbara Passos]

Do meu quarto pude escutar vozes mais altas no andar de baixo. Algo incomum, uma vez que essa casa era um completo silêncio em todos os dias. Permaneci focada nos documentos do departamento que eu estava analisando, mas quando a voz inconfundível de Thaiga ressoou pelos corredores senti que precisava ir até lá.
"eles não vão parar até chegar em Victor ou..."
Parei na porta finalmente tendo noção do que estava acontecendo bem ali.
Babi: ou em mim.
Por mais que Crusher estivesse ridiculamente machucado, todos os olhares se voltaram para meu rosto, parada nas escadas. De longe, sussurrei para que Crusher soubesse.
Babi: eu sinto muito - ele sorriu vagamente, e então voltou sua atenção para Carol ao seu lado.
Desci até onde Thaiga estava escorada, apenas para confirmar meus pensamentos.
Babi: isso já está chegando no limite - uma lágrima solitária rolou pelo meu rosto sabendo que tudo aquilo era por minha causa - e Victor?
Thaiga: está chegando. Logo vamos saber como lidar com tudo isso até termos uma solução melhor - seus olhos foram para os meus, havia preocupação neles - não podemos arriscar mais de nós lá fora sem alguma proteção. Eles não vão parar.
Assenti, voltando meus olhos para Crusher que agora agonizava em cima do sofá enquanto Carol aplicava água oxigenada por cima de seus cortes.
Decidi que precisávamos de algo para acalmar os ânimos. Indo até a cozinha, enchi um recipiente com água para fazer um café mais fresco. Deixei que a água fervesse enquanto eu limpava as gases sujas que estavam no chão ao lado de Carol.
Babi: precisa de alguma ajuda aqui? - me prontifiquei, apenas para me livrar do remorso que tomava conta da minha mente.
Carol: obrigada, Babi. Os cortes já estão fechados com os pontos que dei, agora é só um bom banho e gelo, escutou Arthur? - Carol era boa no que fazia, mas algo me diz que o sorriso bobo nos lábios de Crusher não era apenas de agradecimento.
Me mantendo ocupada ao lado de Carol esterilizando seus equipamentos, não percebi quando Victor finalmente chegou, indo direto para seu escritório. Seus passos pesados fizeram o piso em que eu estava sentada tremer. Ele provavelmente levou Bak e Thaiga junto, porque aqui fora, o silêncio era ensurdecedor.
Carol: fique bem, Babi. Logo vamos descobrir como lidar com o grupo deles - suas palavras me confortaram, mas o "e se" ainda me assombrava. Eu não conseguia enxergar nenhum plano verdadeiramente bom que nos tirasse desse breu.
Babi: eu espero que sim, Carol. Realmente espero - ofereci a ela meu melhor sorriso, mesmo que ele fosse totalmente vazio agora.
Quando ela subiu as escadas, eu ainda não conseguia me levantar daqui. Uma sensação de impotência tomou conta do meu corpo. Eu precisava pensar em algo para isso, algo que fosse bom o bastante para tirar o grupo de Victor do caminho dos Gonzalez e de João definitivamente antes que os "recados" passem para o próximo nível.
O problema é que isso levaria tempo e tempo era algo que não tínhamos no momento.
Ergui meus joelhos finalmente me levantando daquele lugar, a água que deixei fervendo muito provavelmente já teria evaporado naquele fogo. Mesmo assim, segui até a cozinha encontrando Victor parado bem ali.
Babi: eu pensei em fazer um café, mas esqueci completamente disso aqui - falei desligando o fogo. Victor apenas assentiu com um breve sorriso. Eu sabia que ele estava preocupado e irado com o que havia acontecido.
Botei o pó de café na máquina e depois encaixei o recipiente com água quente. Segundos depois o líquido fumegante começou a descer para minha caneca.
Assim que sessou, retirei a caneca e me dirigi, sem olhar para Victor, até a porta.
Victor: vamos acabar com isso logo, Bárbara - sua voz confessava sua preocupação. Ele estava prometendo isso?
Babi: tenho certeza que sim.
[...]
Ao longo dos últimos dias, me acostumei com a rotina da casa. A maior parte do tempo eu estava aqui, sozinha nesse quarto trabalhando do jeito que posso pelo meu notebook. Victor estava distante, mas isso não impedia que meus pensamentos voassem até ele.
Depois do acontecido com Crusher, não consegui manter minha mente longe disso. Por mais que eu tentasse, isso ainda me atormentava.
Eu ainda estava deitada, um pequeno feixe de luz iluminava meu tapete me lembrando que mais um dia havia começado. Mas não foi exatamente isso que me fez acordar, e sim o barulho alto de madeira sendo martelada no andar de baixo.
Seguindo o barulho cada vez mais perto, abri a porta da área de fora onde Cronos ficava. Lá estava ele.
Victor conseguia ficar extremamente atraente com qualquer tipo de roupa. Despojado, arrumado, formal ou apenas com sua roupa antes de ir dormir, mas essa, essa era com toda a certeza sua melhor maneira de se vestir. Apenas de bermuda moletom e chinelos, exibindo seu abdômen perfeitamente esculpido era de tirar o fôlego de qualquer uma, e eu não estava fora dessa lista.
Babi: o que está fazendo? - perguntei me aproximando. Cronos me recebeu com lambidas molhadas nem no meu rosto. Obrigada, amigão.
Victor: eu precisava gastar energia e esse cara aí de uma casa - meu olhar o acompanhou carregar duas tábuas pesadas de madeira para perto de suas ferramentas - espero que consiga seguir esse tutorial que vi no youtube ou terei problemas com ele maia tarde. Está animado desde que contei a novidade.
Cronos estava realmente eufórico, para sua idade, eram poucas as vezes que eu via ele assim.
Babi: eu aposto que sim - sorri - ajuda?
O olhar de Victor caiu em meus seios com tamanha malícia me fazendo finalmente perceber que eu ainda vestia meu pijama quase transparente aqui fora.
Babi: merda - resmunguei indo até a porta - um segundo!
Corri de volta para meu quarto. Abrindo as gavetas, procurei alguma roupa confortável para ficar lá em baixo. Uma calça moletom e uma blusa branca basica era perfeito. Quando estava prestes a me vestir, meus olhos bateram em outra blusa simples sob minha cômoda, essa porém tinha botões que a deixavam sexy no meu corpo. Sem pensar duas vezes a peguei vestindo logo em seguida.
Quando desci novamente para a parte de fora, Victor continuava focado posicionamento as pequenas tábuas que ele havia acabado de cortar.
Victor: não mudou muita coisa - disse ao verificar minha blusa. Um sorriso diabólico apareceu em seus lábios me fazendo sorrir de volta - sabe usar isso? - perguntou me vendo pegar o grampeador de madeira.
Babi: eu sei usar qualquer tipo de arma, porque isso estaria fora das minhas habilidades? - retruquei, rodando a ferramenta em meu dedo.
Victor: não sei se confio em você com essa coisa.
Babi: não diga nada para me irritar e então não terá com o que se preocupar, Augusto - sorri apontando a "arma" para ele com uma piscada.
Victor: to fodido.
[...]
Depois de quase duas horas debaixo daquele sol, finalmente conseguimos colocar todas as madeiras no ligar certo para formar o telhado. Cronos não esperou nem a tinta secar e logo se enfiou dentro de sua nova casinha.
Meu quintal era pequeno, muito diferente do espaço que ele tinha aqui, então nunca me preocupei com uma casinha já que ele dormia dentro de casa, por muitas vezes na minha própria cama. Era bom vê-lo tão animado com o que Victor deu a ele.
Babi: obrigada, ele realmente gostou muito, fez um bom trabalho - esbarrei meu ombro no dele ganhando seu olhar em seguida.
Victor: eu precisava esfriar a cabeça, focar em qualquer outra porra de coisa depois do que aconteceu ontem - e assim o assunto esfriou totalmente. O sorriso em meus lábios se desfez em segundos quando Victor me encarou preocupado.
Babi: estamos ficando sem tempo, sem proteção - confessei.
Victor: ninguém sai dessa casa sem estar acompanhado. Já deixei isso claro, a partir de agora todo cuidado é pouco.
Ele tinha razão. Os recados não eram em vão, não sabemos o que realmente o grupo dos Gonzales tem na manga. Estamos totalmente no escuro.

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora