[Victor Augusto]
Tudo o que li naqueles relatórios foi relatos de Bárbara contra seu pai, agressões, coisas que ele jogou em sua cara. Desde criança. Aquele documento era estritamente confidencial, somente a psicóloga e seu superior tinham acesso a eles, por isso a boa imagem de João permanecia intacta.
Victor: filho da p... - nesse momento eu não estava em meu estado puro de consciência. Tudo o que eu pensava era em quebrar a cara daquele desgraçado. Ele roubou dinheiro, uma quantia que colocaria qualquer pessoa lá em cima. Eu queria de volta, mas mais que isso, eu queria socar sua cara por tudo que ele fez com essa mulher - só, só me diz porque. Por que ele fez isso com você?
Os olhos de Barbara completamente marejados me encararam. Seu semblante fechado e frio, mas nele havia um sorriso sarcástico se formando.
Babi: ele me odeia. Desde que nasci. Simples.
Victor: não faz sentido - contestei enquanto me aproximava dela, deixando meu corpo cair no chão frio ao seu lado.
Babi: minha vida nunca fez sentido.
Eu levei minha mão até seu rosto, secando uma das lagrimas que estava descendo. Eu nunca havia feito isso com outra mulher fora Thaiga. Nunca tive compaixão, nunca me importei com a dor alheia seja de qualquer pessoa. Mas então ela estava aqui, destruída e vulnerável e tudo que eu pensava era em puxa-la para perto e porra, cuidar de seus machucados. Mesmos que fossem todos internos. Em que momento eu deixei isso acontecer?
Babi: eu descobri que não era sua filha quando minha mãe morreu. Horas depois que voltamos de seu enterro. Ele cuspiu em minha cara todas as palavras que havia guardado nos últimos 12 anos - continuei escutando, Bárbara parecia começar a se recompor - minha mãe o traiu quando cansou de ser traída e menosprezada. Ela apareceu grávida logo em seguida, um deslize.Mas ele aceitou, ele me criou e silenciou a traição para manter sua boa imagem. Naquela época, sua empresa estava começando a ganhar visibilidade, ele não poderia arriscar.
Victor: e então ele te culpou por tudo isso. Descontou em você - perguntei tentando entender.
Babi: não inicialmente. Ele era distante, mas até então nunca havia mostrado esse lado podre que ele sempre teve. Eu nunca liguei porque pra mim, era só eu e minha mãe. Nada podia acabar com isso.
Um silêncio tomou conta do quarto. Eu estava olhando em seus olhos, ela parecia firme desta vez. A dor havia dado lugar a raiva em poucos segundos.
Babi: e aí eu a perdi. Silenciosamente, do dia para a noite acabando com todo o meu conto de fadas - eu vi quando seus olhos se fecharam, ela os apertou forte para barrar a minúscula quantidade de água que brotou neles com a lembrança de sua mãe - depois disso ele parecia ficar pior a cada dia. O que começou com gritos e sermões, evoluíram para puxões de cabelo, tapas, chutes. Eu ainda era uma criança. Inocente e perdida, tentando entender tudo.
Bárbara deslizou sua blusa até seus ombros me fazendo lembrar da cicatriz que vi naquele dia em meu escritório. Era grande e profunda, no mínimo 7 pontos ali. Eu já havia me machucado perto da clavícula, foi uma das piores dores que senti comparada a vários ossos quebrados e cortes que já tive.
Victor: ele fez isso? - ela assentiu.
Babi: foi a primeira vez que tentei fugir daquela casa - ela mostrou mais cicatrizes. Mãos, dedos, perna. Tudo marcado. E por fim, ela se sentou mais próxima de mim, puxando seus cabelos para o lado, olhando para baixo ela me mostrou sua última cicatriz. Na pele fina de seu pescoço havia uma tatuagem por cima dela.
Victor: "this is just a bad memory".
Babi: isso é só uma lembrança ruim.
VOCÊ ESTÁ LENDO
DANGEROUS TOUCH
FanfictionMais de uma vida envolvida em toda a armadilha friamente calculada. Um perseguidor que não para. Uma policial que não desiste fácil. Quão tênue é a linha que separa a atração da obsessão? Bárbara era recém-formada em advocacia, ocupava um bom cargo...