[Barbara Passos]
Quase uma semana desde que me colocaram nessa casa. Seis dias tentando, de qualquer jeito, entender tudo o que estava rolando.
Agarrada aos meus joelhos, perto da janela com o sol refletido em mim, eu estava perdida em meus pensamentos quando Victor entrou.
Ele havia se mantido afastado nos últimos dias, desde aquele contato fodidamente quente em seu escritório e tudo aquilo que rolou depois. Por um lado preferi assim, eu o queria longe. Mas a outra parte, a parte irracional da minha mente implorava a menor porção de sua atenção. Seu contato. Me contentei com apenas olhares. Consegui decifrar quase todos eles. Desejo, confusão, luxúria, raiva.
Mas quando ele entrou no quarto, eu peguei algo novo em seus olhos. Algo que eu ainda não havia visto neles: Preocupação.
Victor: quando exatamente você iria me contar? - ele disse, olhando diretamente em meus olhos mesmo que distante. Eu engoli seco. O que eu deveria ter lhe contado? E porque eu contaria?
Babi: do que está falando? - perguntei, me levantando e indo ate mais perto. Ele continuou ali, estático.
Ele não disse mais nada, só me encarava enquanto milhões de coisas passavam por minha mente. Até que ele caminhou lentamente até a mim. Parando a poucos centímetros de meu corpo. A palma de suas mãos encontrou a pele arrepiada dos meus braços, ele deslizou até pararem em minhas mãos geladas. Apertando-as levemente.
Victor: Bárbara, eu... eu... - eu não vi, hora alguma, Victor travar desse jeito. Tanto comigo, tanto com seus amigos. Seja qual for a coisa que ele havia descoberto, estava começando a me deixar desconfortável - eu li seu relatório de traumas.Babi: como você teve acesso a isso? - foi como um choque. Tudo o que eu guardava as sete chaves estava naquele maldito relatório que tive que fazer. Tudo. Todas as minhas inseguranças e vivências traumáticas estavam ali. Ele não tinha esse direito.
Victor: eu estava atrás de informações sobre seu pai - fechei meus olhos mantendo meu autocontrole. É claro que ele faria isso.
Babi: está feliz com o que encontrou? Isso por acaso te deu alguma informação útil sobre aquele cara? - talvez eu não tenha conseguido manter totalmente meu autocontrole.
Victor: na verdade, isso me ajudou a entender uma coisa - sua voz era baixa, eu peguei a pontada de remorso que havia nela - eu liguei para ele. Cumpri o meu plano original, mas ele...
Foi fácil entender tudo.
Babi: você tentou me usar como refém e então ele não deu a mínima. Foi isso? - Victor assentiu, me fazendo rir.
Victor: você deveria ter me contado - eu tirei suas mãos de mim, me afastando.
Babi: eu devia? Contar que minha única "familia" viva é justamente a pessoa que mais menosprezo nesse mundo? Oh, claro, eu deveria ter te contado que a pessoa que deveria ser responsável por mim, na verdade, conseguiu fazer o oposto e se tornar o meu maior perigo? - algumas lagrimas rolaram pelo meu rosto, eu não as impedi dessa vez - eu realmente deveria ter te contado. Mas acho que agora você já sabe sobre todas as vezes que fui humilhada e machucada. Todas as vezes pelo mesmo homem. Por nada.
Quando as palavras saíram da minha boca, meus joelhos perderam a força quando todas as lembranças vieram a tona. Tudo o que eu havia deixado escondido no fundo da memória ganhou vida. Eu pude sentir novamente cada sentimento, de cada momento ruim que tive.Eu chorei, deixei tudo sair sem me importar com Victor na minha frente me vendo totalmente vulnerável.
Victor: eu não imaginava que seu pai fosse... - ele tentou se explicar, mas eu não o deixei terminar.
Babi: ele não é meu pai. Nunca foi, passou longe de ser - minha voz era baixa, quase como um sussurro entre os soluços de choro - eu me envergonharia de ter o sangue dele correndo em minhas veias.
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DANGEROUS TOUCH
FanfictionMais de uma vida envolvida em toda a armadilha friamente calculada. Um perseguidor que não para. Uma policial que não desiste fácil. Quão tênue é a linha que separa a atração da obsessão? Bárbara era recém-formada em advocacia, ocupava um bom cargo...