Capítulo 35: vingança em seu estado mais puro.

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[Barbara Passos]

Tudo estava pronto. Dois carros, cada um com praticamente todo o arsenal de armas que essa casa tinha, em seus porta-malas. E mesmo assim, ainda parecia pouco, pois não sabemos o que vamos encontrar pelo caminho.
Assim que pisamos fora de casa, um vento frio bateu em meu rosto me fazendo arrepiar. Fechei meus olhos tentando me conectar de alguma forma com minha mãe. Precisava de uma luz, sem Victor aqui parecia que tudo estava completamente escuro.
Bak: ele deve estar pelo menos uns 40 minutos a nossa frente — disse abrindo a porta do Audi R8 a sua frente — com essa beleza aqui vai ser fácil alcança-lo — completou, batendo levemente na lataria.
Thaiga: então estão perdendo tempo parados aqui — disse se aproximando de nós, percebi um suspiro profundo deixar seus pulmões — tragam ele de volta.
Todos nós assentimos. Meu coração se apertou quando meus olhos foram para os dela. Sabíamos o que isso significava.
O silêncio que pairou naquele momento antes que todos estivessem no carro mostrava o quão arriscado tudo aquilo era.
Mas não tínhamos escolhas.
Seria nós contra todos eles.
Assim que as portas se fecharam, Bak seguiu o caminho que traçamos. Em seu Audi estavam além dele, Crusher e Carol. No carro de trás era só eu e Mob.
Eles seguiriam bem a frente, sabíamos que em alguma parte do caminho poderíamos perde-los de vista, mas era necessário.
Primeiro Victor, depois João e seus amigos.
E assim se fez, Mob continuou a dirigir pela rota traçada mesmo que não fosse mais possível ver o carro deles a frente. Em determinado momento, mesmo com meu corpo em estado de alerta, dormi. Talvez por conta do estresse repentino ou pelo fato de não ter pregado o olho sequer na última noite.
Com uma das mãos agarradas à pulseira em meu punho, dormi pedindo para quem quer que ouvisse minhas preces, proteger Victor.
Mas o que recebi como resposta foi exatamente o contrário minutos depois.
[...]
Quando o movimento do carro parando bruscamente me despertou, a primeira coisa que vi foi Bak e Crusher parados em frente a um despenhadeiro. Ambos estavam com suas mãos entrelaçadas na cabeça. Eu só conseguia ler expressões dolorosas em seus rostos.
Saí do carro assustada tentando entender a situação.
Crusher me segurou forte me impedindo de aproximar-me mais dali.
Meus olhos pararam sob a moto de Victor quase irreconhecível presa nas raízes de árvores no meio daquele despenhadeiro tão alto.
Mas ele não estava lá.
Na minha mente nesse momento não havia nada a não ser negação. Eu não conseguia, eu não podia acreditar no que aquilo parecia ser.
Babi: ONDE ELE ESTÁ? — gritei em desespero, deixando que as lágrimas rolassem por toda a extensão do meu rosto — DIZ, ONDE ELE ESTÁ? Isso, não, isso não pode significar que ele...
O abraço forte de Bak me silenciou, mas a dor intensa que parecia dilacerar meu peito agora não tinha mais como parar.
Meus joelhos perderam a força e então eu caí completamente despedaçada naquele chão coberto por terra. Envolvi meus braços em meu corpo como se isso, de alguma forma, fosse me manter inteira. Como se, caso eu me abraçasse com força o bastante, aquela dor não conseguiria entrar em mim.
Mas ela entrou.
E os espaços vazios em mim de repente estavam cheios de culpa das quais eu nunca esqueceria e, claro, da ausência dele. Não havia nada a ser feito a não ser chorar.
O choro fluía de mim, lento e constante, erguendo-se com a maré e levando embora tudo que eu tinha amado no tempo em que passamos juntos.
Haviam marcas de pneus por toda a parte.
Bak: não conseguimos impedir — disse finalmente quebrando todo o silêncio naquele lugar, era possível apenas ouvir meu choro agonizante naquele momento.
Babi: impedir o que? — perguntei quase como um sussurro em meio a tantas lágrimas que insistiam em descer.
Crusher: havíamos conseguido alcançar Victor — disse se aproximando com suas mãos unidas atrás de sua nuca — mas não o bastante para parar-lo — nada fazia sentido ainda — dois carros blindados surgiram do atalho logo atrás, tentamos atirar, mas nenhuma das balas penetraram os carros. Eles sabiam que Victor estava bem a frente.
Minha respiração tornou-se ainda mais tensa com tudo aquilo, sentia meu corpo inteiro dormente, como se eu pudesse simplesmente sumir naquele momento.
Era meu maior desejo.
Carol: eles alcançaram Victor. Toda a velocidade que colocamos não foi necessária parar impedir que o jogassem brutalmente contra aquele despenhadeiro — os olhos de Carol estavam tomados pela cor vermelha, ela mal conseguia falar — vimos tudo acontecer diante de nossos olhos, e mesmo assim não conseguimos acha-lo.
Não era real. Ou pelo menos não parecia ser em minha cabeça.
Eu sabia que esse grupo poderia ser cruel e sanguinário, mas isso, isso era a pior coisa que poderia acontecer.
Eu não imaginava perde-lo assim.
E então tudo, exatamente tudo que vivi nos meus últimos anos com João, nem todas as ofensas, feridas e a morte dela conseguiram despertar o sentimento mais puro de vingança que eu nutria a cada palavra que eu escutava de meus companheiros, como agora.
Meu sangue estava correndo em minhas veias da forma que nunca correu.
Ódio.
Era só... ódio.
Eles pagariam por toda a dor que me causaram, e principalmente, a essa família.

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora