[Victor Augusto]
Bárbara mais do que ninguém sabia quando estava sendo observada. Sem contestar, liguei a moto e arranquei em velocidade quando ela se agarrou forte em mim.
Quando propus saírmos, só nós dois, sem ao menos avisar outra pessoa da casa, essa situação era a que eu menos queria que acontecesse. Eu sabia que estavam de olho, principalmente em nós dois. Um risco que tivemos que correr. Pisamos em falso.
Victor: na minha cintura - eu gritei para que ela conseguisse me escutar mesmo com o capacete - minha taurus está presa ao cinto.
No segundo seguinte senti suas mãos geladas adentrarem meu casaco e desenganchar meu revólver dali. Mesmo com o barulho alto do vento, eu pude escutar Bárbara engatilhar ela. Eu esperava não precisar usa-lo em alguém. Não hoje.
Aumentando gradativamente a velocidade, o ponteiro já indicava 100 km/h. Pelo retrovisor, vi surgir ao longe um sedan preto. Seus vidros escuros não me davam a visão de quem estava ali, mas eu sabia, Henrique não daria o ar da graça tão facilmente.
Entramos na contramão para desviar do caminho em que eles estavam, mas um de seus caras nos seguiu. Minha única escolha estava bem a frente, seguir reto e bater contra vários carros estacionados ou entrar no beco que saía completamente do nosso trajeto, nos distanciando ainda mais do único lugar em que poderíamos ter as guardas baixas.
Victor: quando eu virar naquela rua, atire na moto de um deles - gritei - não erre, Bárbara.
Eu sabia que ela não erraria. Assim que joguei meu corpo para o lado e entramos naquela rua, um disparo foi feito. No instante seguinte a moto de um dos caras perdeu o controle com seu pneu estourado. As duas se colidiram, nos fazendo ganhar alguns quilômetros a frente. E tempo, era o que precisávamos. Essa era a minha garota.
As mãos geladas de Bárbara se agarram novamente ao meu tronco quando voltei a acelerar. Agora sem sinal algum deles, guiei por ruas mais afastadas até chegar na parte de trás do nosso porto seguro. O carro de Crusher estava estacionado ao lado da moto que Bak usava nos trabalhos. Um suspiro de alívio se soltou do meu pulmão sem que eu pudesse perceber.
Quando estacionei, retirei meu capacete finalmente encarando o olhar ainda tenso de Bárbara. Ela não disse nada, mas seus olhos foram capaz de ler que, mesmo que eu não quisesse demonstrar, também estava tenso. Muito mais do que já fiquei na vida. E o problema disso tudo? Não era com a minha vida que eu estava preocupado. Era única e especialmente, com ela.
Por alguns segundos depois que ela saiu dali, meu pulso se acelerou.
Foi arriscado demais.
Eles não deixariam barato na próxima.
Sorri. - não haverá a porra de uma próxima vez - rosnei, descendo finalmente da moto.
[...]
Quando meu corpo finalmente pareceu ter se recuperado da descarga de adrenalina de mais cedo, pedi para que Gabriel fosse ao meu escritório.
Pouco depois ele obedeceu, batendo na porta uma única vez. Como acostumado.
Bak: vocês saíram. Tem ideia da merda que vocês dois poderiam ter caído? - ja havia previsto seu sermão. Bak era minucioso, não errava. Não tolerava erros também - desde que ela chegou você se tornou irracional. Está se colocando em perigo por um rabo, Vitor? Você já foi melhor.
Meus olhos que antes estavam no copo de uísque na minha mão, se voltaram para o rosto do homem a minha frente. Minha mandíbula travou no mesmo segundo em que terminou de dizer. Me surpreendi por não ter quebrado o vidro entre meus dedos.
Victor: acha que não sei o que estou fazendo, amigo? - indaguei, me levantando da mesa. Segui em sua direção bebendo um bom gole do líquido amarelado. Meus olhos estavam sob os seus - quero que me diga se, em todo esse tempo, eu cometi algum deslize que colocasse a casa abaixo.
Bak: o problema aqui é... - minha risada sarcástica o interrompeu.
Victor: não há nenhum problema, Gabriel - meu semblante se fechou no mesmo instante, retomando o olhar frio e irritado de antes. Deixando o copo novamente sob a mesa, atravessei a sala empurrando Bak para a parede logo atrás, forçando com meu punho seu rosto permanecer erguido enquanto eu terminava de dizer - sua função aqui dentro é ser meu braço direito, e isso não inclui me dizer o que devo ou não fazer - sua postura ficou rígida - preste bem atenção no que vou lhe falar. Bárbara não está abaixo de ninguém aqui dentro. Todos estamos no mesmo nível. Ela é tão boa como qualquer outro aqui, então não. Não é qualquer rabo, ela é uma de nós. E protegemos nossa família. Espero que tenha entendido bem essa parte.
Bak permaneceu quieto quando o soltei. O semblante fechado ainda me encarava. Essa era sua forma de não concordar, mas absorver cada palavra que escutou.
Victor: não autorize a saída de nenhum de nós por enquanto. Deixe as cobranças em segundo plano. Entendido? - de canto do olho, pude ver Bak assentir e logo depois deixar a sala.
Um suspiro pesado se soltou, me fazendo coçar a testa.
Isso precisa ter um fim. Rápido.
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DANGEROUS TOUCH
FanfictionMais de uma vida envolvida em toda a armadilha friamente calculada. Um perseguidor que não para. Uma policial que não desiste fácil. Quão tênue é a linha que separa a atração da obsessão? Bárbara era recém-formada em advocacia, ocupava um bom cargo...